Primeiro-ministro francês apoia autarcas que proibiram burkinis na praia

Manuel Valls entende a necessidade de "soluções para evitar perturbações à ordem pública".

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Uma mulher tunisina numa praia do seu país AFP PHOTO / FETHI BELAID

O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, em entrevista ao jornal La Provence, nesta quarta-feira, demonstrou o seu apoio aos autarcas de Cannes, Villeneuve-Loubet e Sisco relativamente à ordem de proibição do uso de burkini nas praias dessas localidades.

“Entendo que os presidentes da câmara tenham a necessidade de procurar soluções para evitar perturbações à ordem pública. Apoio aqueles que emitiram as ordens de proibição”, declarou Valls ao jornal francês.

O chefe de Governo disse ainda que o pensamento voltado para o controlo total da mulher e a ideia de que devem ser completamente cobertas – como faz esta espécie de fato de banho que cobre a mulher dos pés à cabeça – “não é compatível com os valores da França e da República” e que, perante as provocações, “a República deve defender-se”.

Também a sua ministra para os Direitos das Mulheres, Laurence Rossignol, já veio a público declarar que "o burkini não é uma nova linha de swimwear, é a versão de praia de uma burqa e tem a mesma lógica: esconder os corpos das mulheres para que possam ser controladas".

“As praias, como qualquer espaço público, devem ser preservadas de reivindicações religiosas”, justificou ao La Provence. Perante a controvérsia do uso do burkini, Valls frisa ainda que o traje constitui-se como “um projecto político” e uma forma de “subjugação das mulheres”.

O primeiro-ministro, contudo, não irá legislar sobre o assunto, afirmando que uma “regulamentação sobre a indumentária deverá ser a solução”. “Antes de pensar em legislar, vamos aplicar a lei que proíbe o véu integral em espaço público”, reforçou. Em 2010, Manuel Valls votou a favor da "lei da burqa", que proíbe uma mulher, em qualquer espaço público, de ter a cara coberta.

A polémica da proibição do burkini nas praias de algumas localidades francesas começou em Cannes. David Lisnard, presidente da câmara da estância francesa conhecida pelo seu festival de cinema, emitiu uma ordem que proíbe as mulheres de usarem burkini, palavra que resulta da fusão entre "biquíni" e "burqa", sendo o traje em questão um modelo de fato de banho que cobre a cabeça e a totalidade do corpo.

“O acesso à praia será banido a todos que não tiverem roupa de banho adequada que respeite os bons costumes e o secularismo”, pode ler-se num comunicado de Lisnard, emitido na semana passada. A decisão controversa foi também tomada em Villeneuve-Loubet, na Riviera Francesa, e mais recentemente na comuna de Sisco, na Córsega, que também decidiram proibir o uso de burkinis na praia devido a um motim registado este sábado.

O tumulto teve origem numa praia onde adolescentes que tentavam fotografar mulheres com burkini foram advertidos por famílias muçulmanas que se encontravam no local. Rapidamente a discussão passou para um confronto violento em que foi necessária a intervenção das forças antimotim.

Em Cannes, três mulheres já foram multadas em 38 euros (valor da coima) por usarem burkini e outras seis terão sido advertidas. Esta medida já foi aprovada em tribunal depois de duas associações muçulmanas terem contestado a proibição.

França é um país que está fragilizado devido aos ataques terroristas de que tem sido alvo, desde os de Paris aos mais recentes em Nice e numa igreja da Normandia, que levaram ao prolongamento do estado de emergência até 2017.

“Neste momento muito especial, quando enfrentamos ataques terroristas em nome de um islão pervertido, cada cidadão deve assumir responsabilidades”, concluiu Valls. O chefe do Governo afirma ainda que os cidadãos se devem apoiar nos fundamentos da República francesa e no secularismo – razão apontada por David Lisnard para a proibição do burkini em Cannes, pelo facto de o uso de tal traje ir contra esses mesmos princípios.

Texto editado por Bárbara Wong

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