Tom Cruise a ser Tom Cruise

Nonchalance é conceito que não existe no léxico de Cruise. O que podia ser um filme de aventuras desopilante - Nunca voltes - acaba afundado numa gravidade contra-producente.

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Filme repleto da psicologia amargurada, sisuda e sofredora, e no limite sentimentalista, com que Tom Cruise gosta de se retratar
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O título parece ironia, tratando-se de uma sequela (de Jack Reacher, filme de 2012), mas depois o filme não tem nenhuma. Nunca voltes, mas “voltar” é quase tudo o que Tom Cruise, que já vai em cinco Missão Impossível e agora em dois Jack Reacher, tem feito nos últimos tempos. O primeiro Jack Reacher tinha sido realizado por Christopher McQuarrie, que depois realizou o quinto Missão Impossível, que era bastante divertido e bastante inventivo. Assinalamo-lo para salientar o parentesco entre as duas séries para além da presença de Tom Cruise, mas também para relevar o problema óbvio: se Cruise já tem uma figura de action hero bem estabelecida, como diferenciar Ethan Hunt (a personagem de Missão Impossível) de Jack Reacher?

A resposta parece ser: sendo ainda mais Tom Cruise. O carácter aventuroso, quase puramente lúdico, da primeira série, com as suas sequências-problema cuidadosamente delineadas, é aqui substituído por uma “acção” mais old school, mais dependente de tiroteios, pancadaria e explosões, nos melhores momentos reminiscente dos filmes de acção dos anos 80 e 90, que é de resto de onde vem o realizador Edward Zwick, um sobrevivente desses tempos (mesmo se o toque, com alguma graça, de filmes como Glory ou Coragem Debaixo de Fogo, pareça definitivamente perdido). Mas também é repleto daquela psicologia amargurada, muito sisuda e muito sofredora, e no limite muito sentimentalista, com que Tom Cruise gosta de se retratar, e para que a personagem de Ethan Hunt não deixa muito espaço. Perdida a espontaneidade do primeiro Jack Reacher, essa característica sobressai na sequela, o pragmatismo assaltado por pormenores no desenho da personagem que no fundo não adiantam nem atrasam – o carácter marginal e martirizado da personagem, a sombra de um passado familiar perdido (o tema da “paternidade” lançado pela personagem da miúda adolescente). Tudo isso soa a déja vu, como se a preocupação em esculpir uma identidade própria para Jack Reacher acabasse por trazer à tona mais do mesmo, quer dizer, mais Tom Cruise. Como, ao contrário do que acontece com Bruce Willis, nonchalance é um conceito que não existe no léxico de Cruise, o filme parece ter sempre um peso desmedido, um pathos desproporcionado, e o que podia ser um filme de aventuras desopilante e prazeiroso acaba, apesar da relativa competência das cenas de acção, afundado numa gravidade contra-producente.

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