Sem oposição, Ortega reeleito Presidente da Nicarágua

Antigo guerrilheiro dá sinais de estar já a preparar a sucessão, que pode passar pela sua mulher.

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Daniel Ortega e a mulher, Rosario Murillo, que se tornou sua vice Reuters/POOL

Daniel Ortega foi reeleito Presidente da Nicarágua para um terceiro mandato consecutivo nas eleições de domingo. O ex-guerrilheiro sandinista venceu sem grande oposição, reforçou o seu poder e colocou a mulher na linha de sucessão.

O resultado era mais do que esperado, uma vez que a oposição à Frente de Libertação Nacional Sandinista boicotou as eleições e resumiu a sua campanha a apelos à abstenção. Segundo os dirigentes da Frente Ampla para a Democracia, que congrega vários partidos da oposição, a abstenção terá superado os 70%, mas o presidente do Tribunal Eleitoral, Roberto Rivas, revelou que a participação chegou a 65%.

Com cerca de 21% dos votos contados, Ortega liderava a contagem com 71%, diz o El País. Os resultados finais são revelados ao final do dia, informou Rivas.

Com a vitória anunciada, Ortega vê a sua liderança legitimada perante a impotência da oposição. O homem que governa a Nicarágua com mão-de-ferro desde 2006 é acusado de asfixiar os críticos e de não ter pruridos em exercer o seu controlo sobre as instituições do Estado para não dar espaço a vozes dissonantes.

Em Junho, por exemplo, o Supremo Tribunal destituiu o líder do Partido Liberal Independente e substituiu-o por um político pouco relevante, que muitos críticos de Ortega disseram ser apenas um dirigente de fachada. Esta decisão está na origem do boicote da oposição às eleições presidenciais.

Ortega concorreu às eleições na companhia da sua mulher, Rosario Murillo, que será vice-presidente. O casal presidencial tem partilhado cada vez mais o poder nos últimos anos, num sinal de que Ortega pode estar já a preparar o caminho para a sua sucessão. “Eles criaram uma ditadura dinástica. Passámos por isto com os Somozas, foi contra isso que lutámos”, disse à revista America’s Quarterly a fundadora do Movimento de Renovação Sandinista, Dora Téllez, referindo-se à ditadura da família Somoza que governou a Nicarágua entre 1934 e 1979. Foram derrubados por um golpe militar que contou com a participação de Ortega.

Apesar de todas as acusações de autoritarismo e repressão, o antigo guerrilheiro goza de grande popularidade no país. Depois de um período, entre 1985 e 1990, em que governou a Nicarágua à frente de uma junta militar, na sua segunda passagem pelo poder, iniciada em 2006, Ortega assumiu uma postura mais pragmática.

É sobretudo a partir do plano económico que a sua popularidade assenta. Através de uma combinação de políticas que o comandante dos anos 1980 não hesitaria em apelidar de capitalistas e de um amplo programa social, a Nicarágua tem conhecido um crescimento económico sem precedentes. Desde 2011 que a economia tem crescido acima dos 5% por ano e a população atingida pela pobreza caiu de 42,5% para 29,6%. A criminalidade também tem sido reduzida, ao contrário do que acontece em países vizinhos como El Salvador.

Porém, o crescimento económico da Nicarágua foi alimentado em grande parte pelo apoio dado pela Venezuela, sendo provável que a crise económica que se abate sobre o país sul-americano venha a ter repercussões negativas em Manágua.

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