Guerra do Iraque anima o primeiro confronto televisivo entre Clinton e Trump

A candidata democrata à Casa Branca voltou a dizer que se arrepende de ter apoiado a invasão do Iraque. Donald Trump disse que foi "totalmente contra" a guerra, mas em entrevistas na altura manifestou-se a favor.

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Hillary Clinton votou a favor da invasão do Iraque Justin Sullivan/Getty Images/AFP

Naquele que foi uma espécie de ensaio geral para o primeiro debate presidencial, a 26 de Setembro na universidade Hofstra de Nova Iorque, os candidatos republicano e democrata participaram num colóquio televisivo sobre questões de defesa e segurança, no qual Donald Trump reescreveu a história do seu apoio à guerra do Iraque e à intervenção militar norte-americana na Líbia. Já Hillary Clinton justificou o uso do seu servidor pessoal de correio electrónico no cargo de secretária de Estado como uma prática que nunca expôs informação classificada ou pôs em risco a segurança do país, apesar de repetir que foi “um erro”.

Em horário nobre televisivo, o primeiro confronto entre os dois candidatos presidenciais, intitulado “Fórum do Comandante-em-Chefe”, ficou longe de um debate: Clinton e Trump responderam individualmente a um conjunto de questões distintas e nunca entraram em diálogo – embora tenham muitas vezes entrado em contradição com o que tinham dito antes, de tal maneira que as suas respostas já estão a ser “exploradas” pelas campanhas adversárias como exemplos de “flip-flopping”, um fenómeno especialmente penalizado pelos eleitores norte-americanos que não gostam que os candidatos mudem de posição ou então mintam sobre o que disseram no passado.

O caso mais gritante teve a ver com as declarações de Donald Trump a propósito da guerra do Iraque. O candidato republicano declarou que sempre fora “totalmente contra” a invasão norte-americana do país de Saddam Hussein, quando é possível encontrar várias entrevistas suas a manifestar o seu apoio à guerra e a dar os parabéns às tropas pela campanha em curso. O facto de não ter sido confrontado com essa contradição também está a valer duras críticas ao moderador do debate, que se escusou a pressionar os candidatos, nunca corrigiu erros factuais nem pediu esclarecimentos adicionais sobre declarações polémicas ou pouco claras.

Ainda assim, o magnata do imobiliário cuja candidatura presidencial desafia a tradição política norte-americana foi instado a explicar os seus constantes elogios ao Presidente da Rússia, Vladimir Putin, que na quarta-feira fora criticado pelo chefe do Pentágono, Ash Carter, pelas suas recentes manobras que “põem em risco a nossa segurança colectiva” e também pelas recentes tentativas de “interferir nos processos democráticos” de outros países.

Mas Trump insistiu nos louvores à liderança de Putin, que segundo notou “tem um grande controlo sobre o país” e uma taxa de aprovação de 82%, bastante acima da do Presidente dos EUA, Barack Obama, comparou, considerando o primeiro mais “forte e eficiente” do que o segundo. Além disso, prosseguiu, “quando ele [Putin] diz que eu sou brilhante, penso que devo aceitar o elogio”. “E se ele diz coisas boas sobre mim, eu vou dizer coisas boas sobre ele, ok?”, justificou.

Sobre a guerra do Iraque – e também a intervenção militar na Líbia – foi Hillary Clinton quem teve de dar explicações. A candidata democrata seguiu o guião conhecido: o seu voto a autorizar o uso da força no Iraque, quando era senadora pelo estado de Nova Iorque, foi “um erro”, mas foi baseado na informação da altura sobre a existência de armas de destruição maciça, que veio a revelar-se falsa. “Foi um erro, mas assumo a minha responsabilidade”, frisou.

Clinton também assumiu a responsabilidade pela sua decisão, já como secretária de Estado de Obama, de intervir na Líbia. No entanto, a democrata sublinhou que encara o uso da força como um “último recurso e nunca a primeira opção”. Por isso, prometeu, não enviará “mais tropas para o Iraque” (onde os EUA têm um contingente de cerca de 4500 homens em missão de apoio e treino do Exército iraquiano mas que não participam em acções de combate), nem, “em caso algum”, para a Síria.

No que diz respeito ao terrorismo, Clinton garantiu que o seu principal objectivo será a erradicação do Estado Islâmico, mas avisou que para isso será “preciso um maior apoio dos árabes e dos curdos, que são quem tem de liderar o combate no terreno, explicou. Também temos de continuar a apoiar o Exército do Iraque: eles já recuperaram Ramadi e Fallujah, e agora têm de consolidar essas vitórias e avançar para Mossul.”

Donald Trump também tem um plano para travar o Estado Islâmico. “E olhem que tenho uma hipótese muito significativa de ganhar, e tornar a América grande outra vez. Mas no caso de ganhar, não vou estar a avisar o inimigo sobre qual é o meu plano”, respondeu.

Como notavam vários analistas e comentadores políticos, o debate não foi muito rico em termos de conteúdo, mas permitiu vincar as diferenças de personalidade entre os dois candidatos à Casa Branca e também das políticas que procurarão aplicar se forem eleitos. Hillary Clinton fez jus à sua reputação de disciplinada e conhecedora dos dossiers, falando com desenvoltura e autoridade sobre as questões de política externa, mas sem transmitir muita empatia à sua audiência. Donald Trump também se manteve fiel a si próprio e ao seu estilo mais descontraído, com respostas curtas e emotivas, mas ambíguas e parcas em detalhes.

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