Mude fecha para obras dia 15 e na reabertura deixa de ser gratuito

Edifício do Museu do Design e da Moda fecha, mas museu mantém-se activo noutros espaços com três exposições. Obras na "âncora cultural da revitalização da Baixa" custarão 6,4 milhões de euros.

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Fachada do Mude FRANCISCO LEONG/AFP
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O projecto do Mude contempla a utilização integral dos seus oito pisos e inclui uma esplanada num restaurante no seu terraço MUDE
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O terraço do Mude vai albergar um restaurante e uma esplanada de grandes dimensões Daniel Rocha
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O Mude alberga a Colecção Francisco Capelo de design de produto, de moda e gráfico Daniel Rocha
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Os cofres, no piso -1 do edifício, têm sido aproveitados como espaço expositivo Daniel Rocha
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O espaço do Mude, aqui num retrato do designer de moda português Felipe Oliveira Baptista, é conhecido pelas suas paredes despidas NUNO FERREIRA SANTOS
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Um dos projectos do Mude Fora de Portas é um mural do artista André Saraiva junto à Feira da Ladra, com azulejos Viúva Lamego MUDE

O edifício do Museu do Design e da Moda (Mude), em Lisboa, vai fechar para obras de requalificação no dia 15 de Maio e reabrirá em Setembro de 2017 com entradas pagas. Mas se o edifício encerra, o Mude continua, com programação Fora de Portas até ao final do ano que começa em Elvas e vem passar o Verão a Lisboa. Diálogos com a arte mas também os néons com letras de Lisboa e as tatuagens do início do século XX da capital fazem 2016. Já 2017 aponta para o arquitecto e designer Conceição Silva, para o industrial Fernando Seixas e para o designer Carlos Rocha. 

Instalado em plena Baixa de Lisboa, no antigo edifício do Banco Nacional Ultramarino (BNU), o Mude tinha previstas obras de reabilitação desde a sua inauguração, há sete anos. Foi quando abriu portas após a intervenção dos arquitectos Ricardo Carvalho e Joana Vilhena sobre o edifício de Cristino da Silva, que sedimenta várias camadas de trabalho arquitectónico ao longo das décadas, nomeadamente de Tertuliano Marques. A dupla criou condições para a instalação provisória do museu autárquico com "grande mérito" ao "recuperar a ruína e instalar-nos num espaço que era uma ruína", lembrou esta sexta-feira em conferência de imprensa o vereador do Urbanismo de Lisboa, Manuel Salgado. Quem conhece o espaço sabe que o Mude integrou na sua identidade a crueza das paredes e o estado work in progress e, para o arquitecto e responsável camarário, isso é "em parte uma razão do sucesso destes primeiros anos" do museu. 

O concurso público foi lançado no ano passado no valor de nove milhões de euros, mas as obras, cuja duração estimada é de 420 dias, estão agora orçamentadas em 6,480 milhões de euros, esclareceram a vereadora da Cultura da Câmara de Lisboa, Catarina Vaz Pinto, e a directora do Mude, Bárbara Coutinho.

Na conferência de imprensa foi apresentada a programação para 2016 do Mude, ou seja o Mude Fora de Portas, três exposições que se juntam às 58 feitas nestes sete anos. Abaixo as Fronteiras! Vivam o Design e as Artes! é a primeira viagem do Mude. Leva-o até ao Alentejo para dialogar com obras da colecção António Cachola do Museu de Arte Contemporânea de Elvas. A partir de dia 21 lá estará o primeiro pólo da mostra, mais focado "na relação com o objecto, o espaço e a arquitectura" nas artes e no design; em Lisboa, a 9 de Junho na Sala do Risco do Pátio da Galé inaugura-se o segundo pólo, centrado na "bidimensionalidade da tela". Estarão representados dezenas de nomes, de Alexander McQueen a Xana, passando por José Pedro Croft ou Gaetano Pesce.

Em Outubro - e possivelmente no Convento da Trindade -, Letreiros de Lisboa vai olhar para as luzes brilhantes desenhadas pelo gesto dos néons da cidade, património em risco comissariado por Rita Múrias e pelo projecto de conservação Letreiro Galeria. Já Catarina Pombo Nabais é a comissária e investigadora que mostrará um "espólio singular", como descreve Bárbara Coutinho: as tatuagens arquivadas no Instituto de Medicina Legal de Lisboa. São peles humanas de 1910/30, mas também imagens e histórias sobre a cidade, sobre a sua filosofia e geografia social e política, que fecham o ano nos Paços do Concelho.

Desde a sua inauguração, o museu, que tem como base a Colecção Francisco Capelo (adquirida pela autarquia) expôs muito design de produto (78% das peças que integram a colecção foram mostradas, contra 54% das peças de moda, por exemplo), recebeu 1,9 milhões de visitantes e acrescentou mais de 700 objectos ao seu espólio, que "cresceu muito pelas doações", indicou a directora, mas também pelas aquisições e pelo depósito de trabalhos de alguns nomes centrais do século XX da disciplina em Portugal.

A entrada no museu é gratuita desde a sua abertura em 2009, mas a cobrança de ingressos estava há muito em cima da mesa e não era aplicada pelas condições do edifício. O preço a aplicar em 2017 ainda não está firmado. Embora em 2014 o então presidente da Câmara António Costa tivesse considerado o recurso a fundos comunitários para ajudar a financiar a obra que deve começar entre Junho e Julho, Catarina Vaz Pinto frisou que a verba está integralmente consagrada no orçamento da câmara e que a cobrança de bilhetes futura não se prende com uma compensação do investimento feito mas sim com a "sustentabilidade" da instituição.

É com esse fim que a requalificação não vai apenas tocar em questões de segurança (nomeadamente preparação anti-sismo), acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida e conforto mas também devolver à instituição um espaço de restauração - haverá um restaurante com esplanada no terraço de 420m2 no 6.º piso - e uma loja no piso térreo. Ambas serão sob concessão, mas Bárbara Coutinho frisa que a loja (e livraria), que se vai focar no design iberoamericano, terá gestão conjunta e que visa a criação de uma marca Mude com objectos de designers e empresas convidadas. O espaço será projectado por Marco Sousa Santos. Um centro de documentação aberto ao público e a transferência das reservas de um espaço na zona oriental de Lisboa para a casa-mãe são outras das mudanças, com a directora a frisar a importância de se ganharem condições para ter um serviço educativo de facto e criar espaços para residências de designers. 

Entre a exposição permanente, que foi mudando ao longo dos anos, e as mostras temáticas, o Mude ocupou desde o piso -1, onde são os cofres, até ao 3.º piso como área expositiva. No edifício renovado, o plano é, em termos de estratégia, tratar o design na óptica do "processo e metodologia", mais do que no produto, pensando "a sua ética e responsabilidade social", diz Bárbara Coutinho. Ver "o design por dentro". E no que toca ao uso do espaço, o planeado é centrar as exposições nos pisos 1, 2 e 3 e deixar o 4.º às reservas e o 5.º ao laboratório de conservação.

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A obra vai ser lançada pela Sociedade de Reabilitação Urbana, indicou Manuel Salgado, e na reabertura do edifício o Mude poderá "cumprir plenamente a sua função", completou Catarina Vaz Pinto, falando no design como a área "em que a relação da economia e a arte é mais evidente" e sublinhando a importância de o museu e o sector trabalhar com os agentes portugueses, as empresas e as autarquias. O projecto arquitectónico está entregue aos serviços da câmara e é coordenado pelo arquitecto Luís Miguel Saraiva. 

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