Risco de o Zika se espalhar por causa dos Jogos Olímpicos é “muito baixo”, diz OMS

Comité de emergência não estabelece quaisquer restrições de comércio ou viagens nas áreas afectadas pelo vírus Zika. “O risco não é diferente [nos Jogos Olímpicos]”, afirmam.

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Técnico da Fundação Nacional de Saúde faz uma pulverização contra o mosquito Aedes aegypti Evaristo Sá/AFP

A Organização Mundial da Saúde (OMS) concluiu esta terça-feira que há um "muito baixo risco" de propagação internacional do vírus em resultado dos Jogos Olímpicos, que se realizam no Brasil, o coração do actual foco de casos ligados a malformações graves em recém-nascidos. O comité de emergência da OMS sobre o vírus Zika reafirmou o seu parecer, que defende que não existem "quaisquer restrições nas viagens e no comércio com os países e regiões" afectados pelo vírus, incluindo cidades do Brasil que acolhem os Jogos Olímpicos, que começam a 5 de Agosto, e os Jogos Paralímpicos, em Setembro.

A terceira reunião trimestral de peritos independentes para avaliar a epidemia do Zika coincidiu com a intensificação da manifestação de preocupações sobre a realização dos Jogos Olímpicos no Brasil, o país mais atingido pelo vírus. "Os riscos não são diferentes para as pessoas que vão para os Jogos Olímpicos do que para outras áreas onde existem focos de Zika", disse aos jornalistas David Heymann, presidente do painel de especialistas da OMS, no final da reunião. As autoridades brasileiras confirmaram mais de 1400 casos de microcefalia em bebés cujas mães foram infectadas pelo Zika durante a gravidez. Os bebés que nascem com microcefalia têm uma cabeça mais pequena do que o normal e podem sofrer de problemas graves durante o desenvolvimento. O vírus também tem sido associado à síndrome de Guillain-Barré, quando o sistema imunitário ataca o sistema nervoso periférico dos adultos, afectando o controlo do movimento dos músculos.

O presidente do Comité Olímpico Internacional, Thomas Bach, considerou a conclusão da OMS "muito positiva" para os jogos do Rio de Janeiro. A última reunião foi devida a uma carta redigida por Amir Attaran, professor de Direito e Medicina na Universidade de Otava, no Canadá, e assinada por um grupo de mais de 200 especialistas em bioética, advogados e especialistas em saúde. Os peritos instavam a OMS a alterar o local de realização dos Jogos Olímpicos ou adiar o evento por causa do risco de disseminação de Zika. Amir Attaran foi convidado para a reunião do comité de emergência da OMS, mas recusou assinar o acordo de confidencialidade exigido, e, por isso, não foi autorizado a participar no encontro.

Num documento distribuído na terça-feira por Amir Attaran e pelos seus colegas, o grupo exortou a OMS a recomendar o adiamento de todas as viagens "não essenciais" para áreas afectadas pelo Zika, o que incluía as cidades do Brasil que acolhem os Jogos Olímpicos. Porém, os especialistas da OMS recusaram esta sugestão, defendendo que não encontram "nenhuma razão para se diminuir as viagens para essas áreas", disse David Heymann, acrescentando: "O risco de propagação internacional não é uma preocupação significativa."

Bruce Aylward, director da OMS para as emergências, adiantou que 20% da população mundial vive em áreas afectadas pelo Zika e quase 30% das viagens internacionais são para dentro e fora destas áreas. "A proporção dessas viagens que será afectada pelos Jogos Olímpicos (é) muito, muito, muito marginal”, referiu.

Os peritos notam ainda que o Brasil está a entrar nos meses de Inverno, quando a transmissão da doença pelo mosquito (Aedes aegypti) é menor. Apesar de não colocar restrições a viagens, a OMS mantém os alertas dirigidos a viajantes que devem tomar medidas para se proteger de picadas de mosquito e evitar a transmissão sexual. A conclusão dos peritos da OMS "é acertada", considerou Lawrence Gostin, um especialista em direito da saúde da Universidade de Georgetown, em Washington D.C., nos Estados Unidos. "O risco de manter os Jogos Olímpicos é menor do que o risco de os cancelar ou adiar devido ao impacto económico e político que iria causar no Brasil", referiu. Porém, acrescentou: "Estou preocupado com o facto de a OMS e o comité olímpico colocarem todos os esforços de controlo do vector [do mosquito] no Brasil." Os peritos da OMS afirmam que o Brasil "continua o seu trabalho" para intensificar as medidas de controlo do mosquito, especialmente nas zonas que vão receber os jogos, e para "assegurar a disponibilidade de repelente de insectos e preservativos suficientes para os visitantes e atletas".

A OMS recomendou ainda que as mulheres grávidas evitem viagens para áreas afectadas pelo Zika e que os homens que forem infectados ou expostos ao vírus pratiquem sexo seguro (ou se abstenham de praticar sexo) durante um período de, pelo menos, seis meses.

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