Jihadistas divulgaram vídeo deixado por suicida que atacou na Alemanha

Difusão das imagens pela propaganda do Estado Islâmico sugere envolvimento do atacante no grupo radical. Sírio apelou a novos ataques em solo alemão.

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O suicida foi a única vítima mortal do ataque em Ansbach Daniel Karmann/AFP

A propaganda do autoproclamado Estado Islâmico divulgou a noite passada o vídeo gravado pelo sírio que no domingo se fez explodir na cidade de Ansbach, no Sul da Alemanha, sugerindo que o seu envolvimento na organização jihadista será maior do que o inicialmente se pensou.

A procuradoria da cidade de Karlsruhe, que está a liderar as investigações ao ataque provocou 15 feridos, já confirmou que as imagens postas a circular são as mesmas que a polícia encontrou no telemóvel que o suicida transportava.

Nas imagens, o atacante – identificado pela imprensa alemã como Mohammed Daleel, um sírio de 27 anos – diz que a bomba que se prepara para detonar na cidade onde residia desde 2014 é uma vingança “aos crimes cometidos pela coligação [contra o Estado Islâmico] em colaboração com a Alemanha para bombardear e matar homens, mulheres e crianças”.

Segundo o SITE, organização especializada na monitorização de fóruns de extremistas islâmicos, o atacante faz um apelo a novos atentados no país que o acolheu há dois anos, dizendo que os alemães “nunca mais vão dormir descansados”. “Na próxima vez não será um cinto [de explosivos], mas um carro armadilhado”. Nas imagens, surge de rosto tapado por um lenço negro, mas a propaganda dos extremistas pôs já a circular uma outra fotografia que diz ser de Daleel.

Frauke Köhler, porta-voz da procuradoria de Karlsruhe, citada pelo jornal Washington Post, explicou que os investigadores estão ainda a tentar determinar o grau de ligação do atacante ao grupo, que controla uma parte dos territórios da Síria e do Iraque, concentrando atenções nas eventuais comunicações entre eles. A polícia tenta também apurar se o suicida terá tido cúmplices, nomeadamente no fabrico da bomba, que transportou numa mochila.  

Na véspera, o ministro do Interior da Baviera, Joachim Herrmann, tinha já revelado que no vídeo encontrado no telemóvel o atacante dizia agir em nome do Estado Islâmico e revelou que no albergue em que vivia foram encontrados materiais para o fabrico de uma segunda bomba e mais imagens “de conteúdo salafista”. As autoridades revelaram também que o balanço do ataque poderia ter sido mais grave se o atacante tivesse conseguido entrar no festival de música que decorria na cidade.

O Governo alemão confirmou que o sírio tinha pedido asilo em 2014, mas tal foi-lhe negado no ano seguinte perante a informação de que ele já recebera protecção na Bulgária. A sua extradição para aquele país da União Europeia foi suspensa perante um relatório médico que atestava problemas psiquiátricos – durante a sua estadia na Alemanha, tentou por duas vezes suicidar-se, chegando a ser internado. Nada se sabe ainda sobre o seu passado na Síria, ou quando chegou à Europa.  

O ataque em Ansbach foi o quarto incidente violento registado em apenas uma semana na Alemanha, três dos quais protagonizados por candidatos a asilo, numa sucessão que levantou um novo coro de críticas à política de acolhimento do Governo de Angela Merkel. Berlim defende, no entanto, que os incidentes não devem ser confundidos  – o ataque mais mortífero, sexta-feira em Munique, foi levado a cabo por um adolescente alemão de origem iraniana que seria obcecado com tiroteios – e garante que não vai alterar as leis de asilo até à conclusão das investigações. Admite, ainda assim, que mais pode ser feito para escrutinar o passado de quem chega ao país e acelerar as deportações dos que não têm direito a asilo.

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