Um congresso para discutir autárquicas e um referendo para apoiar Rui Moreira

As eleições autárquicas vão marcar o XXI Congresso do PS, que começa no dia 3, em Lisboa. Uma das questões em cima da mesa é o apoio do partido ao independente Rui Moreira, no Porto. Se houver reticências, Manuel Pizarro, do PS local, admite um referendo ou até eleições primárias.

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O acordo ficou concluído há pouco mais de um mês e o secretário-geral socialista terá concordado NELSON GARRIDO

Os socialistas vão reunir-se este fim-de-semana, em Lisboa, no XXI Congresso, e tudo indica que vão definir a orientação para as eleições autárquicas do próximo ano, um tema caro ao PS que quer continuar a liderar a presidência da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP). Eduardo Cabrita, o ministro que tem a tutela das autarquias, afirma categórico que “o PS discutirá no congresso as eleições autárquicas como a sua principal prioridade eleitoral” e Manuel Pizarro, líder do PS-Porto, acentua que “é absolutamente essencial que o partido aproveite a reunião magna para assumir uma estratégia paras as autárquicas”.

No panorama autárquico, o Porto assume, claramente, uma relevância política acrescida e o PS prepara-se para renunciar a uma candidatura própria e alternativa à do independente Rui Moreira, que cumpre o seu primeiro mandato autárquico à frente da câmara.

Nos bastidores socialistas há quem garanta que Rui Moreira e Manuel Pizarro já terão chegado a um acordo que permitirá ao partido liderado por António Costa ficar associado a uma vitória eleitoral na segunda cidade do país. Ao que o PÚBLICO apurou, o acordo ficou fechado há pouco mais de um mês e o secretário-geral socialista terá concordado com mais esta aproximação do PS ao independente. Mas nem todo o partido está de acordo. E àqueles que questionam o facto de o PS não se apresentar sozinho a votos em Outubro do próximo ano, o líder da distrital acena com um referendo entre os militantes ou mesmo com eleições primárias abertas a simpatizantes como forma de legitimar o acordo com Rui Moreira.

“Em algumas circunstâncias, gostaria de poder recorrer a eleições primárias para escolher candidatos ou soluções políticas que o PS venha a consagrar”, declara Pizarro, em declarações ao PÚBLICO. “Um partido como o PS não pode ter medo das pessoas quando se trata de escolher os seus candidatos. Não vejo ninguém que possa querer ser candidato socialista a uma qualquer autarquia de grande dimensão e ter medo de enfrentar a escolha dos cidadãos numas primárias”, observa o também vereador da Câmara do Porto.

Enquanto isso, em Lisboa

Em Lisboa, Fernando Medina não viu o seu apelo surtir efeito. O presidente da câmara defendeu o diálogo dos partidos de esquerda para uma eventual candidatura conjunta, mas nem BE nem PCP mostraram qualquer motivação. Pelo contrário. Na moção da lista que ganhou a Comissão Coordenadora Concelhia de Lisboa do BE, encabeçada por Ricardo Robles, afirma-se que o partido deve apresentar “uma alternativa à política actualmente prosseguida pelo PS, através de listas agregadoras das vozes activas da cidade, do mundo autárquico ao movimento social, pelo direito à cidade”.

Quanto ao PCP, que reuniu esta semana com OS Verdes por causa das eleições regionais dos Açores (Setembro/Outubro deste ano) e autárquicas (Setembro/Outubro do próximo ano), Jerónimo de Sousa é taxativo: “A nossa resposta foi sempre clara: a nossa forma de concorrer vai ser no quadro da CDU”.

A este propósito, Eduardo Cabrita sublinha que “cabe aos socialistas da cidade encontrar as formas de alargamento de uma grande plataforma para a mudança. Foi assim com António Costa, será assim com Fernando Medina”. Por seu lado, o presidente da distrital do PS-Porto – a maior federação do partido –, fala abertamente da importância de aproveitar a reunião magna para definir uma táctica eleitoral. “É absolutamente essencial que o PS aproveite o congresso para assumir uma estratégia para as eleições autárquicas e acho que ela tem algumas componentes que espero que sejam afirmadas no congresso”, declara Manuel Pizarro, elencando condições, a primeira das quais – aponta – “é que as eleições autárquicas sejam preparadas com rigor e com grande abertura”. Manuel Pizarro destaca que, relativamente ao Porto, “o que conta é o interesse da cidade”. Depois, dispara sobre os críticos: “Eu compreendo, mas não dou razão às pessoas que pretendem encontrar um qualquer interesse do PS que seja distinto do interesse da cidade”, diz, assumindo que “a não apresentação de uma candidatura à Câmara do Porto é uma possibilidade em cima da mesa”.

Eduardo Cabrita evita comprometer-se com uma posição, mas vai dizendo que segue, “de forma muito positiva, aquilo que é a participação do PS na Câmara do Porto numa plataforma progressista para a mudança na cidade, que foi assente naquilo que era a rejeição do modelo arcaico de governação simbolizado pela candidatura de Luís Filipe Menezes”.

Autárquicas à parte, outros socialistas entendem que o palco do XXI Congresso deve ser aproveitado para o partido discutir a governação de António Costa. O presidente da Associação Nacional dos Autarcas Socialistas (ANA-PS), Rui Santos, entende que “um partido que está no poder com uma maioria parlamentar [de esquerda] deve focar-se na governação”. No entanto, o também presidente da Câmara de Vila Real não fecha a porta a uma reflexão sobre as eleições locais de 2017. “O congresso é o fórum do partido e nele se deve discutir tudo, mas não se deve focar só nas autárquicas”, defende, atirando para o debate da reunião magna dos socialistas a questão da Europa.

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