Os “anónimos” do Facebook: funcionários juntam-se para combater notícias falsas

Mark Zuckerberg diz que "é um disparate" a ideia de que a rede social tenha influenciado o resultado das presidenciais nos EUA.

Foto
Este fim-de-semana o CEO rejeitou a influência do conteúdo viral partilhado no Facebook Reuters/STEPHEN LAM

De acordo com o Pew Research cerca de metade dos adultos norte-americanos baseiam a sua consulta de notícias no que vêem no Facebook, mas Mark Zuckerberg, que entende a rede social como um distribuidor de conteúdos sem responsabilidade no que é veiculado, diz que a ideia de que as notícias falsas "virais" podem ter sido determinantes para o resultado das eleições norte-americanas "é um disparate".

No entanto, um grupo de funcionários da empresa não concorda com a posição do seu presidente executivo. Sob a condição de anonimato, contaram ao Buzzfeed que estão a trabalhar numa estratégia para combater o fluxo de notícias falsas da rede social, utilizada por mais de 150 milhões de norte-americanos.

“Não é uma ideia disparatada. O que é disparatado é ele vir publicamente rejeitar essa possibilidade quando sabe, e nós na empresa também sabemos, que as notícias falsas foram virais na nossa plataforma durante a campanha”, disse um dos funcionários ao BuzzFeed, alegando existirem pressões para que não se façam comentários sobre o tema à imprensa.

A mesma fonte adianta que existem dezenas de funcionários envolvidos e que na última semana já aconteceram dois encontros. O objectivo é, depois, formalizar os encontros e elaborar uma lista de recomendações dirigida ao CEO do Facebook. Uma outra fonte lembra a intervenção da empresa quando é partilhado conteúdo com nudez e violência, por “não cumprir os critérios da comunidade do Facebook”.

“Se alguém partilha um artigo falso que diz que os Clinton estão a empregar imigrantes ilegais e que incentiva as pessoas a terem atitudes violentas contra os imigrantes ilegais, isso não é perigoso e não é também uma violação dos nossos critérios da comunidade?”, pergunta.

Em Maio deste ano, o Facebook já tinha assumido que interferia nos temas mais populares da rede social. A polémica voltou quando a rede social eliminou a famosa fotografia da criança vietnamita a fugir, nua, após a utilização de uma bomba de napalm. Mais recentemente, o mesmo aconteceu com um vídeo sobre o cancro da mama – as imagens em causa (dois círculos cor-de-rosa) foram consideradas “ofensivas”.

Zeynep Tufekci, uma professora da Universidade da Carolina do Norte e colaboradora do New York Times, escreve que “Mark Zuckerberg está em negação” e sublinha que, apesar de não serem problemas fáceis de resolver, “existe muita coisa que o Facebook poderia fazer”. Entre os exemplos citados está o facto de o Facebook não distinguir entre sites com conteúdos verdadeiros e sites com conteúdos falsos.

Igual opinião tem Mike Butcher. O editor do TechCrunch partilhou no Twitter uma história viral falsa, que foi recuperada nas redes sociais e que nem sequer é recente, para ilustrar o problema.

Esta segunda-feira o título “Bernie Sanders poderá substituir o Presidente Trump com lacuna pouco conhecida”, publicado pelo Huffington Post, pretendia ilustrar como os utilizadores das redes sociais partilham informação sem a ler ou verificar a sua veracidade ou credibilidade.

Apesar de Zuckerber ter afastado a influência do Facebook, não deixou de sublinhar que a empresa se iria empenhar em eliminar as notícias falsas e as fraudes do Facebook. Os funcionários que agora se organizam querem garantir que tal acontece. Fonte do Facebook disse que o grupo não pretende escolher uma posição sobre quem ganhou as eleições, mas sim evitar que qualquer candidato político seja prejudicado por conteúdo falso.

Sugerir correcção
Comentar