Chefe da "secreta" alemã alerta para ciberataques russos

"A Europa está no centro destas tentativas de desestabilização", disse Bruno Kahl.

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AFP/TOBIAS SCHWARZ

Um dia após o ataque informático contra o principal operador de telecomunicações alemão, a Deutsche Telekom, o chefe dos serviços secretos alemães, Bruno Kahl, alertou nesta terça-feira para a eventual multiplicação de ciberataques oriundos da Rússia com o fim de desestabilizar o país, que se prepara para as eleições legislativas do próximo ano.

“A Europa está no centro destas tentativas de desestabilização e a Alemanha em particular”, defendeu Bruno Kahl, em entrevista ao jornal diário de Munique Sueddeutsche Zeitung, no rescaldo do ataque contra a Deutsche Telekom, que afectou as ligações à internet de quase um milhão de clientes.

Há “indícios de que os ataques informáticos se realizam com o único objectivo de criar incerteza política”, afirmou Kahl, asseverando que existem “elementos” que apontam para a Rússia como país de origem destes ataques. Apesar de ser "tecnicamente difícil" culpar “um actor estatal” por estes actos, defendeu que vários elementos indicam que “são, pelo menos, tolerados ou desejados por um Estado”. Esta é  “uma forma de pressão exercida sobre o debate público e sobre a democracia que não é tolerável”, acentuou.

Bruno Kahl junta-se a um grupo de personalidades que têm vindo a expressar, nos últimos tempos, a sua preocupação relativamente à interferência russa. Esta terça-feira, a chanceler alemã Angela Merkel defendeu mesmo que a Alemanha deve aprender a lidar com os ataques informáticos provenientes da Rússia, que fazem agora parte do quotidiano. No início deste mês, a chanceler fora já contundente, ao alertar para as tentativas de desinformação e de pirataria oriundas da Rússia, tendo como alvo as próximas legislativas, em que vai disputar um quarto mandato.

O gabinete federal de segurança informática alemão adiantou, entretanto, que o ataque contra a Deutsche Telekom afectou igualmente redes da administração governamental alemã, mas que os efeitos acabaram por ser contrariados graças às medidas de protecção existentes.

“O malware [software desenvolvido com fins maliciosos] estava mal programado, não fez aquilo para que foi criado, caso contrário as consequências teriam sido muito mais graves”, explicou o porta-voz da empresa, Georg von Wagner, citado pela Agência France Presse. "Malware", do inglês “malicious software” destina-se a permitir infiltrações no sistema de um computador alheio de forma a provocar danos, alterações ou roubo de informações.

Especialistas em segurança informática citados pelo diário berlinense Tagesspiegel consideram que o ataque contra Deutsche Telekom teria "dois objectivos", o de mostrar a fragilidade de uma grande empresa e o de preparar uma ofensiva em "escala maior".

No passado, diversos partidos políticos alemães e também a câmara dos deputados (Bundestag) foram alvo de ataques informáticos, os quais acabaram por ser atribuídos, na maior parte dos casos, à Rússia.

Em Maio, o serviço de inteligência alemão já tinha acusado o Governo russo de liderar campanhas internacionais de ciberataques para espionagem e sabotagem, aludindo a uma "guerra híbrida" orquestrada por Moscovo desde há "sete ou 11 anos" e, no início de Outubro, o ministério da Defesa anunciou a criação de um departamento de cibernética para organizar uma resposta.

Antes das eleições presidenciais norte-americanas, as autoridades dos Estados Unidos acusaram a Rússia de aceder ao correio electrónico do Partido Democrata, o que foi negado por Moscovo.

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