Costa é “um optimista militante”, Marcelo um “optimista racional”

Presidente da República espera por “novos dados” da execução orçamental antes de voltar a comentar as previsões do Governo.

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Marcelo está muito atento à execução orçamental Miguel Manso

Marcelo Rebelo de Sousa justifica com a sua idade o facto de ter um optimismo ser diferente do de António Costa. Questionado esta sexta-feira sobre o que queria dizer com o comentário que fez na véspera sobre o “optimismo crónico e ligeiramente irritante do primeiro-ministro”, o Presidente da República explicou que apenas quis afirmar que ambos são optimistas: “Temos é maneiras diferentes de ser optimistas”.

De António Costa, afirmou que, desde que foi seu aluno, sempre achou que era “um optimista militante”, enquanto ele próprio, “por ser mais velho, menos militante”. De si, diz ser “sempre um optimista racional”.

Seria então necessário, para ser mais racional, o Governo rever as previsões inscritas no Orçamento, para se aproximar das da União Europeia? Marcelo não foge ao tema, apenas o adia: “Vamos esperar, também não podemos passar a vida a fazer previsões. Vamos agora ver o que se passa mês a mês, e vamos falando”, disse. E prometeu voltar ao assunto em breve, eventualmente na próxima semana, quando for divulgada a execução orçamental de Maio. “Eu tenho apreciado e comentado caso a caso os dados que existem. Quando houver novos dados, eu comento”, prometeu.

Já no discurso do 25 de Abril, no Parlamento, Marcelo Rebelo de Sousa aconselhou realismo ao Governo, quando afirmou que os tempos não são fáceis: "Nem na evolução económica recente, ou em curso, que aconselha permanente atenção às previsões e seus reflexos financeiros. Sem dramas, que a rectificação de perspectivas é realidade a que nos habituámos ao longo dos anos. E é preferível à negação dos factos".

O Presidente falava à saída de uma conferência da Associação de Pensionistas e Reformados (APRe!), em Lisboa, em cujo encerramento interveio, onde enalteceu a “justa causa” desta associação cívica, que “teve a sorte de surgir no momento adequado”, num “contexto de esvaziamento de direitos”, e que encontrou “os porta-vozes adequados”, como a presidente Maria do Rosário Gama.

Ainda que tenha lembrado que hoje “o contexto é diferente, e a forma de agir tem de ser diferente”, sublinhou que “a vida política não se esgota nos partidos e nos parceiros sociais”. “O vosso dinamismo serve de acicate ao poder político”, frisou. “Não desmobilizem”, apelou, prometendo estar ao seu lado na “defesa da Constituição e dos direitos nela consagrados”. Mais à frente, sublinhou mesmo que "a nossa Constituição não é liberal, é uma Constituição social, que quer garantir os direitos económicos, sociais e culturais".

 

Debate sobre pensões sim, mas sem drama

Um dos temas que Marcelo sublinhou que deve continuar a ser tratado pela APRe! é o do sistema de pensões. "É um debate que só ganha em ser feito sem dramatização e sem uma coloração de natureza demasiado doutrinária ou ideológica", sublinhou, pedindo que seja feito com base em “factos, despido de pré-compreensões” que possam “condicionar a reflexão à partida”.

Sobre o futuro da ADSE, outro tema que também está em cima da mesa do Governo, afirmou ser “um problema complexo”, mas fez questão de notar que as novas tabelas já aprovadas “entram em vigor antes de completado o estudo” sobre a reconversão daquele sistema de saúde para a Função Pública, que só será conhecido em Julho. Mas não fez qualquer outro comentário.

Marcelo alertou também para a necessidade de encarar o envelhecimento “como um processo que se desenrola ao longo da vida e que tem de ser olhado dos dois lados da realidade”. Referiu-se ao mau exemplo aos casos de jovens que lançam apelos para que os mais velhos saiam dos seus lugares para eles os ocuparem e alertou para a necessidade de haver solidariedade entre todas as faixas etárias: “Não à guerra geracional", exortou.

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