Mexida na equipa de Trump antecipa aposta em campanha agressiva

Depois de gaffes e queda nas sondagens, candidato republicano faz escolhas que o afastam das anteriores promessas de moderação. Novo director era até agora chefe da empresa que detém o site conservador Breitbart.

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As últimas semanas não correram de feição ao candidato republicano Gregg Newton/AFP

Pela segunda vez em dois meses – e a menos de três das eleições – Donald Trump fez uma nova revolução na equipa que dirige a sua campanha. Se em Junho, quando temia uma revolta na convenção republicana que o confirmaria como candidato à Casa Branca, o objectivo era reforçar a sua imagem “presidenciável”, a estratégia parece ser agora dar rédea livre ao estilo agressivo que Trump cunhou como sua imagem de marca.

“Eu sou quem eu sou. Não quero mudar. Toda a gente pergunta ‘então vai mudar de estilo?’ Eu não quero mudar. Temos de ser quem somos. Se começarmos a mudar não estamos a ser honestos com as pessoas”, disse o candidato republicano numa entrevista, terça-feira à noite, a uma televisão do estado do Wisconsin.

Horas depois, o Wall Street Journal noticiava a entrada na hierarquia da campanha de dois pesos-pesados dos bastidores da política republicana, que eram já conselheiros do milionário. Stephen Bannon, até agora presidente da empresa que detém o site conservador Breitbart, passa a director-geral, e Kellyanne Conway, especialista em estudos de opinião muito reputada entre a ala conservadora do Partido Republicano, é a nova directora de campanha.

Paul Manafort mantém-se como presidente da campanha, mas a imprensa norte-americana diz que as mexidas representam uma clara despromoção do lobista, que esta semana esteve debaixo de fogo, depois de o New York Times ter noticiado que o seu nome constava de uma lista de beneficiários de um saco azul usado pelo partido do Presidente ucraniano, Viktor Ianukovich, de quem foi assessor entre 2007 e 2012.

Não terá sido, no entanto, essa suspeita (que o próprio já desmentiu) a ditar a passagem de Manafort para segundo plano, mas a frustração de Trump com a queda nas sondagens face a Hillary Clinton. A menos de três meses das presidenciais, a candidata democrata tem uma vantagem entre sete a oito pontos percentuais nas intenções de voto a nível nacional e está mesmo a ganhar terreno em estados que são decisivos para a eleição do novo Presidente. “Trump já não confia nele, pura e simplesmente”, disse à CNN uma fonte próxima da campanha, atribuindo a série de passos em falso dados nas últimas semanas pelo milionário à sua “exasperação” perante a ineficácia dos seus assessores.

É preciso falar sobre Trump, mas também ouvir os seus apoiantes

Oficialmente, a campanha nega os desentendimentos, dizendo que a entrada de Bannon e Conway, que nas primárias apoiou o senador do Texas Ted Cruz, visa aumentar a combatividade da equipa. “Conheço tanto Steve como Kellyanne há vários anos. São pessoas extremamente capazes e altamente qualificadas que adoram e sabem como vencer”, adiantou Trump em comunicado. Obrigado a suster depressa o avanço de Clinton nas sondagens, o candidato republicano deixa claro que está “empenhado em fazer aquilo que for necessário para vencer” e as escolhas que fez para a sua equipa mostram que parte para as próximas semanas de punhos erguidos.

Bannon é alguém que “vai à luta”, disse à CNN Corey Lewandowski, o chefe de campanha que Trump afastou há dois meses em detrimento de Manafort, numa altura em que admitia que tinha de moderar o tom do seu discurso. Antigo banqueiro na Goldman Sachs e presidente executivo do Breitbart, Bannon apresenta-se como “virulentamente anti-sistema” e, em Outubro, um artigo do site Bloomberg descrevia-o como “o operacional político mais perigoso da América”. Representa, tal como Lewandowski, “o tipo de pugilista sem luvas” que enfurece e deixa perplexo o establishment republicano, acrescenta o Washington Post. Já Conway é apresentada como especialista na avaliação das tendências entre o eleitorado feminino, onde Trump detém as suas piores taxas de aprovação, e a sua promoção terá como objectivo centrar a mensagem do candidato nos temas que são mais caros aos seus apoiantes, desviando-o dos improvisos e das polémicas.

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