Desde o início do ano já morreram 2901 pessoas no Mediterrâneo

O número de vítimas na travessia do Mediterrâneo no primeiro semestre de 2016 cresceu 37% face ao período homólogo de 2015.

Foto
Barco de borracha zarpa da Líbia, a 20 de Agosto REUTERS/Giorgos Moutafis

Nos primeiros seis meses do ano, 2901 pessoas perderam a vida no mar Mediterrâneo quando tentavam chegar à Europa, um aumento de 37% face ao número de fatalidades registadas no mesmo período do ano passado, segundo informação recolhida pelo Centro de Análise de Dados Migratórios Globais da Organização Internacional para as Migrações, em Berlim.

A grande parte das mortes (2484) ocorreu na chamada rota central do Mediterrâneo, entre o Norte de África e Itália, por onde terão passado cerca de 70 mil pessoas no primeiro semestre de 2016. Este é o percurso mais perigoso de acesso a território europeu, e voltou a ser procurado depois do fecho de fronteiras ao longo da rota dos Balcãs e do acordo assinado entre a União Europeia e o Governo de Ancara em Março, para o repatriamento dos candidatos a asilo que desembarcam nas ilhas gregas vindos da Turquia.

O mês de Maio foi o mais mortífero no Mediterrâneo central, com 1130 mortes. Em Junho, o número de vítimas caiu para 388, e novamente em Julho, com 208 mortes. Este mês, já se registaram 29 mortes. Na rota do Mediterrâneo Oriental, entre a costa turca e a Grécia, morreram 376 pessoas em 2016.

A Organização Internacional para as Migrações detectou uma quebra de 98% nas passagens da Turquia para a Grécia, em comparação com o período homólogo. Entre Janeiro e Julho de 2015, chegaram à costa helénica 885 mil migrantes; este ano foram 154 mil, quase todos entre Janeiro e Março.

Como assinalou o responsável pelo centro de Berlim, Frank Laczko, o número de refugiados que arrisca a passagem para a Europa não cresceu significativamente de 2015 para 2016. No entanto, "o risco de morte, que já era alto, está a aumentar", por causa das condições em que os migrantes fazem a viagem: o percurso é mais longo, e com mais obstáculos naturais, e as redes de contrabando e tráfico humano que operam esse "circuito" utilizam embarcações inseguras e sobrecarregadas.

"Os contrabandistas demonstram um desinteresse total na segurança das pessoas que pagam pelos seus serviços, e tentam sobrelotar embarcações que não estão aptas a navegar, de forma a aumentar o seu lucro", criticou Frank Laczko, citado pela Associated Press.

O especialista não traçou uma correlação directa entre a assinatura do acordo de Bruxelas para travar os fluxos migratórios a partir da Turquia e o aumento das mortes no Mediterrâneo central, notando não só que as condições da travessia são más como o percurso que os refugiados têm de percorrer até aos portos da Líbia e do Egipto a partir de onde operam as redes contrabandistas já os deixam numa situação de extrema debilidade.

Laczko defendeu a abertura de mais canais legais para o acolhimento de refugiados e populações em risco na Europa, e disse que com mais campanhas de informação nos pontos de partida, para alertar os migrantes para os perigos da viagem, poderiam ser evitadas muitas mortes.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários