Obama na Grécia, Alemanha e Peru – o adeus que é “terapia de grupo”

Deveria ser uma despedida tranquila, em glória até. Mas na cabeça de todos, aliados próximos ou não, estará agora o sucessor, Trump. Os líderes europeus e asiáticos querem ouvir que vai ficar tudo bem.

Fotogaleria
Obama planeou um último périplo internacional muito diferente do que aquele que agora terá AFP PHOTO / Brendan Smialowski
Fotogaleria
REUTERS/Alkis Konstantinidis
Fotogaleria
Barack Obama com o Presidente grego Prokopis Pavlopoulos REUTERS/Alkis Konstantinidis
Fotogaleria
REUTERS/Alkis Konstantinidis
Fotogaleria
REUTERS/Michalis Karagiannis

O plano era uma despedida tranquila, um adeus aos líderes de mais de uma dezena de países, dos aliados mais importantes da sua presidência, como a chanceler alemã, aos políticos de peso mundial com quem teve relações delicadas, como os presidentes da China e da Rússia. Esqueçam os planos. Barack Obama vai à Grécia, Alemanha e Peru, no seu último périplo internacional, e “na mente de toda a gente vai estar a eleição” de Donald Trump, resume o seu conselheiro de Segurança Nacional, Ben Rodhes.

No plano inicial, esta viagem também seria uma espécie de aplauso final do mundo ao Presidente americano, ao líder que representa mudança e esperança de algo melhor, na Europa pós-"Brexit", ainda não refeita da crise das dívidas soberanas, no meio da crise dos refugiados, depois da intervenção da Rússia na Ucrânia, quando Moscovo continua a apoiar Bashar al-Assad e a guerra na Síria continua.

Aliás, para além de muitos encontros, na agenda está um discurso sobre as consequências da globalização e o crescimento do populismo… “Isso vai incluir, francamente, um reconhecimento dos resultados do "Brexit" e dos resultados das nossas eleições”, admitiu o mesmo Rodhes, em declarações aos jornalistas em Washington. O discurso vai acontecer no Pártenon, símbolo da democracia, na quarta-feira.

“Num momento de choque profundo e depressão na Europa – não se esperava que os Estados Unidos elegessem Donald Trump – esta visita tornou-se numa espécie de terapia de grupo na qual os líderes europeus tentaram garantir a si próprios que a América que conhecemos não vai desaparecer”, analisa Josef Joffe, académico da Universidade de Stanford, ouvido pelo The Wall Street Journal. A ideia era que Obama viesse para dizer “’sabem, passámos por tudo isto, mas vai correr tudo bem’”, diz Heather Conley, directora do programa sobre a Europa do think tank Center for Strategic and International Studies.

Agora, claro, Obama terá “a pouco invejável tarefa de explicar”, continua Conley, em declarações ao Los Angeles Times. Mas explicar o quê? Ele, que fez campanha contra o seu sucessor e avisou os eleitores americanos para os riscos de uma presidência Trump? A maioria dos analistas não antecipa que Obama possa adiantar muito. Não pode criticar demasiado Trump nem dar respostas que não tem.

As dúvidas sobre o que fará Trump em relação a tudo o que disse durante a campanha – que iria obrigar os aliados da NATO, e não só, a pagar pela segurança que os EUA oferecem; que pretende rasgar o acordo global sobre o clima que Obama convenceu o Presidente Xi Jinping a assinar… – só o próprio Trump poderá dissipar, quando tomar posse, em Janeiro. Aquilo a que Obama se pode agarrar agora é ao discurso de vitória, quando o Presidente eleito prometeu ser “justo com todos” e procurar “consensos e não hostilidade; parceira e não conflito”.

Também já não será Obama a poder fazer algo para impedir as consequências do “efeito Trump” noutras paragens. Os líderes europeus “estão muito preocupados porque temem as mesmas expressões de nacionalismo, o mesmo populismo, seja no tema da imigração, ou do comércio livre, e claro que há correntes políticas muito fortes dentro da Europa” a defenderem posições comparáveis às de Trump, diz Heather Conley.

Políticas com décadas

Obama chega terça-feira a Atenas e vai reunir-se com Alexis Tsipras, com o Governo de esquerda do primeiro-ministro à espera que o líder dos EUA faça aumentar a pressão sobre os credores para um alívio da dívida. Tanto Obama como o FMI defendem uma restruturação da dívida grega, mas enfrentam resistência de vários países da União Europeia, particularmente da Alemanha. O outro grande tema da passagem pela Grécia será a crise dos refugiados e imigrantes, antes da partida para Berlim, na quarta-feira.

Na Alemanha. Angela Merkel vai receber o aliado (quinta e sexta-feira), mas aí irão também encontrar-se com Obama os líderes do Reino Unido, França, Itália e Espanha. Logo na sexta-feira, o Presidente americano voa para o Peru onde participará numa cimeira dos 21 membros do Fórum de Cooperação Económica da Ásia-Pacífico (APEC, na sigla em inglês).

Se os europeus estarão naturalmente preocupados com a eleição do novo Presidente dos EUA e com o “efeito Trump” nos seus países, os asiáticos, por seu turno, querem saber o que vai acontecer com o acordo de comércio livre (Parceira do Trans-Pacífico ou TPP) que Obama passou anos a defender e que Trump deixou claro que não tenciona apoiar, com o próprio acordo nuclear com o Irão, mas também com o acordo do clima ou com as sugestões dirigidas ao Japão e à Coreia do Sul pelo republicano durante a campanha, quando aconselhou os dois países a obterem armas nucleares.

“Eu deixaria o Presidente eleito e a sua equipa discutirem os seus planos”, afirmou o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, depois do encontro entre Obama e Trump, na quinta-feira. Trump fará, naturalmente, “as suas próprias escolhas”, diz Ben Rodhes, mas alianças como as que unem os EUA ao Japão ou à Coreia do Sul atravessaram inúmeras administrações, democratas e republicanas, sublinhou. “Há certas coisas que duram há décadas.”

Sugerir correcção
Ler 3 comentários