Centro de apoio LGBT nasce no Grande Porto para que não se repita caso Gisberta

O Centro Gis abre na segunda semana de Dezembro em Matosinhos e tem como missão prestar apoio social, psicológico e judicial a toda a comunidade LGBT do distrito.

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MARTIM RAMOS

Na segunda semana de Dezembro nasce no distrito do Porto um centro de apoio LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Trans). O Centro Gis vai funcionar na rua Brito Capelo, em Matosinhos, no edifício da Antiga Câmara. O projecto será coordenado pela Associação Plano i (APi), que esta terça-feira, em Matosinhos, estabelece uma plataforma de colaboração com a Secretaria de Estado para a Cidadania e Igualdade e com a autarquia local, na presença da secretária de Estado, Catarina Marcelino, e do presidente matosinhense, Guilherme Pinto.

Gisberta Salce Junior é um nome de que muitos se devem recordar. Em 2006 morreu dentro de um poço de um prédio abandonado do Porto, na sequência de uma série de sessões de espancamento levadas a cabo, durante dias, por 13 menores institucionalizados. Gisberta era transexual. Trocou o Brasil pela Invicta, onde foi morta aos 45 anos depois de ter sido abandonada num poço a 15 metros de profundidade, ainda viva. Na altura, a mediatização do caso abriu portas ao debate sobre transfobia e trouxe à tona denúncias de vários casos de maus tratos na Oficina São José, que desde 1833 acolhia menores em risco, 11 dos quais envolvidos no caso. Em Março de 2010, a Igreja optou por fechar a valência de acolhimento de menores em risco e anunciou que a Oficina passaria a funcionar como pólo de formação profissional em parceria com o Instituto de Emprego e Formação Profissional.

Passaram 10 anos desde que o caso aconteceu e para a presidente da Api, Sofia Neves, uma das responsáveis pelo projecto, o debate sobre transfobia ainda vai a meio. A designação do centro é, sublinha, uma homenagem à Gisberta, que foi vitima “de um crime bárbaro”, que aconteceu “por ignorância e intolerância”, recorda. No entanto, refere que essa homenagem se estende a todas as vítimas “que diariamente sofreram e sofrem do mesmo ódio”, o que de acordo com Sofia Neves “ainda são muitas”.

Na última década, admite que foram dados alguns passos, nomeadamente legislativos, no sentido de combater a discriminação e os crimes de ódio. O casamento entre pessoas do mesmo sexo foi um desses passos, contudo, entende haver muito por fazer na matéria de apoio a uma população que diz apresentar condições específicas de vulnerabilidade à violência ou à discriminação. Esta lacuna, “sobretudo na zona Norte”, afirma ter sido o ponto de partida para a associação decidir seguir em frente com este projecto, que diz ser pioneiro no distrito do Porto, área de actuação do Centro Gis.

O Centro vai funcionar, a partir do início de Dezembro, com porta aberta, numa das parcelas do edifício Antiga Câmara, para prestar apoio psicológico, social e judicial de forma gratuita a toda a comunidade LGBT.  No entanto, o foco alarga-se a toda a comunidade. Como explica Sofia Neves, o objectivo é também envolver toda a população. Essa abrangência será conseguida com um conjunto de acções articuladas com as escolas e estabelecimentos de ensino superior do distrito, onde serão feitas sessões de sensibilização, no sentido de prevenir a homofobia e a transfobia, abrindo “a mentalidade das gerações mais novas que depois educarão os próprios pais ou os avós”, afirma.   

O Centro Gis, que será financiado pelo Estado, surge após o desafio lançado pela Secretaria de Estado para a Cidadania e Igualdade. O projecto funcionará em instalações cedidas pela Câmara Municipal de Matosinhos à APi, que celebra este mês um ano de actividade. Fundada em Novembro do ano passado, a APi é uma organização sem fins lucrativos, com sede no Porto, de cariz social, que tem como objectivo promover a igualdade através da difusão de discursos e da concretização de práticas de inclusão em várias áreas. No final deste ano arrancam com este novo projecto ao serviço da comunidade LGBT por, de acordo com a presidente da associação, ser urgente “acabar com preconceitos e manifestações de ódio” contra esta população, que “nos dias de hoje ainda é vítima da ignorância e da intolerância”.  

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