Ryan Lochte pede desculpas

Autoridades brasileiras acusam Lochte e outro nadador de “falsa comunicação de crime”.

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"Mentiroso", lê-se num cartaz dirigido a Ryan Lochte, colocado no estádio olímpico do Rio de Janeiro REUTERS/Dominic Ebenbichler

O norte-americano Ryan Lochte pediu nesta sexta-feira desculpas pelo episódio do falso assalto no Rio de Janeiro, embora insista que foi ameaçado com uma arma por um dos seguranças do posto de combustível onde os nadadores americanos provocaram estragos.

“Quero pedir desculpas pelo meu comportamento no último fim-de-semana – por não ter sido mais cuidadoso e sincero na forma como descrevi os acontecimentos daquela madrugada e no papel que tive ao desviar as atenções de muitos atletas que cumprem o sonho de participar nos Jogos Olímpicos”, diz um comunicado publicado pelo nadador na sua conta do Twitter.

Lochte diz que só agora falou, porque estava à espera que os outros três companheiros envolvidos no caso regressassem a casa. O nadador afirmou ainda que “aprendeu uma lição valiosa” com este caso.

Em nenhuma parte do comunicado, Lochte assume claramente que mentiu (ficou-se por um mea culpa por não ter sido mais sincero), mas admite que cometeu erros. “É traumático estar à noite com os teus amigos num país estrangeiro – e com uma barreira na língua – e ter um estranho a apontar-te uma arma e a pedir dinheiro para te deixar ir embora, mas independentemente do comportamento de outras pessoas naquela noite, eu deveria ter sido mais responsável na forma como me comportei”, acrescenta o americano no comunicado, pedindo “desculpas aos companheiros de equipa, aos fãs, aos outros atletas, aos patrocinadores e aos anfitriões deste grande evento.”

O comunicado de Lochte surge horas depois de o Comité Olímpico Americano ter pedido desculpas e considerado que “o comportamento destes atletas não é aceitável, nem representa os valores do Team USA”.

Todo este episódio começou quando Ryan Lochte e James Feigen disseram que foram assaltados quando seguiam num táxi no Rio de Janeiro, acompanhado por outros dois nadadores: Gunnar Bentz e Jack Conger.

A investigação da polícia concluiu, no entanto, que a história estava mal contada. Imagens de videovigilância do posto de combustível terão permitido concluir que os nadadores causaram estragos num posto de combustível e terão discutido com seguranças, quando estes lhes pediram para pagarem os danos.

Um vídeo transmitido pela TV Globo mostra os nadadores a chegarem num táxi ao posto de combustível e a entrarem num corredor, fora do alcance da câmara. Os atletas despertaram depois a curiosidade dos funcionários do posto, não se percebendo exactamente porquê, e regressam ao táxi, onde são depois abordados por um segurança.

Segundo o testemunho de um dos nadadores, Lochte terá estragado uma placa junto à casa de banho. Terão também ficado destruídos um espelho, uma saboneteira e a própria porta da casa de banho.

Antes de deixarem o posto de combustível, os nadadores foram abordados pelos seguranças, que exigiram pagamento pelos estragos. A polícia brasileira admitiu que um dos seguranças mostrou a arma aos nadadores.

Os nadadores acabaram por deixara algum dinheiro e regressaram à aldeia olímpica. Segundo o El País, Lochte contou que à mãe lhe tinham apontado uma arma à cabeça e a notícia rapidamente se espalhou pela imprensa, causando furor durante dias.

Em menos de uma semana, no entanto, a narrativa dos nadadores foi desmentida e agora Lochte e James Feigen foram acusados pelas autoridades brasileiras de “falsa comunicação de crime”, punível com multa ou pena de prisão de um a seis meses.

Feigen, que era o único dos quatro nadadores que ainda estava no Brasil, foi nesta sexta-feira ouvido em tribunal e pagou 35 mil reais (11 mil dólares) a uma instituição de caridade.

Este caso provocou danos na imagem do Rio de Janeiro. O prefeito Eduardo Paes aceitou as desculpas de Lochte, mas não deixou de criticar a atitude dos nadadores. "Meu único sentimento por eles é de pena e desprezo. Que pena que tenham algumas falhas de carácter, e acho que é problema deles e do comité americano resolver o que fazer", disse Eduardo Paes, citado pela Folha de São Paulo.

O comité organizador dos Jogos também aceitou as desculpas: "A população brasileira sentiu-se humilhada pelas mentiras e sentiu que a imagem do Brasil tinha sido injustamente comprometida no exterior", disse Mario Andrada, porta-voz do comité organizador, deixando uma frase que serve de moral da história. "Tem um ditado que a gente conhece faz tempo: a gente percebe que a mentira tem pernas curtas, mesmo quando se é um atleta que corre bastante ou nada bastante."

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