Já começaram as obras do funicular que vai aproximar a Graça da Mouraria

João Favila Menezes garante que a vista do miradouro "fica totalmente preservada" com o funicular, inspirado nos ascensores de Lisboa, mas com "uma linguagem mais moderna". No Martim Moniz começa em Agosto a instalação de escadas rolantes para chegar ao Castelo.

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Imagem do funicular que vai ligar a Mouraria à Graça DR
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Os utilizadores vão sair do funicular no topo da Calçada da Graça, junto ao miradouro DR
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Estas são as escadas rolantes que vão unir o Martim Moniz ao Castelo DR
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As obras a cargo da Emel devem começar em Agosto DR

Se por estes dias passar pelo Miradouro Sophia de Mello Breyner Andresen, em Lisboa, e o encontrar ocupado em grande parte com tapumes não estranhe: no local estão em curso os trabalhos com vista à instalação do funicular que vai unir a Graça à Mouraria. Quanto às escadas rolantes que prometem tornar mais fácil a ligação do Martim Moniz ao Castelo, as obras devem começar em Agosto.

Estas são duas das intervenções previstas no Plano Geral de Acessibilidades Suaves e Assistidas à Colina do Castelo, que foi desenvolvido em 2009 com o objectivo de “atenuar as barreiras impostas pela topografia do terreno e pelas características do tecido urbano desta área histórica”.

O plano contempla ainda a instalação de um elevador, com capacidade para 13 pessoas, entre as Escadinhas das Portas do Mar (junto ao Campo das Cebolas) e a Sé de Lisboa. De acordo com Gonçalo Bugia, da área de gestão de empreitadas da Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa (Emel), a primeira fase desta obra (que está orçada em 236 mil euros e à qual se seguirá uma segunda fase) começou em Julho. A expectativa da empresa é que o novo equipamento esteja em funcionamento no Verão de 2017.

Também no mês de Julho arrancaram os trabalhos que vão permitir a instalação de um funicular entre a Rua dos Lagares, na Mouraria, e o Miradouro da Graça. Segundo Gonçalo Bugia, a empreitada em curso é no essencial de escavação e prospecção arqueológica e deverá prolongar-se até “Novembro, início de Dezembro”.

Depois dessa empreitada (com um custo de 360 mil euros) avançará uma segunda, destinada à edificação dos acessos inferior e superior do funicular e à construção de todo o percurso, pela encosta acima. O técnico da Emel faz saber que essa empreitada tem uma duração estimada de “dez a 12 meses” e que serão também realizados trabalhos de requalificação do espaço público.

“A perturbação será mínima. A não ser a vedação que já temos no miradouro, que é grande e limita um pouco as vistas”, afirmou Gonçalo Bugia, numa apresentação pública do projecto do funicular que se realizou na passada semana. Nesse fórum, o técnico sublinhou o cuidado que houve em deixar uma parte do miradouro acessível e em “arrumar” o quiosque existente no local.

Nessa apresentação, o arquitecto João Favila Menezes frisou que o funicular “é mais um projecto num sistema de pequenas intervenções de acessibilidade suave ao Castelo”. “Criam todos juntos uma espécie de rede”, explicou, notando que as três novas “acessibilidades rápidas, acessíveis e suaves” têm fundamentalmente dois públicos-alvo: as populações que vivem em “cotas intermédias” e os “inúmeros visitantes da cidade”.

Em relação ao funicular, João Favila Menezes reconheceu que “o grande problema” foi perceber “como se fazia uma operação destas sem se estragar um dos mais bonitos miradouros da cidade, com uma das vistas mais maravilhosas”.

A entrada no funicular vai fazer-se na Rua dos Lagares, num edifício “gare” construído de raiz para o efeito. Depois, como se descreve na memória descritiva do projecto (desenvolvido com o Atelier Pedro Domingos Arquitectos e o com o arquitecto João Simões), o veículo subirá a encosta, parando apenas no “fim da Calçada da Graça”.

“A primeira parte do trajecto é colada à cerca e percorre o novo jardim [o Jardim da Cerca da Graça, inaugurado há cerca de um ano] em contínua subida de cota”, descreve-se no documento. “Depois o funicular entra num pequeno túnel em curva que atravessa o miradouro ao encontro da cota de ligação com a Calçada da Graça”, onde “aparece na rua virando as ‘costas’ ao muro de contenção do miradouro, abrindo-se para o Jardim Augusto Gil e ao rio que se descobre no horizonte da Calçada da Graça”.

