Pedem-se garantias sobre o futuro dos europeus no Reino Unido

Ministra do Interior admite que imigração pode aumentar até à saída britânica da UE. Denúncias de incidentes xenófobos quintuplicaram na última semana

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Uma sondagem indica que 84% dos britânicos defende a permanência dos europeus que já estão no país Odd Andersen/AFP

Theresa May, ministra do Interior e actual favorita à sucessão de David Cameron à frente do Governo britânico, admitiu neste domingo que a imigração europeia para o Reino Unido pode aumentar antes de se concretizar a saída da União Europeia. Sobre o que vai acontecer depois disso, a candidata a líder do Partido Conservador disse apenas que os direitos que os cidadãos comunitários gozam actualmente no país serão definidos nas negociações entre Londres e Bruxelas.

A imigração, mais do que as consequências económicas da anunciada saída, volta a impor-se no rescaldo do referendo à UE – como já antes tinha dominado a campanha –, sobretudo perante as notícias do aumento de incidentes xenófobos desde que os resultados foram anunciados. Segundo o site True Vision, criado pela polícia para facilitar a denúncia de crimes de ódio, entre dia 24 e a passada sexta-feira foram reportados 331 incidentes, ou seja, cinco vezes mais do que a média semanal anterior ao referendo.

Um grupo de activistas que usa uma ferramenta do Google para rastrear incidentes no país contou ao jornal Guardian ter sinalizado 200 ocorrências, do Sul de Inglaterra à Escócia e Irlanda do Norte.

No sábado houve manifestações de repúdio contra a xenofobia em diferentes cidades do país, as redes sociais encheram-se de iniciativas de solidariedade – com os imigrantes, mas também com os britânicos de diferentes raças e credos que se viram visados nos últimos dias – e organizações antifascistas preparam novas campanhas.

Mas para um grupo de políticos e empresários, entre eles alguns dos que lideraram as campanhas pela saída e pela permanência na UE, é preciso fazer mais. Numa carta conjunta publicada no Sunday Telegraph pedem ao Governo cessante e aos cinco candidatos à liderança dos tories – dos quais sairá o próximo primeiro-ministro – que “façam uma declaração inequívoca de que os imigrantes europeus que vivem actualmente no Reino Unido são bem-vindos e que as mudanças [decididas no âmbito das negociações de saída] se aplicarão apenas aos novos imigrantes”.

Um compromisso essencial

Os signatários – entre os quais o único deputado do UKIP, o partido antieuropeu que durante a campanha foi acusado de instigar a xenofobia – dizem que este compromisso é essencial não só para tranquilizar os trabalhadores europeus, como para assegurar que os cidadãos britânicos a viver na UE recebem as mesmas garantias e “também para enviar um claro aviso à extrema minoria, que pensa ter licença para atacar ou assediar imigrantes, de que os britânicos repudiam a sua visão”.

Um apelo idêntico ao feito pela líder do governo autónomo da Escócia, Nicola Sturgeon, que exigiu a Cameron e aos candidatos conservadores “garantias imediatas” para os 173 mil europeus que ali vivem. Uma sondagem divulgada neste domingo pelo Observer adianta também que 84% dos britânicos defende a permanência dos europeus que residem no país, uma percentagem que é também elevada entre os que votaram a favor da saída da UE (77%).

Mas as promessas do executivo têm sido mais limitadas. Na declaração em que anunciou a sua demissão, Cameron disse que nada irá mudar no estatuto dos trabalhadores europeus enquanto o país for membro da UE – posição que May reafirmou. Numa entrevista à televisão ITV, a candidata disse que “não haverá mudanças”, mas a situação futura dos imigrantes “terá de se ser um factor a ter em conta das negociações”. Questionada sobre se que quem já vive no país terá direito a permanecer para sempre, May limitou-se a responder: “bem, ninguém fica necessariamente num sítio para sempre”.

E mais à frente deu novos argumentos a quem, como o líder do UKIP, Nigel Farage, exige um travão imediato à imigração, ao admitir que nos próximos anos o número de chegadas aumente. “É possível que as pessoas queiram vir para cá antes que a saída aconteça – há factores que não podemos prever.”

A deputada trabalhista Yvette Cooper, uma das signatárias da carta enviada ao Telegraph, escreveu no Twitter que “não é suficiente que May diga que os cidadãos europeus que já estão a trabalhar devem esperar pelo fim das negociações para saber se podem ficar”. “Como ministra do Interior poderia dar-lhes garantias e pôr fim a esta horrível campanha em que são mandados ‘para casa’”.

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