Alemanha deteve três sírios que terão sido enviados pelo Estado Islâmico

Ministro afirma que grupo teria ligações aos autores dos ataques de Novembro em Paris e poderia formar uma "célula adormecida". Grupo entrou no país no pico da crise de refugiados.

Foto
Um dos centros de acolhimento de refugiados onde foram efectuadas buscas Daniel Reinhardt/AFP

As autoridades alemãs detiveram três cidadãos sírios por suspeita de terem sido enviados para o país pelo autoproclamado Estado Islâmico (EI). Afirmam não ter encontrado planos concretos para um ataque, mas dizem que teriam ligações aos autores dos ataques de Novembro em Paris.

Mahir Al-H., de 17 anos, Mohamed A., de 26, e Ibrahim M., de 18, chegaram à Alemanha em Novembro, no pico da crise migratória, percorrendo o mesmo caminho tomado por mais de um milhão de refugiados que entraram na Europa em 2015 – passando pela Turquia, cruzando o Mediterrâneo, a Grécia e depois os países na rota dos Balcãs.

Mas ao contrário dos milhares que fugiam da guerra, os três homens viajaram a mando dos jihadistas “para executar uma missão que já tinham recebido ou para ficarem [no país] à espera de instruções”, revelou a procuradoria federal ao dar conta das detenções, no estado de Schleswig-Holstein, no Norte da Alemanha.

Durante a operação, na qual estiveram envolvidos mais de 200 agentes, foram efectuadas buscas nos apartamentos onde os três homens residiam, bem como em locais não especificados num outro estado alemão, tendo sido apreendida “uma grande quantidade material”. Os investigadores, no entanto, não ter encontrado informações sobre “missões concretas ou ordens” dadas ao grupo.

Suspeitam, no entanto, que Mahir Al-H. se juntou às fileiras do EI em Raqqa, a cidade síria que os jihadistas proclamaram como capital do seu suposto califado, e beneficiou de um “curto treino” em armas e explosivos antes de ser enviado para a Europa, com os outros dois suspeitos, por ordem do dirigente do grupo responsável “pelas operações e ataques fora da área controlada pelo EI” – uma possível referência a de Mohammed al-Adnani, um dos principais comandantes dos radicais, morto num bombardeamento em Agosto. Além de passaportes, os três homens terão recebido uma elevada quantia em dinheiro e telemóveis com um programa de comunicações já instalado.

Falando aos jornalistas depois de conhecidas as detenções, o ministro do Interior alemão, Thomas de Maizière, admitiu que os suspeitos integrariam uma “possível célula adormecida” do EI na Europa. Adiantou também que as investigações sugerem que o grupo teria “ligações aos atacantes de Paris”, o comando que a 13 de Novembro visou vários alvos da capital francesa, matando 130 pessoas.

Segundo De Maizière, os detidos obtiveram os documentos de viagem junto das mesmas pessoas que forjaram os passaportes de alguns dos atacantes – todos os suspeitos já identificados tinham nacionalidade europeia, o que lhes permitiu viajar para a Síria sem grande entrave, mas pelo menos dois elementos do comando que continuam por identificar terão entrado na Europa como refugiados.

A Alemanha recebeu cerca de um milhão de refugiados em 2015, a maioria oriundos da Síria e do Iraque. Um número recorde que colocou desafios logísticos ao país e deixou a chanceler alemã, Angela Merkel, sob pressão da extrema-direita e de um número crescente de eleitores. As críticas à política de acolhimento agravaram-se em Julho, depois de três ataques cometidos por candidatos a asilo, dois dos quais se reivindicaram membros do Estado Islâmico.

Incidentes que o Governo alemão diz não porem em causa a solidariedade do país, apesar de ter admitido que o grupo jihadista possa ter aproveitado a crise migratória para infiltrar alguns operacionais na Europa. Berlim, tal como vários responsáveis dos serviços de segurança europeus, sublinha ainda que a maioria dos ataques registados nos últimos meses foram levados a cabo por jovens nascidos na Europa.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários