Depois do “Brexit”, FMI vê a economia mundial a crescer menos

Expectativas mais pessimistas. Riscos na banca portuguesa e italiana podem ser "acentuados" pelo "Brexit".

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O Reino Unido já deverá crescer este ano menos de 2% SUZANNE PLUNKETT/Reuters

A “onda de incerteza” que o voto pela saída do Reino Unido da União Europeia (UE) acrescentou a um ambiente económico global já por si incerto levou o Fundo Monetário Internacional (FMI) a baixar as previsões para a economia mundial neste ano e no próximo. O FMI diz ainda que os riscos já identificados no sistema bancário europeu “podem ser acentuados ainda mais pelo Brexit”, nomeadamente as dificuldades nos bancos portugueses e italianos.

“O choque do Brexit surge no meio de problemas não-resolvidos no sistema bancário europeu, em particular nos bancos italianos e portugueses, como identificado no Relatório de Estabilidade Financeira Global”, vinca a instituição liderada por Christine Lagarde, lembrando que as turbulências persistentes nos mercados financeiros e o aumento global de aversão ao risco podem ter graves repercussões macroeconómicas, nomeadamente a intensificação das dificuldades dos bancos, particularmente nas economias vulneráveis”.

Na actualização do relatório Perspectivas Económicas Mundiais, divulgado em Washington nesta terça-feira, o Fundo aponta para um crescimento mundial de 3,1% em 2016, 0,1 abaixo do previsto em Abril, nas projecções anteriores. Se o valor se confirmar, a economia global crescerá ao mesmo ritmo do ano passado. Para 2017 é esperada uma aceleração, mas menor do que era estimada há três meses: um crescimento de 3,4%, em vez de 3,3%.

A trajectória do Reino Unido já era de abrandamento para este ano – e a desaceleração agrava-se – mas a perspectiva de recuperação que se previa para o ano seguinte agora já não existe.

Depois de um crescimento de 2,2% em 2015, a economia britânica deverá crescer 1,7%, em vez dos 1,9% esperados em Abril. Em relação ao próximo ano, o corte nas previsões é bem mais pronunciado, prevendo-se que a economia cresça 1,3%, quando anteriormente se apontava para uma aceleração até aos 2,2%.

“O “Brexit” acentua fortemente a incerteza económica, política e institucional, o que deverá ter repercussões macroeconómicas negativas, nomeadamente nas economias europeias desenvolvidas”, alerta a instituição presidida por Christine Lagarde. Mas como ainda não se sabe exactamente em que termos será negociada a saída do Reino Unido da UE, o Fundo diz ser ainda “muito difícil de quantificar as suas repercussões potenciais” além do abrandamento neste período pós-referendo e início das negociações assim que a nova primeira-ministra britânica, Theresa May, accione o artigo 50.º do Tratado de Lisboa para retirar o país da comunidade europeia.

As projecções foram feitas num cenário “benigno” em que haverá uma “diminuição progressiva da incerteza, com um acordo entre a UE e o Reino Unido sem um grande aumento das barreiras alfandegárias, sem perturbações maiores nos mercados financeiros e consequências políticas limitadas”. Mas, avisa o FMI, não é de excluir um agravamento da situação, algo que considera uma forte possibilidade.

Em relação à zona euro, se para este ano as previsões até são ligeiramente melhores do que aquilo que o FMI projectava em Abril, as expectativas para 2017 são mais pessimistas. O cenário previsto é de um crescimento de 1,6% em 2016, 0,1 acima do anteriormente projectado, mas com a perspectiva de abrandamento no ano seguinte para os 1,4%, menos 0,2 do que a previsão anterior.

Também para as duas principais economias da moeda única o FMI reviu em alta a previsão para 2016 e baixou a do próximo ano. A Alemanha deverá apresentar um crescimento do PIB de 1,6% (0,1 acima face a Abril), abrandando em 2017 para 1,2% (0,4 abaixo do valor de há três meses).

Em França o Fundo espera uma progressão de 1,5% este ano (uma melhoria de 0,4 face a Abril) seguindo-se uma desaceleração para 1,2% no próximo (0,1 abaixo do valor de Abril).

A Europa e o Reino Unido (segunda maior economia da EU) são as regiões mais afectadas. Para a instituição liderada por Christine Lagarde, “o crescimento global, já lento, vai ressentir-se, colocando o ónus aos decisores políticos de fortalecerem os sistemas bancários e delinearem planos” para pôr em marcha o que o FMI chama de “reformas estruturais”, que considera “muito necessárias”.

O Reino Unido é o quarto maior mercado das exportações portuguesas. E ainda recentemente o Instituto Nacional de Estatística (INE) lembrava que, podendo o país passar a ter um acesso diferenciado ao Mercado Único Europeu, “com o eventual estabelecimento de tarifas alfandegárias nas transacções de bens entre o Reino Unido e a UE, a desvalorização da libra face ao euro, o clima de incerteza, assim como a possível contracção da economia e do consumo britânico, poderão afectar as exportações portuguesas”.

As alterações que decorrem do “Brexit” têm, sem surpresa, mais impacto na Europa e no Reino Unido, a segunda maior economia da UE, havendo “um impacto relativamente mitigado nos outros países, incluindo os Estados Unidos e a China”. Apesar disso, o crescimento dos Estados Unidos também foi revisto em baixa para este ano, passando dos 2,4% referidos em Abril para 2,2%. Para o ano seguinte a previsão mantém-se igual, com uma aceleração para 2,5%. O crescimento da China deverá ser de 6,6% este ano (menos 0,1 do que em Abril) e de 6,2% no próximo.

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