Babysitting

O adolescente faz les 400 coups e tem Catherine Deneuve e Benoît Maginel ao seu serviço.

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O adolescente faz les 400 coups e tem Catherine Deneuve e Benoit Maginel ao serviço. Ela é uma juíza num tribunal de menores, ele é um instrutor. Vem parar-lhes às mãos Malony (Rod Paradot), o miúdo. Nem sobre ela nem sobre ele, Deneuve e Magimel, o espectador é levado a sentir curiosidade, o filme não se interessa por eles a esse ponto. O estatuto está fixo, estabilizado, não evolui, são figuras utilitárias, só existem para devotarem o seu cuidado profissional e o seu afecto de “pais” adoptivos a um “menino selvagem” (Deneuve tem a autoridade, a solenidade, de uma figura paterna; Magimel a doçura generosa das mães...)

O filme de Emmanuelle Bercot acaba também por fazer babysitting a um género, o do filme sobre adolescentes problemáticos, sentando-se  numa zona de conforto, afagando para iludir veleidades de rebeldia. Entre Truffaut e os Dardenne, a meio caminho e imobilizado – curioso que tenha sido destacado como outra hipótese de abertura de Cannes 2015 (leia-se: sem as fórmulas do entertainment; trabalhando as hipotéticas mais valias daquilo a que se chama filme de "temática social"), quando na verdade é em tudo um “tipo” de filme.

Nada é imprevisível – talvez haja um momento, uma frase, Malony a soprar à personagem de Magimel “je t’aime”... -, nem a violência, nem os gestos, nem os gritos. Ainda assim, por ele e pelo espectáculo dele, Rod Paradot, vê-se o filme. De fura-vidas como ele, que procuram um lugar e não descansam até que, finalmente, podem descansar, está o cinema dos Dardenne cheio – e sabemos como o caso dos belgas já é de um mecanismo em dificuldades. São dessa linhagem também as personagens dos filmes do João Salaviza, mas ponha-se lado a lado o paroquialismo de Bercot e as épicas movimentações de passagem da escuridão à luz das personagens do realizador do mal amado Montanha... e veja-se a diferença...

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