Moreira da Silva nunca pensou que Mariana Mortágua se convertesse em "ministra das Finanças"

O social-democrata criticou o facto de a bloquista agir como ministra das Finanças do Governo. Também o vice-presidente do CDS-PP reagiu às declarações de Mortágua na rentrée do PS.

Foto
PSD e CDS criticam o protagonismo de Mariana Mortágua Nuno Ferreira Santos

O vice-presidente do PSD Jorge Moreira da Silva admitiu hoje que nunca pensou que a deputada do BE Mariana Mortágua se convertesse na ministra das Finanças do Governo PS, sublinhando que é necessário reformar e não "sirizar".

"Na campanha eleitoral afirmei que não podíamos correr o risco de termos Jerónimo de Sousa e Catarina Martins como vice-primeiros-ministros (…), nunca me passou pela cabeça que Mariana Mortágua se convertesse verdadeiramente na ministra das Finanças deste Governo", afirmou Jorge Moreira da Silva, quando questionado sobre o desafio feito no Sábado ao PS pela deputada do BE para que reflectisse e definisse até que ponto está disposto a chegar para se assumir como uma alternativa global ao sistema capitalista.

Considerando que o protagonismo de Mariana Mortágua diz muito sobre a estratégia de responsabilidade orçamental e desenvolvimento económico que o actual Governo promove, o vice-presidente do PSD defendeu que o que é necessário é reformar e ultrapassar obstáculos estruturais e não "sirizar"(referindo-se ao Syriza, partido da esquerda radical que governa na Grécia). "Espero que o PS pondere seriamente relativamente à estratégia que quer prosseguir, os portugueses não merecem ser colocados perante uma circunstância como esta, que é ter uma estratégia de desenvolvimento económico e de responsabilidade orçamental que é na prática anacrónica, que nos faz recuar à causa da crise", sublinhou Jorge Moreira da Silva, que falava aos jornalistas no final de uma conferência de imprensa conjunta com o CDS-PP no Parlamento sobre a criação do Sistema Nacional de Informação Cadastral.

Interrogado ainda sobre a posição do PSD acerca do sigilo bancário, o vice-presidente social-democrata recordou que a posição do partido é já conhecida, sublinhando que o importante é a formulação de um modelo de responsabilidade orçamental e de crescimento económico. "O que é importante é que em vez de andarmos todos os dias e todas as semanas com o anúncio de novos impostos e de novas medidas punitivas relativamente aos contribuintes, que se formule um modelo de responsabilidade orçamental e de crescimento económico e que, em sede de Orçamento do Estado, o Governo apresente a sua visão", declarou, lamentando os "anúncios e recuos" e as "informações dispersas" que têm surgido nas últimas semanas e que "geram enorme preocupação aos portugueses".

CDS concorda com PSD

Também o CDS não gostou de ouvir a deputada Mariana Mortágua dizer, na conferência de rentrée do PS, em Coimbra, que é preciso desenvolver uma política social que vá buscar dinheiro aos que mais o acumulam. A frase exacta da deputada bloquista foi: "Do ponto de vista prático, a primeira coisa que temos de fazer é perder a vergonha de ir buscar a quem está a acumular dinheiro".

Mariana Mortágua falava no Convento de São Francisco, num debate o debate sobre as Esquerdas e a desigualdade, e disse ainda: "Não podemos ter vergonha de ter uma política social deste género. Cabe ao PS que, se quer pensar as desigualdades, dizer o que é que pensa do sistema económico, do capitalismo financeirizado", concluiu.

Ao PÚBLICO, Adolfo Mesquita Nunes, do CDS, logo se questionou sobre se o excessivo protagonismo do Bloco não causará embaraço ao PS. "O CDS pergunta, por isso, ao PS o seguinte: vai perder a vergonha, continuando a dar protagonismo ao Bloco, ou vai ficar embaraçado?"

O vice-presidente do CDS desconstrói os argumentos do Bloco: "O BE pede ao PS que perca a vergonha de ir tributar quem acumula dinheiro, ou seja, quem poupa. O BE pede assim ao PS que perca a vergonha de ir tributar aqueles que, pagos os seus impostos, cumpridas as suas obrigações, consegue, ainda assim, depois de anos de trabalho, pôr algum de lado, para comprar uma casa, acautelar a reforma, estudar, deixar aos filhos, investir ou criar postos de trabalho", recorda o centristas.

"Num país sem poupanças", acrescenta, "o BE pede ao PS que perca a vergonha de ir tributar não os rendimentos mais elevados, não os consumos de luxo, mas as poupanças daqueles que aforram".

O protagonismo do Bloco também foi criticado pelo autarca Rui Moreira, a propósito do caso do anúncio de um novo imposto sobre o património imobiliário. "Não é normal que os novos impostos sejam anunciados em público por partidos que não fazem parte do Governo. é uma demissão incompreensível do homem que tem a pasta das Finanças", escreveu Moreira no Correio da Manhã de hoje. 

Sugerir correcção
Ler 4 comentários