Ex-conselheiros republicanos dizem que Trump seria "o Presidente mais imprudente" dos EUA

Carta aberta assinada por 50 antigos responsáveis de Administrações republicanas, a maioria de George W. Bush, apela aos eleitores que não votem em Trump. O candidato acusa-os de serem os responsáveis pela situação actual no mundo.

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Donald Trump Eric Thayer/Reuters

Um grupo de 50 antigos responsáveis de topo pela segurança nacional e política externa dos Estados Unidos, a maioria ex-conselheiros de George W. Bush, acusam Donald Trump de não ter o temperamento necessário para chegar à Casa Branca e consideram que ele seria "o Presidente mais imprudente na História americana".

As acusações contra Trump chegaram na forma de uma carta aberta, a segunda assinada por antigos conselheiros de ex-presidentes republicanos nos últimos cinco meses (a primeira surgiu em Março) – a diferença é que o peso dos nomes continua a aumentar, e a questão agora é saber se antigos secretários de Estado como Henry Kissinger, George Schultz, Colin Powell ou Condoleezza Rice vão também assumir uma posição pública contra Donald Trump até Novembro.

O esboço da carta publicada esta semana foi feito por John B. Bellinger III, antigo assessor do Conselho de Segurança Nacional e conselheiro do Departamento de Estado nos mandatos de George W. Bush, onde trabalhou directamente com a antiga secretária de Estado Condoleezza Rice.

Entre os outros 49 signatários estão Michael Hayden, director da NSA e da CIA durante os ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001 e da invasão do Iraque em 2003; John Negroponte, vice-secretário de Estado e director das agências de segurança norte-americanas na Administração de George W. Bush; e Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial e vice-secretário de Estado também sob a presidência de George W. Bush.

Logo no início da carta, depois de salientarem as suas credenciais como conselheiros de Presidentes desde Richard Nixon a George W. Bush, "durante tempos de guerra e outros períodos de crise, tanto nos sucessos como nos falhanços", os ex-responsáveis de segurança nacional e política externa do Partido Republicano lançam um duro ataque contra Donald Trump: "Nós sabemos quais são as qualidades que se exigem a um Presidente dos Estados Unidos. Nenhum de nós votará em Donald Trump."

Os signatários não se centram em questões específicas de segurança nacional ou de política externa, usando antes o argumento tantas vezes repetido pela campanha da candidata do Partido Democrata, Hillary Clinton – Donald Trump não tem o temperamento nem a estabilidade emocional para ser Presidente dos Estados Unidos.

"No essencial, o Sr. Trump não tem o carácter, os valores e a experiência para ser Presidente", consideram os antigos responsáveis republicanos, acrescentando que o candidato deste ano do seu partido "enfraquece a autoridade moral dos Estados Unidos no mundo livre".

Talvez numa comparação com as críticas feitas ao Presidente que a maioria deles serviu (George W. Bush), os signatários salientam que, "ao contrário de antigos Presidentes que tinham uma experiência limitada em termos de relações internacionais, o Sr. Trump não tem mostrado nenhum interesse em adquirir conhecimento".

"Ele continua a demonstrar uma ignorância alarmante sobre factos básicos da política internacional actual. Apesar da sua falta de conhecimentos, o Sr. Trump alega que compreende os assuntos internacionais e que 'sabe mais sobre o ISIS [o autoproclamado Estado Islâmico] do que os generais'."

Mas, mais importante do que aquilo que dizem ser a ignorância de Donald Trump sobre segurança nacional e política externa, estes 50 antigos conselheiros de Administrações do Partido Republicano criticam a sua "falta de temperamento para ser Presidente".

"Na nossa experiência, um Presidente deve estar preparado para ouvir os seus conselheiros e responsáveis de departamento; deve encorajar a discussão de pontos de vista opostos; e deve admitir erros e aprender com eles. Um Presidente deve ser disciplinado, controlar as emoções e agir apenas depois de reflectir e de deliberar com cuidado. Um Presidente deve manter relações cordiais com líderes de países com contextos diferentes e deve conquistar o seu respeito e a sua confiança."

No fundo, dizem os antigos responsáveis de segurança nacional e política externa, tudo o que falta a Donald Trump: "Ou é incapaz ou não tem vontade de separar a verdade da mentira. Não encoraja pontos de vista opostos. Falta-lhe autocontrolo e age de forma impetuosa. Não tolera a crítica pessoal. Alarmou os nossos aliados mais próximos com o seu comportamento errático. Tudo características perigosas num indivíduo que pretende ser Presidente e comandante supremo, com controlo do arsenal nuclear dos Estados Unidos."

Os antigos conselheiros terminam a carta dizendo que percebem "a frustração de muitos americanos com o Governo federal e a sua incapacidade para resolver graves problemas internos e externos", e sublinham que muitos desses americanos, tal como eles próprios, "têm muitas dúvidas em relação a Hillary Clinton".

"Mas Donald Trump não é a resposta para os assustadores desafios que a América enfrenta nem para esta eleição crucial. Estamos convencidos de que na Sala Oval, ele seria o mais imprudente Presidente da História americana", concluem.

O candidato do Partido Republicano já respondeu a estas acusações, colando os signatários da carta à Administração de George W. Bush e agradecendo-lhes por terem dado a cara, "para que toda a gente no país conheça quem tornou o mundo num sítio perigoso".

Numa resposta condizente com a essência da sua candidatura – e na qual os seus apoiantes não terão dúvidas em rever-se –, Trump disse que os antigos responsáveis "não são mais do que a elite falhada de Washington que está a tentar manter as mãos no poder, e chegou a hora de serem responsabilizados pelas suas acções".

"Juntamente com Hillary Clinton, são responsáveis pelas decisões desastrosas de invadir o Iraque, de permitir que americanos morram em Bengasi, e são responsáveis pelo crescimento do ISIS", disse Donald Trump, num comunicado duro e acutilante, mas sem as habituais considerações mais vulgares – talvez um sinal de que está a tentar deixar parar trás duas semanas muito complicadas para a sua candidatura, assumindo uma postura mais centrada nas questões políticas.

"Ao contrário deles, eu ofereço uma melhor visão para o nosso país e para a nossa política externa – uma visão que não é liderada por uma dinastia familiar", disse Trump, numa referência óbvia à família Bush. "É uma visão que põe a América em primeiro lugar e que enfrenta ditadores estrangeiros em vez de receber dinheiro deles, que procura a paz e não a guerra, que quer reconstruir a nossa capacidade militar, e que faz com que outros países paguem a sua parte para a sua protecção. Juntos, acabaremos com o sistema de favorecimentos de Washington, vamos fazer da América um lugar seguro outra vez e vamos tornar a América grande outra vez."

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