Poluição atmosférica mata 6700 por ano em Portugal

Associação Zero chama a atenção para relatório divulgado nesta quarta-feira pela Agência Europeia do Ambiente.

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“Há compostos que chegam até aos pulmões, provocando cancros que não são necessariamente pulmonares”, descreve Francisco Ferreira, dirigente da Zero Paulo Pimenta

A má qualidade do ar causa 6700 mortes prematuras anuais, revela a associação ambientalista Zero, com base em estimativas de um relatório divulgado nesta quarta-feira pela Agência Europeia do Ambiente.

A grande maioria das mortes, mais de seis mil, é provocada por elevadas concentrações das chamadas partículas finas, que tanto originam ou agravam doenças respiratórias e cardio-vasculares como levam também ao surgimento de problemas cancerígenos.

“Há compostos que chegam até aos pulmões, provocando cancros que não são necessariamente pulmonares”, descreve Francisco Ferreira, dirigente da Zero. “Há mesmo compostos poluentes que não são cancerígenos quando entram no organismo e que passam a sê-lo depois de metabolizados pelo fígado.” Os grupos de risco são os habituais: idosos, crianças e aqueles que já padeciam antes de patologias deste género. O ozono mata mais 420 pessoas e o dióxido de azoto, que também causa estragos nas defesas do organismo, outras 150.

“À escala global, a poluição atmosférica mata mais do que os problemas de saneamento”, diz o ambientalista. Em Portugal, acresce às estimativas divulgadas, que se baseiam em dados de 2013, que 2015 foi considerado um mau ano nesta matéria.

“Dados recentemente disponibilizados pela Agência Portuguesa do Ambiente e presentes no site qualar.apambiente.pt mostram que em 2015 houve um conjunto de ultrapassagens significativas de valores-limite da qualidade do ar, principalmente por comparação com o ano de 2014”, explica a Zero em comunicado.

“Verificaram-se 66 excedências ao valor-limite diário de partículas inaláveis na estação de monitorização da qualidade do ar da Avenida da Liberdade, em Lisboa, quando o máximo possível é de 35. Na mesma estação verificou-se a ocorrência de 20 excedências ao valor-limite horário de dióxido de azoto quando o máximo permitido é 18, tendo a média anual registada sido bastante superior ao permitido pela legislação europeia e nacional”, sublinha.

Mas não sucedeu só em Lisboa: esta média foi igualmente ultrapassada no Porto, na estação de Francisco Sá Carneiro-Campanhã e em Braga na estação de monitorização de Frei Bartolomeu Mártires-São Vitor. O aumento do tráfego automóvel é parcialmente responsável pelo sucedido: "A ideia de que a crise terminou e a descida do preço da gasolina e do gasóleo contribuíram para este agravamento", assinala Francisco Ferreira, chamando ainda a atenção para a vulnerabilidade dos ecossistemas em Portugal e em Espanha devido às concentrações de ozono serem “mais elevadas que noutros países europeus.”

Esta quarta-feira o Parlamento Europeu vota nova legislação que actualiza os valores-limite de emissão por país de diversos poluentes. Portugal já atingiu os objectivos previstos para 2020 em relação a quatro dos poluentes. Em relação às metas de 2030, porém, a Zero considera que há ainda muito a fazer, nomeadamente na redução do uso do automóvel, na transformação das centrais de produção de energia eléctrica – que terão de deixar de usar carvão para passarem a funcionar a gás natural – e na aposta nas energias renováveis.

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