Arábia Saudita acaba com o ministério do Petróleo

Remodelação governamental começa a pôr em prática plano de reformas económicas do reino.

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Ali al-Naimi era ministro do Petróleo desde 1995 Mohamed Nureldin Abdallah/REUTERS

O rei Salman da Arábia Saudita reestruturou o Governo, afastando o todo-poderoso ministro do Petróleo, Ali al-Naimi, e extinguindo mesmo o ministério. Em seu lugar, é criado o novo Ministério da Energia, liderado por Khalid al-Falih, até agora o administrador da petrolífera estatal, a Saudi-Aramco, e também titular da pasta da Saúde.

Desde 1995 que Naimi era ministro do Petróleo. O seu afastamento acontece quando a Arábia Saudita, o maior exportador mundial de petróleo, enfrenta uma situação desfavorável no mercado, com o preço do crude a cair de 100 dólares por barril para 30 (mais recentemente subiu para 40). Isto afectou brutalmente o Orçamento do Estado do reino, pois 90% das receitas provêm das vendas de petróleo. No entanto, Naimi, de 81 anos, tinha dado indicações de que desejava reformar-se, noticiou o Financial Times.

Outras mudanças no Governo, anunciadas por decreto real, parecem ter a ver com as mudanças na economia saudita que estão a ser lançadas sob a coordenação do príncipe Mohamed, filho do rei Salman – o plano Visão 2030 foi aprovado no fim de Abril. Entre outros pontos, Riad criou um fundo soberano e planeiam-se cortes nos empregos na função pública, reservados aos súbditos do reino, e também na enorme população imigrante, de cerca de três milhões de pessoas, que faz os trabalhos difíceis e mal pagos.

Foi ainda anunciado que Riad pretende emitir vistos turísticos, coisa que não faz agora. “Queremos estar abertos para as pessoas que negoceiam, para as pessoas que trabalham na Arábia Saudita, que investem na Arábia Saudita, e que nos visitam com objectivos definidos. E vamos estar abertos de novo para o turismo, numa base selectiva”, disse à Associated Press o príncipe Sultan, um dos filhos mais velhos do rei e responsável pela Comissão Saudita do Turismo e do Património Nacional.

A criação de um Ministério da Energia, com as pastas da Indústria e das Minas, em vez de simplesmente do Petróleo, vai nesse sentido. A escolha de Khalid al-Falih, até agora dirigente da Aramco, poderá ser significativa porque há a intenção de vender pelo menos 5% das acções da petrolífera, considerada a empresa mais valiosa do mundo, mas envolta em grande secretismo.

O novo Ministério da Água e da Electricidade passará a estar integrado no da Agricultura. O ministro da Agricultura, Abdul Rahman Al Fadhli, já tinha assumido a pasta interinamente em Abril, depois de o rei Salman ter demitido por decreto o anterior responsável pela Água e Electricidade. O príncipe Mohamed foi citado dizendo-se pouco satisfeito com o desempenho do ministro na aplicação das reformas sobre o consumo nos dois sectores, diz o jornal Gulf News.

No ano passado, a Arábia Saudita teve menos 390 mil milhões de dólares em receitas do petróleo do que tinha estimado, e o buraco no Orçamento chegou a 100 mil milhões de dólares, o maior de sempre. Face a estas reduções de rendimentos, é preciso fazer cortes, já que a população não paga impostos. Por exemplo, nos generosos subsídios ao consumo de água e electricidade – os primeiros aumentos nas tarifas foram anunciados no Orçamento do Estado apresentado em Dezembro.

Riad, que há muito tempo se interessa pela energia nuclear, está também a considerar seriamente a construção de centrais nucleares, além da aposta na energia solar. Estima-se que a procura por energia eléctrica suba cerca de 10% ao ano.

Nesta remodelação governamental foram ainda substituídos os ministros do Transporte, Comércio, Assuntos Sociais, Saúde e Peregrinação. Foi ainda criada uma nova Comissão de Cultura e Recreação.

 

 

 

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