Inquérito à CGD: PSD age sozinho, PS e PCP empurram para Banco de Portugal

Os sociais-democratas não tinham falado na quarta-feira com nenhum partido sobre o inquérito à Caixa.

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Montenegro foi dos principais entusiastas de um inquérito à CGD Rui Gaudêncio

O BE está disponível a falar, mas com condições, e o CDS foi informado e assinará de cruz se for preciso, mas até ao final do dia de quarta-feira, o PSD ainda não tinha falado com nenhum partido sobre a comissão de inquérito à Caixa Geral de Depósitos (CGD), apesar de Luís Montenegro ter prometido enviar um texto para consensualizar com os bloquistas. No xadrez político sobre a Caixa, os socialistas e os comunistas puseram-se de fora da conversa, não concordando com o inquérito, e viram-se para o Banco de Portugal.

Os sociais-democratas não desistiram de impor uma comissão de inquérito e aproveitaram a disponibilidade do BE para reforçar a legitimidade da proposta. Ou seja, se conseguirem levar os bloquistas a concordar com o texto que estabelece as linhas orientadoras da investigação, acabam por ter o trunfo de defender a ideia de que não é uma questão de direita contra esquerda nem existe a intenção de "achincalhar a CGD", como acusou o PCP.

E foi por isso que o líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, se disponibilizou para enviar um texto aos bloquistas para consenso. O CDS já deu o sim garantido, mas os bloquistas impõem condições. O BE só aceita participar na definição do objecto se este não "se acantonar nos objectivos do PSD" e por isso querem "investigar tudo", decisões de vários governos e de várias administrações. Assim sendo, esperam para ver o texto que o líder parlamentar social-democrata lhes disse que iria enviar. 

O assunto não foi logo claro dentro do PSD. Ao longo dos últimos dias, a posição do partido foi sofrendo algumas alterações e a decisão não foi unânime de imediato. Da primeira vez que os sociais-democratas falaram sobre o assunto, na segunda-feira, quando entregaram 30 perguntas ao Governo, Duarte Pacheco até chegou a dizer que não se podia "banalizar o instrumento" da comissão de inquérito, apesar de não fechar a porta a essa possibilidade. Admitia que tudo "dependia das explicações que António Costa" desse ao Parlamento. Contudo, o anúncio da comissão de inquérito potestativa (ou seja, obrigatória) foi feito durante o decorrer do debate quinzenal, quando Costa ainda só tinha respondido ao PCP e a perguntas do PSD. Aliás, Luís Montenegro foi um dos principais entusiastas da iniciativa, apurou o PÚBLICO, mais do que Passos Coelho.

PS e PCP viram-se para o Banco de Portugal

Ao contrário do BE, que mostrou disponibilidade para debater o âmbito da investigação, o PS e o PCP colocaram-se de imediato contra a constituição da comissão de inquérito e não se mostraram sequer disponíveis para debater o âmbito da investigação - ou seja, que administrações e governos abrange.

Os dois partidos têm, no entanto, uma postura semelhante: não desejam uma investigação que se prolonge no tempo, em público e durante o processo de recapitalização, como seria o caso de um inquérito parlamentar, e empurram esclarecimentos para o Banco de Portugal. "Esperemos que o Banco de Portugal esclareça o que apurou na Caixa Geral de Depósitos e que intervenções fez", disse ao PÚBLICO o porta-voz do PS, João Galamba.

O PCP segue o mesmo caminho. "Não apoiaremos nunca este inquérito, mas não é apenas uma comissão de inquérito que serve para apurar factos", diz ao PÚBLICO o deputado do PCP, Miguel Tiago. E se passar por uma auditoria forense, como foi proposto pelo BE? O deputado diz que o partido ainda não tem uma posição definida, mas remete qualquer decisão para o regulador bancário: "O Banco de Portugal é que determina se há ou não auditorias, se houver o mínimo de indício ou a necessidade de apurar algum facto", defende.

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