Líder da Renamo escreve a Marcelo e diz que quer negociar com Governo moçambicano

Na carta, entregue durante a visita do Presidente português ao país, Dhlakama reivindica envolvimento da comunidade internacional no processo de paz.

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Dhlakama foi fotografado na Gorongosa no ano passado Jinty Jackson/AFP

O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, escreveu uma carta ao Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, dando conta da sua vontade de negociar a paz com o Governo moçambicano, desde que a comunidade internacional seja envolvida.

Na carta, reproduzida esta quarta-feira no semanário Canal de Moçambique e que foi entregue ao Presidente português 5 de Maio, durante o encontro que este manteve com a líder parlamentar da Renamo, Dhlakama manifesta a sua "predisposição para o alcance de uma solução negociada", definindo-a como "um imperativo nacional".

Afonso Dhlakama, que se encontra presumivelmente na serra da Gorongosa, centro de Moçambique, desde o final do ano passado, afirma estar "comprometido com a estabilidade" como condição para o desenvolvimento do país, mas reitera que a via negocial depende da participação da comunidade internacional.

"É nosso desejo e vontade que as questões que nos opõem ao Governo da Frelimo encontrem solução num diálogo franco e sério, em que o conhecimento, as experiências e contribuições dos nossos parceiros internacionais não sejam ignorados ou inferiorizados", declara o líder da oposição.

Após um encontro com o homólogo moçambicano, a 4 de Maio, Marcelo Rebelo de Sousa disse ter registado as palavras de Filipe Nyusi sobre a paz em Moçambique e considerou que é preciso esperar para saber como e de que forma Portugal poderá ajudar a esse objectivo.

"Não é possível antecipar que tipo de ajuda. Os amigos devem estar sempre disponíveis para ajudar os seus amigos e só as circunstâncias dirão em concrecto que tipo de ajuda, em que momento será necessário exercitá-la e qual é a forma de exercitação dessa ajuda", declarou.

Filipe Nyusi considerou, por seu lado, que é preciso dialogar com a Renamo sobre a crise política e militar que abala o país, antes de se falar de mediação internacional. "Se chegarmos a um momento em que há um litígio, um antagonismo fatal em que as pessoas não se acreditam, então fica necessário dar o passo que está à altura", afirmou.

Dhlakama estava convidado para o banquete oferecido pelo chefe de Estado português na sexta-feira em Maputo, mas a líder parlamentar da Renamo deu conta de que o presidente do seu partido estava impossibilitado de sair do local onde se encontra, mas acolheu positivamente a aproximação de Portugal ao processo de paz.

"Ele [Marcelo Rebelo de Sousa] está muito bem informado sobre o que está a acontecer em Moçambique e penso que, estando muito informado, está em condições de influenciar as partes para que haja uma solução mediada internacionalmente, como é a nossa pretensão, o mais rápido possível", disse Ivone Soares, após um encontro com o chefe Estado português.

Na carta agora divulgada, Afonso Dhlakama afirma ter "a expetactiva, como cidadão moçambicano e líder político", de que a visita de Marcelo Rebelo de Sousa "ajude a encontrar caminhos para a solução de alguns dos problemas que insistem em prevalecer no país".

No extenso documento, o líder da Renamo reitera as acusações dirigidas à Frelimo de praticar fraudes eleitorais, nepotismo, corrupção, apropriação dos recursos do país e ainda acções de repressão contra a oposição, incluindo assassínios políticos. "Ao perseguir esse caminho, a Frelimo acredita que facilmente eliminará a própria Renamo", afirma.

Dhlakama recusa responsabilidades na actual crise económica que o país atravessa e forte descida do investimento estrangeiro e argumenta que, pelo contrário, a Renamo tem estado a proteger importantes infraestruturas económicas de interesse não só nacional como regional", dando o exemplo de portos, estradas, gasodutos e a linha elétrica de Cahora Bassa.

O líder da oposição declina ainda ataques do braço armado do seu partido a alvos civis, nas principais estradas do centro do país, justificando que o Governo usa viaturas não militares para transportar os seus soldados para os confrontos com a Renamo e, "como seria de esperar, esses alvos são afectados".

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