Democratas sonham com o Senado, republicanos seguram maioria no Congresso

O partido de Hillary Clinton precisa de conquistar quatro lugares aos seus adversários republicanos para mudar o balanço de forças. Na Câmara de Representantes, a bancada conservadora continuará a predominar.

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Os republicanos dominam o Senado e a Câmara dos Representantes Reuters

Aquilo que parecia impensável no arranque da temporada das eleições primárias, no já longínquo mês de Janeiro, poderá afinal estar ao alcance do Partido Democrata esta terça-feira: recuperar a maioria no Senado, perdida em 2010 para os republicanos depois de um combate político brutal para aprovar a lei de reforma do sistema de saúde que ficou conhecida como Obamacare.

Para prevalecer na câmara alta do Congresso, os democratas precisam de conquistar quatro ou cinco lugares actualmente ocupados por republicanos – quatro se Hillary Clinton for eleita Presidente, e cinco se for Donald Trump. Do total de 100 assentos do Senado, há 34 em disputa (Nota: a cada ciclo eleitoral, só um terço dos lugares vão a votos porque os mandatos são de seis anos), dos quais 24 são ocupados por republicanos e dez por democratas. As sondagens mostram que os senadores democratas têm a reeleição garantida, mas no lado dos republicanos, só 14 lugares estão assegurados.

Os analistas reduzem o duelo a seis estados – Indiana, Missouri, New Hampshire, Carolina do Norte, Pensilvânia e Wisconsin – onde as corridas são mais “competitivas”. Em três, os democratas surgem com uma ligeira vantagem. Nas outras três, o final será ao photo-finish. Tendo em conta que a maior parte dos eleitores costuma escolher os candidatos do mesmo partido ao longo do boletim de voto, o sucesso ou fracasso dos concorrentes ao Senado está, tal como os candidatos à Casa Branca, muito dependente da taxa de participação: uma abstenção mais elevada teoricamente favorece os republicanos que lutam pela reeleição; um grande afluxo às urnas dos blocos que compõem a coligação eleitoral de Hillary Clinton (jovens e profissionais liberais com cursos superiores, mulheres, afro-americanos e hispânicos) será um bom sinal para os democratas.

Na véspera da eleição, os modelos que simulam resultados espelhavam a imprevisibilidade do desfecho. A última sondagem NBC News/Wall Street Journal dava aos democratas uma vantagem de 47% para os 44% dos republicanos. No FiveThirtyEight e no Upshot do The New York Times, a probabilidade de uma nova maioria democrata no Senado era de 53%, o que quer dizer que tudo é possível.

Mas no RealClearPolitics, a previsão já era de que os democratas falharão por um lugar – segundo os analistas, foi no combate pelo Senado que a intervenção do FBI (com a reabertura do inquérito aos e-mails de Hillary Clinton) teve um efeito mais devastador, porque a diferença entre os candidatos não era tão grande como na corrida presidencial, e porque os senadores republicanos não são tão impopulares quanto Donald Trump.

O panorama é bastante diferente no que diz respeito à Câmara de Representantes, onde a bancada republicana tem o seu predomínio garantido até 2017. É possível que a sua actual maioria de 246 lugares encolha ligeiramente (para 228), mas o que será mais interessante perceber, assim que for clara a recomposição para a futura legislatura, é qual será a tendência da bancada conservadora: vai mais para a insurreição “trumpista” e para o chamado caucus da liberdade, constituído pelos legisladores afectos ao Tea Party, ou os congressistas mais ligados à política convencional recuperarão algum espaço de manobra?

Se o número de apoiantes de Donald Trump for significativo, o actual Speaker do Congresso, Paul Ryan, fica numa posição algo desconfortável se a sua ideia for manter o cargo como o líder dos republicanos no Capitólio. Depois de se ter afastado da campanha presidencial de Donald Trump, poderá ter de responder à ala populista de fiéis, que não exclui a hipótese de apresentar um nome alternativo ao de Ryan para liderar a bancada e marcar a agenda do Congresso.

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