Presidente do Instituto Português do Sangue demite-se

Proibição de dádiva por homo e bissexuais gerou polémica no seu mandato.

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Miguel Madeira

O presidente do Instituto Português do Sangue e da Transplantação, Hélder Trindade, demitiu-se. Segundo o Ministério da Saúde, que confirmou a demissão, a saída é motivada por “razões pessoais”.

Perito em transplantes, estava neste cargo desde 2011, tendo declarações suas sobre a dádiva de sangue por homossexuais e bissexuais levado o Bloco de Esquerda a pedir a sua demissão no ano passado. “Tenho um critério para o heterossexual e outro diferente para o homossexual que tem coito anal, porque na população homossexual existe uma prevalência elevadíssima de VIH”, argumentou em Abril passado, à saída de uma audição na comissão parlamentar de saúde. Aquele responsável só admitia dádivas de homo e bissexuais que se declarassem abstinentes.

Neste momento, a Direcção-Geral da Saúde prepara-se para publicar uma norma de orientação clínica que põe fim, ainda que apenas de forma parcial, à proibição. Quem tenha tido “contacto sexual” com trabalhadores do sexo ou indivíduos homo e bissexuais passa a poder candidatar-se à dádiva de sangue a partir do momento em que tenha decorrido um ano sobre essa ocorrência -  independentemente de qual seja a sua orientação sexual.

As regras de triagem dos dadores actualmente ainda em vigor não são oficiais: constam de um manual de 2014 do Instituto Português do Sangue. E deverão manter-se até pelo menos 2017, uma vez que os prazos de entrada em vigor das normas clínicas daquela direcção-geral impedem qualquer novidade até ao fim do ano – apesar de, nos últimos anos, o número de dadores e de dádivas ter vindo a diminuir de forma drástica. Segundo números oficiais, o instituto passou de cerca de 250 mil dádivas, em 2009, para menos de 194 mil no ano passado – enquanto as colheitas de órgãos, pelo contrário, atingiram um número recorde em 2015.

Hélder Fernando Branco Trindade nasceu em 1953 e licenciou-se em Medicina em 1978, pela Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa. Em 1982, especializou-se em imuno-hemoterapia. Coordenou a revisão das normas de selecção do par dador-receptor em transplantação renal entre 2007 e 2008. 

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