Perícia psiquiátrica feita ao suspeito há uns anos aponta para sociopatia

Avaliação pedida pelo Ministério Público pretendia apurar se o arguido, visado num processo de violência doméstica, era inimputável ou perigoso.

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HS Hugo Santos

Uma perícia psiquiátrica realizada entre 2009 e 2010, no âmbito de um processo de violência doméstica em que Pedro João Dias acabou por ser condenado, aponta sinais de sociopatia no arguido, uma perturbação da personalidade caracterizada por um egocentrismo intenso e por uma incapacidade de sentir empatia pelos outros. 

A perícia foi pedida pelo Ministério Público de Aveiro e realizada pelo Gabinete de Psiquiatria Forense do Hospital Infante D. Pedro, em Aveiro, que realizou um teste de personalidade, um electroencefalograma e uma TAC craneo-encefálica a Pedro João Dias.

Os dois últimos exames mostraram-se normais, enquanto o primeiro apontou para sociopatia. O perito, o psiquiatra Alexandre Rei, indica que o examinado colocou em causa a validade do próprio teste de personalidade - Inventário Multifásico de Personalidade de Minnesota - e demonstrou esforço no sentido de manipular os resultados do exame, quer ocultando informação quer mentindo. "Apesar desses esforços, a escala clínica que se apresenta acima da média é a da sociopatia, habitualmente caracterizada por instabilidade emocional, irresponsabilidade, potencial agressão social e interpessoal, impulsividade, intolerância a frustração, boas capacidades no relacionamento social, mas egoísta, exigente, explosivo e de pouca confiança, com relações com superficialidade, ausência de compromisso e rebeldia contra as regras, a autoridade e as convenções", lê-se na perícia. E continua-se: "Indivíduos com traços dissociais (sociopatia) de personalidade podem ter um bom desempenho na área pessoal, familiar, social e ocupacional, manifestando-se unicamente as características maladapatativas da personalidade em acontecimentos e circunstâncias especialmente significativos para o indivíduo e especialmente geradoras de tensão psíquica interna".

O perito refere que "os restantes testes e avaliações encontram-se dentro da normalidade, não evidenciando doença mental activa".

O objectivo da perícia era determinar se o arguido era inimputável e, em caso afirmativo, se era perigoso. O perito exclui a inimputabilidade de Pedro João Dias relativamente aos factos associados à violência doméstica, concluindo que o examinado apresenta uma personalidade com traços anti-sociais predominantes. Nas conclusões, o psiquiatra escreve ainda que em circunstâncias geradoras de tensão psíquica interna o visado "pode beneficiar, se motivado, de acompanhamento psicoterapêutico e/ou psicofarmacológico'’.         

Apesar de não ter analisado Pedro João Dias, Rui Abrunhosa Gonçalves, professor de Psicologia Forense na Universidade do Minho, considera que face aos factos que são o conhecimento público "tudo indica que o suspeito se trata de um psicopata". O professor universitário sustenta a opinião no modo como os crimes de Aguiar da Beira foram cometidos. "A morte destas pessoas foi de alguma forma gratuita. Não seria necessário matá-las para conseguir fugir", argumenta o especialista. Isto a confirmar-se a versão dos factos que tem sido apresentada pelas autoridades. Rui Abrunhosa Gonçalves sublinha que este tipo de indivíduos são normalmente muito charmosos na conversa, muito cativantes, mas são incapazes de sentir empatia pelo outro, demonstrando superficialidade afectiva e grande frieza emocional. "São pessoas com uma história de vida complicada, com os problemas a começarem na escola, mas muitas vezes são encobertas no seio da família”, remata.

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