“No miradouro nunca se vai ver o funicular. A vista fica totalmente preservada”, sublinha ao PÚBLICO João Favila Menezes. O arquitecto refere ainda que a concretização deste projecto vai também permitir unir (através de uma alteração da circulação viária no local) o Miradouro Sophia de Mello Breyner Andresen e o Jardim Augusto Gil, que hoje está “deslocado” e rodeado de carros.

Por dentro a cabine do funicular, que terá capacidade para 15 pessoas e que poderá “ser automático ou ter um operador”, vai ser “toda em madeira” e por fora será pintada de “amarelo eléctrico”. João Favila Menezes nota que se procurou “repescar o carácter” dos velhinhos ascensores de Lisboa, mas com “uma linguagem mais moderna”.

Segundo o PÚBLICO apurou junto da Emel, não há ainda uma decisão final sobre se a viagem neste meio de transporte será ou não gratuita, estando em aberto a possibilidade de os moradores beneficiarem de condições distintas dos restantes utilizadores. Igualmente em estudo está a definição daquele que será o seu horário de funcionamento.

Escadas rolantes até ao Castelo

Nas mãos da empresa está também a concretização do chamado “percurso da Mouraria”, que vai estabelecer uma nova ligação entre o Martim Moniz e o Castelo com recurso a escadas rolantes. De acordo com Gonçalo Bugia, as obras no primeiro e no terceiro troços de escadas deverão começar em Agosto e prolongar-se por quatro meses.

Quanto ao segundo troço, o técnico da área de gestão de empreitadas da Emel explica que será construído pelo privado que está a desenvolver o projecto do Hotel do Palácio da Rosa. Não havendo ainda uma data definida para o início dessa obra, Gonçalo Bugia reconhece que não é possível dizer quando poderão lisboetas e visitantes utilizar o novo percurso na totalidade.

Como explica João Favila Menezes, o primeiro troço de escadas vai ligar a Praça do Martim Moniz à Rua Marquês Ponte de Lima. A ideia é aproveitar as Escadinhas da Saúde, já existentes, e introduzir escadas rolantes, que serão encostadas aos muros de logradouro do lado direito.

Também o segundo troço vai ter escadas rolantes, que culminarão na Rua da Costa do Castelo. Já no terceiro troço, no qual segundo Gonçalo Bugia se fará “uma requalificação” das Escadinhas de S. Lourenço, já existentes, não haverá meios mecânicos, sendo necessário galgar os degraus em pedra para se chegar ao destino final.

O técnico da Emel sublinha que as escadas rolantes que vão ser introduzidas estão “preparadíssimas para estar ao ar livre”, não sendo portanto de esperar que haja perturbações significativas no seu funcionamento. Para isso, acrescenta, contribuirá também o facto de o contrato que foi celebrado pela empresa municipal para a execução da obra incluir a manutenção dos equipamentos mecânicos por oito anos.

Gonçalo Bugia nota ainda que, de acordo com “os ensaios realizados”, as escadas rolantes que vão ser introduzidas (e que representam um investimento de 860 mil euros) “não fazem qualquer tipo de vibração”. Quanto ao ruído, o técnico fala no “mínimo dos mínimos”, afastando qualquer motivo de preocupação para os moradores dos prédios vizinhos.

João Favila Menezes destaca que o novo percurso “faz-se colado à antiga Cerca Fernandina”, elemento histórico do qual quem subir as escadas passará “a ter uma leitura”. Quando o projecto estiver concretizado, lembra, deixará de ser preciso “contornar a colina toda” para chegar do Martim Moniz ao Castelo, passando a existir “uma ligação directa” entre esses dois pontos.

Para que esse desígnio seja integralmente cumprido ficará, no entanto, a faltar, como se lê na memória descritiva do projecto, apenas um detalhe: que se abra a porta de acesso ao Castelo de S. Jorge “que se encontra junto à Torre de S. Lourenço”. João Favila Menezes explica que se trata de uma porta dos anos 40 que está hoje encerrada e acrescenta que a possibilidade de ela voltar a ser utilizada está “dependente de uma certa reorganização da zona do Castelo”.

Tanto no caso deste último percurso da Mouraria como nos da Graça e da Sé a Emel promoveu, com as juntas de freguesia respectivas, sessões de apresentação pública dos projectos. Gonçalo Bugia frisa que nelas se procurou também “antecipar os problemas” que aqueles que moram junto aos pontos onde se vão fazer obras “irão encontrar”.

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