Se não os podes vencer, junta-te a eles

A maior parte dos criadores de borrego no Alentejo vende os seus animais para serem engordados em Espanha, e é o país vizinho que ganha com o abate e comercialização da pele.

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Adriano Miranda

A maior parte dos criadores de borrego no Alentejo está a vender a intermediários portugueses os seus animais para serem engordados em Espanha. Do efectivo enviado, “parte da carne regressa a Portugal para aqui ser vendida”, deixando no país vizinho as mais-valias que resultam “do abate e da comercialização da pele que tem um valor significativo”, diz ao P2 Manuel Madeira, dirigente da Associação de Criadores de Ovinos do Sul (ACOS), com sede em Beja. E acentua: “A produção pulverizada” deixa os produtores nacionais muito vulneráveis aos intermediários, que “aplicam os preços que muito bem entendem e alguns nem pagam o produto que negociaram com os nossos criadores de ovinos”.  

Dados de Agosto de 2016, da Comissão Europeia, indicam que em Espanha o preço do borrego anda à volta de oito euros por quilo de carcaça, mas em Portugal está a quatro euros o quilo. A diferença “é o que os espanhóis vêm cá ganhar”, observa Manuel Madeira, realçando que estes valores revelam a “desorganização dos produtores alentejanos”.  

O dirigente da ACOS enumera outros constrangimentos que estão a afectar a viabilidade do sector. Como, por exemplo, a diferença de preços entre os países que são grandes produtores mundiais, com destaque para a Nova Zelândia que só por si assegura 85% do consumo de borrego na Europa. Os borregos da Nova Zelândia chegam à Europa através do Reino Unido, que, para além de ser o maior produtor europeu de ovinos (27 milhões de exemplares), é também o maior importador no âmbito dos acordos existentes na União Económica e Monetária. Mas com o “Brexit”, que ditou a saída do Reino Unido da União Europeia, a Espanha posiciona-se como o maior produtor europeu: cerca de 16 milhões de cabeças de gado. Portugal fica-se pelos 2 milhões de ovinos.

“Temos de ter uma abordagem realista ao problema. Se não os podes vencer (aos espanhóis), junta-te a eles”, advoga Manuel Madeira, realçando a importância de “queimar” algumas etapas que já foram percorridas pelos produtores do país vizinho, para “aprender com o seu know how” na produção de borrego.

O dirigente da ACOS chama ainda a atenção para as consequências do contraste entre o modelo agrícola que está a surgir com o Alqueva, recordando como a avinicultura é importante para 85% do território alentejano que não é irrigado, quando se sabe que a maior parte desta área “são terrenos marginais, onde só prevalecem a pecuária, a caça, a apicultura e pouco mais”, remata.

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