Stephen Bannon: "Uma figura mesmo sinistra" na Casa Branca

Vai ser o principal estratego de Donald Trump e é acusado de racismo, anti-semitismo e misoginia.

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"Preferia que a sua filha tivesse cancro ou feminismo?" ou "Ergam a bandeira sulista" foram títulos do site Breitbart sob direcção de Bannon AFP/MANDEL NGAN

A escolha de Stephen Bannon, de 62 anos, para ser um dos conselheiros mais importantes do próximo Presidente dos Estados Unidos fez soar um coro de preocupações e críticas. Afinal, Bannon dirigiu um site com títulos exaltando a bandeira sulista após um ataque a uma igreja da comunidade negra de Charleston, chamando “judeu renegado” a Bill Kristol, crítico de Donald Trump, acusando a Administração Obama de estar "infiltrada por apoiantes da sharia [lei islâmica]", ou ainda questionando quem o lê: “Preferia que a sua filha tivesse cancro ou feminismo?”

Num artigo de Outubro de 2015, o canal de informação económica Bloomberg não hesitava em classificá-lo como “o operacional político mais perigoso da América”. Isto quando Bannon ainda estava à frente do Breitbart, e nem era claro que o candidato republicano seria Donald Trump.

Antigos colaboradores de Bannon no Breitbart – que deixou para se juntar à campanha de Trump – descrevem-no como “uma figura mesmo sinistra” que lidera um movimento cheio “de racismo e anti-semitismo”. Os líderes estrangeiros mais ouvidos são pessoas como o populista islamófobo Geert Wilders e entre os mais criticados está a chanceler Angela Merkel, por ter deixado entrar refugiados na Alemanha. O Breitbart, diz o Washington Post, tornou-se um site anti-"globalista" claramente alinhado com a extrema-direita europeia. 

A organização judaica Anti-Defamation League (ADL) reagiu à escolha de Bannon: “É um dia triste quando um homem que liderou o primeiro site de ‘alt right’ [direita alternativa, que junta supremacistas brancos e outras visões extremistas] é escolhido para ser um importante membro na ‘casa do povo’”, disse o director executivo do grupo, Jonathan Greenblat.

Bannon tem ainda uma história de apoio a figuras controversas dentro do Partido Republicano (como Sarah Palin) e da direita conservadora (Ann Coulter), assim como de críticas a políticos tradicionais, como John McCain ou Mitt Romney.

O modo como os republicanos reagirão a este feroz crítico do mainstream é ainda uma incógnita. Muitos escolheram apenas referir a escolha de Reince Priebus, o líder do Comité Nacional Republicano (órgão que organiza a campanha eleitoral do partido), esquecendo Bannon.

“Já algum republicano criticou a escolha de um anti-semita para um dos cargos mais importantes da Casa Branca?”, questionou o director de comunicações da Casa Branca de Barack Obama, Dan Pfeiffer. “Quantos lhe telefonaram a dar-lhe os parabéns?”

Bannon foi alvo de palavras duras de John Weaver, que foi conselheiro de McCain e do governador do Ohio, John Kasich. "Só para serem claros, media noticiosos, o próximo Presidente nomeou um racista, anti-semita como co-chefe de gabinete".

Durante a campanha de Trump, soube-se que a ex-mulher de Bannon, que antes o tinha acusado de violência doméstica, mas não compareceu em tribunal no dia do julgamento, lhe imputou afirmações anti-semitas a propósito da escolha do colégio das filhas.

Em sua defesa veio o republicano Newt Gingrich, argumentado que Bannon não poderia ser anti-semita se tinha trabalhado em Hollywood ou na Goldman Sachs – ou seja, no cinema e finanças, duas áreas associadas, por adeptos de teorias da conspiração, ao poder judaico.

Antes de se virar para a política – algo que um dia disse, em entrevista, que nunca faria – Bannon estudou em Georgetown e Harvard, e foi oficial da Marinha. É uma figura imprevisível, mesmo para Trump, que um dia, entrevistado para o Breitbart, disse: "És impossível de decifrar, Steve. Mesmo quem pensar que te conhece está a cometer um erro."

 

 

 

 

 

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