O velho conhecido Primavera Sound arrancou a sério com os Deerhunter

No arranque do festival, o muito público já presente ambientou-se ao som de Sensible Soccers ou Wild Nothings. Com os Deerhunter, a acção começou a sério. Estavam a chegar Animal Collective ou Sigur Rós.

No Parque da Cidade, do outro lado das vedações, passeia-se. Aos pares conversando nos bancos de jardim, tratando da forma em corrida pelos caminhos abertos entre a vegetação, “piquenicando” na relva. O taxista que nos conduz até ao NOS Primavera Sound, porque o parque do Porto é tão grande e ele não tem que saber tudo o que se passa, deixa-nos bem longe, na entrada principal, perpendicular à avenida da Boavista, que não é a entrada que interessa por estes dias – essa está na Circunvalação. Ali, não há corrida para manter a forma, mas há tertúlia na relva e pares, trios e grupos de pares e trios que se transformam em dezenas a acomodar-se ao espaço.

O arranque do NOS Primavera Sound, na tarde de quinta-feira, fez-se assim: o público chegava, os veteranos do festival reencontravam-se, os que vêm pela primeira vez batiam o espaço para saberem das suas andanças até sábado.

“Oh, vê só todo o verde e as árvores”, entusiasmava-se em inglês o grupo de americanos em passo rápido para chegar aos palcos, a zona onde decorria a acção. Por esta altura, a única preocupação eram as gotas de água que, esporadicamente, chocavam com um braço ou uma testa, prenunciando a sempre indesejada chuva que, até ao início da noite e apesar do céu nublado em Matosinhos, continuava ausente.

Já todos conhecemos o NOS Primavera Sound, o festival que agrupa história viva e presente a fervilhar, o festival que privilegia uma vivência melómana com a música como centro e a pressão publicitária como “dano” colateral. Quinta-feira, o primeiro dia, apresentaram-se como cabeças de cartaz os consagrados Animal Collective, tendo também destaque os Sigur Rós, banda de enormíssimo culto, os frenéticos rock'n'rollers Parquet Courts e as canções intrincadas de Julia Holter.

Antes de todos eles, pelas 17h, os Sensible Soccers, autores recentes de Villa Soledade, um dos grandes álbuns deste ano discográfico português, estrearam o festival com a sua música feita planar em lenta e cuidada ascensão. A confluência no mesmo corpo musical de partículas dub e house, space-rock, kraut-rock ou funk em iate num dia de Verão é uma preciosidade muito entusiasmante, mas não àquela hora, naquele contexto. Até ao início da noite, o muito público já reunido, formado pelos muitos estrangeiros à descoberta e pelos locais que, na sua maioria, já conhecem os cantos à casa, estavam mais interessados em ambientar-se e a indagar por onde andariam os amigos chegados de longe e de perto.

Por aquela altura, os concertos serviram, portanto, de banda-sonora. Assim foi com os Sensible Soccers, assim foi com as US Girls de Meghan Remy e o seu R&B nublado – faixas pré-gravadas, duas vocalistas e um cowboy guitarrista em aparições esporádicas –, assim foi com os Wild Nothings que, mais que uma banda, nos apareceram como representação genérica do dito indie da primeira década deste século: uma pitada de Cure e balanço New Order, um certo dramatismo Peter Murphy apimentado com recordações dos Echo & The Bunnymen, tudo citação e pouca assinatura própria. Nada de preocupante. Porque depois chegaram os Deerhunter de Bradford Cox e, com eles, com aquela música que troca as voltas à pop com sombras shoegaze e cintilar rock'n'roll de outros tempos, o Primavera Sound arrancava verdadeiramente.

Já todos tinham reparado que o palco Pitchfork mudou este ano de localização, plantando-se agora à entrada do recinto. Já todos teriam feito contas ao que aí vinha. Animal Collective e os outros destaques de quinta-feira. Brian Wilson, PJ Harvey, Beach House, Savages ou Cass McCombs, nomes para ver hoje. Air, Car Seat Headrest ou Ty Segall no sábado. Entre uns e outros, as descobertas e revelações em que o Primavera Sound é pródigo. Depois de devidamente instalado e ambientado, a isso se dedicará o público. A isso, de resto, o habituou este festival chamado NOS Primavera Sound.

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