4x4x2 ameno português não derreteu "iglu táctico"

Início de jogo com Portugal a actuar num esquema de 4x4x2, com os dois centrais (Ricardo Carvalho e Pepe) a construírem sem perturbação. Danilo, trinco com instruções meramente de cobertura, não participou no momento de ligação, exclusivamente a cargo de Moutinho, que recuava para receber e circular.

Os laterais participaram ofensivamente, principalmente Vieirinha, muito activo pelo corredor direito, tendo a noção perfeita de quando verticalizar jogo (cruzamentos), ou flectir para dentro e rematar (trocando de posicionamento com o médio ala do seu lado). André Gomes e João Mário iam trocando de posicionamento (esquerda/direita), mas estavam muito abertos, não aproveitando a propensão dos laterais, inábeis no auxílio a Moutinho no futebol apoiado e incapazes de servir a dupla de avançados, Ronaldo e Nani (muito distantes).

Fernando Santos percebeu isso e rectificou, pedindo apoios mais próximos e soluções de passe com maior nitidez. A linha média ficou mais junta da avançada, com André Gomes e João Mário mais interiores, permitindo triangulações envolvendo os laterais com os atacantes. Assim nasceu o golo português, com o adiantamento de Vieirinha em largura a encontrar André Gomes que assistiu Nani, finalizando ao primeiro toque um centro tenso e rasteiro.

A Islândia entrou estruturada em 4x4x2 com duas linhas de “4” bem definidas, em bloco baixo, numa atitude expectante, pretendendo organizar-se sempre bem atrás da linha da bola. Em momento ofensivo, apenas procuravam lançamentos longos para a zona dos centrais portugueses, não empreendendo qualquer tentativa de futebol apoiado.

Apesar da previsibilidade do seu processo, a imponência física e disponibilidade para ir ao choque da sua dupla de avançados (Sigbórsson e Böovarsson) foi sempre uma dificuldade para os defesas portugueses, com Pepe em destaque pela negativa (nunca ganhou a primeira bola nem os ressaltos subsequentes e foi muito lento a dobrar o lateral esquerdo Vieirinha).

A desarticulação entre estes dois elementos repetiu-se no lance do golo do empate islandês, com Pepe a largar Bjarnason (no coração da área) sem comunicar atempadamente a Vieirinha, que ficou especado a ver o adversário finalizar. Golo que premeia uma abordagem mais agressiva na segunda parte, com as linhas um pouco mais adiantadas (três sectores bem juntos). Esta modificação condicionou melhor a saída de bola portuguesa, obrigando o miolo a recuar para ajudar a construir (encolhendo a equipa nacional, que nunca mais recuperaria os posicionamentos anteriores).

Fernando Santos desfez o que de bom tinha alterado em termos tácticos na primeira parte (a colocação dos médios ala num posicionamento central). Na resposta ao golo, foi incompreensível a saída de Moutinho, o único jogador com critério de passe e capacidade para unir sectores (entrou Renato Sanches para conduzir e ultrapassar individualmente as zonas de pressão). Depois entraram Quaresma (para inventar algo genial sozinho) e Éder (procurando uma sobra na área), sem qualquer tipo de lógica colectiva previamente elaborada.

A Islândia formou um “iglu táctico” e recolheu-se novamente num “bloco de gelo compacto”, sem permitir lances de perigo nos minutos finais. O “4x4x2 ameno” de Portugal não “derreteu” a organização dos nórdicos. Esta estrutura deve ser repensada para os próximos encontros, visto que muitos jogadores estão fora das suas posições naturais. Analista de futebol

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