Coreia do Norte realizou o seu quinto e maior teste nuclear

Ensaio demonstra a "inconsciência maníaca" de Kim Jong-un, disse a Presidente sul-coreana. Pyongyang diz que se trata de "resposta aos poderes hostis".

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Um responsável sul-coreano aponta para um mapa que mostra o epicentro do sismo provocado pelo teste nuclear da Coreia do Norte AFP PHOTO / YONHAP
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Imagem de arquivo de Kim Jong-un, Presidente da Coreia do Norte AFP
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Sul-coreanos assistem na TV a notícias sobre teste nuclear da Coreia do Norte JUNG YEON-JE/AFP

A Coreia do Norte realizou esta sexta-feira o seu quinto e mais poderoso ensaio nuclear até à data, arriscando um novo reforço das sanções económicas que já comprimem a sua economia. A China, principal aliado do regime de Pyongyang, condenou o teste nuclear mas também deixou alertas à Coreia do Sul e aos Estados Unidos.

Como é habitual, tudo começou com o registo de um abalo sísmico de 5.3 na escala de Richter, às 00:30 GMT (mais uma hora em Portugal continental) com epicentro no nordeste da península coreana, onde estão sedeadas as instalações nucleares da Coreia do Norte. Pouco tempo depois, seguiu-se a confirmação oficial por parte das autoridades norte-coreanas.

“Esta é a nossa resposta aos poderes hostis, incluindo os Estados Unidos”, afirmou a pivô Ri Chun Hee no canal de televisão estatal, citada pelo Washington Post. “Estamos a enviar a mensagem de que se os nossos inimigos nos atacam, nós contra-atacamos”, acrescentou.

A Coreia do Sul acredita que este foi o teste nuclear mais forte realizado pelo vizinho do Norte e calcula que a explosão terá atingido as 10 quilotoneladas de energia. Outros especialistas, diz a BBC, estimam que poderá ter alcançado o dobro. A bomba atómica lançada pelos Estados Unidos sobre a cidade japonesa de Hiroxima em 1945 libertou cerca de 15 quilotoneladas. O Japão enviou aviões militares para sobrevoarem as proximidades da península coreana a fim de detectar eventuais radiações.

A Presidente sul-coreana, Park Geun-Hye, afirmou que o novo ensaio nuclear norte-coreano demonstra a “inconsciência maníaca” do seu líder, Kim Jong-un. “Uma provocação destas vai acelerar ainda mais o caminho para a sua auto-destruição”, acrescentou.

A Casa Branca emitiu um comunicado a condenar o comportamento de Pyongyang — o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, esteve esta semana no Laos, onde participou numa cimeira do bloco económico asiático ASEAN. “O Presidente indicou que vai continuar a consultar os nossos aliados e parceiros nos próximos dias para assegurar que as acções provocadoras da Coreia do Norte terão consequências graves”, disse o porta-voz Josh Earnest.

Também a China expressou a sua oposição ao teste nuclear do seu aliado histórico. “Apelamos fortemente à Coreia do Norte para que mantenha a sua promessa de desnuclearização e de respeito pelas resoluções do Conselho de Segurança da ONU, e que cesse os comportamentos que pioram a situação”, lia-se num comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Desenvolvimento nuclear acelerado

A Coreia do Norte tem intensificado a seu desenvolvimento nuclear nos últimos meses e era esperado que um ensaio deste género viesse a ser realizado. O último teste tinha sido feito em Janeiro, com recurso a uma bomba de hidrogénio, segundo Pyongyang, embora vários especialistas tenham apontado algumas dúvidas quanto a essa possibilidade, uma vez que os níveis de energia libertada foram reduzidos.

Desde então, o regime de Kim Jong-un tem feito lançamentos de mísseis balísticos de alcance médio e longo, um dos quais no início desta semana com três mísseis Scud, com um raio de acção de mil quilómetros. A agência de notícias estatal KCNA disse que o teste desta sexta-feira mostra que o país pode produzir “uma variedade de ogivas nucleares mais pequenas, leves e diversificadas com maior poder de destruição” para serem usadas em mísseis balísticos.

“Toda esta actividade é destinada a expandir a dimensão do arsenal nuclear da Coreia do Norte e aumentar as suas opções de lançamento”, explicou ao The Guardian a especialista em políticas de não-proliferação nuclear, Kelsey Davenport. “Estão a ser dados passos para melhorar a qualidade dos seus mísseis, usando combustível sólido para que sejam disparados mais rapidamente, e a aumentar o seu alcance.”

Imagens de satélite datadas de 27 de Agosto, reveladas recentemente pelo site 38 North, especializado em assuntos norte-coreanos, mostram um aumento da actividade no recinto nuclear de Punggye-ri — o local onde o regime costuma realizar os seus ensaios nucleares.

A data do lançamento do míssil nuclear coincide igualmente com o 68.º aniversário da fundação da República Popular Democrática da Coreia — nome oficial do país — e é comum o regime norte-coreano aproveitar datas ou acontecimentos históricos para executar demonstrações do seu poderio militar.

O novo ensaio é encarado também como uma resposta à instalação de um sistema anti-míssil norte-americano para a Coreia do Sul, denominado THAAD, acordado no início de Julho para conter a ameaça nuclear da Coreia do Norte.

Ao mesmo tempo, o regime norte-coreano pretende demonstrar que as sanções económicas aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU na sequência do ensaio nuclear de Janeiro não vão travar o seu desenvolvimento nuclear. “A Coreia do Norte está obviamente preparada para suportar danos económicos e tem condições para continuar a suportar materialmente os dois programas [nuclear e balístico]”, disse ao Washington Post o especialista do Instituto Lowy em Sydney, Euan Graham.

Desde 2006, quando a Coreia do Norte realizou o seu primeiro ensaio nuclear, as Nações Unidas impuseram quatro rondas de sanções contra o regime comunista. Mas as medidas aplicadas no início do ano foram as mais fortes de sempre, e incluíram uma proibição às exportações de minérios e à venda e compra de armamento.

Uma próxima ronda de sanções poderia incluir, por exemplo, uma proibição à exportação de combustível para o país — que já está proibido de o adquirir para a aviação. “Isso seria um passo drástico que poderia congelar a economia e causar um sofrimento grave às pessoas comuns”, observa o correspondente da BBC em Seul, Steve Evans.

A posição chinesa assume uma importância incontornável para a forma como a comunidade internacional lida com a Coreia do Norte — um dos regimes mais fechados do planeta, que tem limitado cada vez mais as poucas vias de comunicação com outros países. Apesar de ter condenado a acção do seu aliado, Pequim não deixou de referir o papel dos Estados Unidos e da Coreia do Sul.

“Não há muito tempo, a Coreia do Sul ignorou a forte oposição dos países vizinhos e decidiu tomar parte no sistema THAAD, que é totalmente oposto aos esforços para manter a paz e a estabilidade na península, danificou seriamente o equilíbrio estratégico regional e causou um aumento da tensão na península”, lia-se num comentário publicado pela agência estatal chinesa Nova China.

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