França paralisada contra a nova lei do trabalho de Hollande

Decorrem protestos em todo o país. Em Nantes houve confrontos entre manifestantes e a polícia. Governo diz que não cede.

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Protestos em Marselha BERTRAND LANGLOIS/AFP
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Houve confrontos entre os manifestantes e a polícia em Nantes Stephane Mahe/REUTERS
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Milhares de pessoas defilaram no centro de Paris ALAIN JOCARD/AFP

Intensifica-se o braço-de-ferro entre o Governo francês e as centrais sindicais que estão em luta contra a reforma da lei do trabalho. O executivo, que hoje enfrenta uma greve geral e manifestações em todo o país, já começou a usar as reservas estratégicas de combustível, devido aos bloqueios nas refinarias e depósitos. O protesto envolve também os sectores dos transportes e, ontem, estendeu-se às centrais nucleares, ameaçando o abastecimento de electricidade.

O cenário está a inquietar a opinião pública, relata a AFP, que pressiona cada vez mais o Governo socialista do Presidente François Hollande e do primeiro-ministro Manuel Valls a recuar. Estes, porém, recusam ceder. A nova lei do trabalho foi aprovada no dia 10 de Maio. Temendo um “chumbo” no Parlamento — vários deputados do Partido Socialista, no Governo, ameaçavam votar contra —, Valls usou uma prerrogativa constitucional e aprovou o projecto de lei por decreto. Deve ainda ser discutido e votado no Senado.

Os protestos, que já se tinham iniciado (com greves a 5 e 9 de Abril), aumentaram de intensidade. Já depois da aprovação, sindicatos e organizações estudantis marcaram uma semana de protestos, que culminou com bloqueios a estradas, portos e refinarias — e resultou no anúncio, por parte do Governo, de que existem reservas de combustíveis para 115 dias, tendo sido já gastos “três dias” desde o início da contestação.

Os representantes dos trabalhadores dizem que a nova lei retira direitos e salários, além de abrir a porta aos vínculos contratuais precários. Pelo lado do Governo, esta reforma laboral é apresentada como a última grande mudança estrutural da presidência de Hollande.

“Acreditamos que este projecto ajuda ao emprego sustentável, permite a entrada no mercado de trabalho daqueles que são excluídos e sobretudo permite às nossas pequenas empresas a contratação”, disse o primeiro-ministro, defendendo a reforma.

“Tudo será feito para assegurar o abastecimento de gasóleo e gasolina”, prometeu ontem Hollande. “O combustível é um elemento indispensável do nosso trabalho. Se não pudermos abastecer os armazéns, as grande superfícies, vamos pôr a França de rastos”, disse Pascal Barré, um representante dos patrões da região parisiense. Ontem, seis das oito refinarias do país estavam paradas ou tinham reduzido substancialmente o seu ritmo de trabalho.

A polícia levantou 11 bloqueios junto de depósitos de combustível, mas vários departamentos administrativos racionaram a distribuição e requisitaram as estações de serviço para exclusivo abastecimento de transportes prioritários. Mesmo assim, o porta-voz do Governo, Stéphane Le Foll, rejeitou a ideia das requisições civis para as refinarias paradas.

O cenário pode agravar-se com a greve geral marcada para hoje, sobretudo porque foi feito um apelo a que as 19 centrais nucleares do país adiram ao protesto, o que pode afectar a produção de electricidade. Uma delas, Nogent-Sur-Seine, já votou pela adesão.

Os sindicatos fizeram saber que, enquanto o Governo não “dialogar”, “existe o risco de a mobilização se ampliar”, como disse à rádio France 1 Philippe Martinez, líder da CGT.

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