Só Assad podia bombardear um hospital em Alepo, acusam todos

Morreram cerca de 200 pessoas em seis dias e hospital dos Médicos Sem Fronteiras foi atingido. Enviado da ONU fala na "catastrófica deterioração da situação nas últimas 24-48 horas".

Hospital al-Quds depois de ser bombardeado
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Hospital al-Quds depois de ser bombardeado Abdalrhman Ismail / Reuters
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Uma criança chora ao pé do corpo de um familiar morto nos bombardeamentos Karam Al-Masri / AFP

O Hospital Al-Quds tinha quatro médicos e 28 enfermeiros. Era uma estrutura fundamental na massacrada cidade de Alepo, no Norte da Síria. O exército de Bashar Al-Assad nega que o tenha escolhido como alvo, mas EUA e ONU dizem não não acreditar que tenha sido atingido por erro. Morreram pelo menos 27 pessoas, entre os quais pessoal médico..

Multiplicam-se os apelos a que o cessar-fogo que entrou em vigor a 27 de Fevereiro continue em vigor multiplicam-se, apesar de as negociações de paz sob a égide das Nações Unidas, em Genebra, se mostrarem infrutíferas. O maior obstáculo a um entendimento é precisamente o futuro do Presidente Assad.

Mas para os habitantes de Alepo, no Norte da Síria, o cessar-fogo decretado há dois meses na Síria está morto e enterrado, com a intensificação dos bombardeamentos. Desde 22 de Abril já morreram cerca de 200 pessoas e várias centenas ficaram feridas em ataques quase diários pelo Exército sírio, relata o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, uma organização com sede em Londres e informadores no terreno, citado pela AFP.

Jan Egeland, o chefe da missão de assistência humanitária da ONU na Síria, diz que “houve uma deterioração catastrófica da situação nas últimas 24-48 horas”, em Alepo e também em algumas zonas de Homs, mais a Sul, em direcção à fronteira com o Líbano.

"Não há dúvidas sobre a gravidade da situação", acrescentou. O bombardeamento ao hospital Al-Quds, apoiado pelos Médicos Sem Fronteiras, destruiu uma estrutura vital na cidade de Alepo. "Este ataque devastador destruiu o principal centro de referência para os cuidados pediátricos na área", disse a chefe da missão dos MSF na Síria, Muskilda Zancada. Ali trabalhavam oito médicos e 28 enfermeiros a tempo inteiro. Neste momento, há apenas uma estrada para entrar e sair da zona não-governamental, aumentando o risco de cerco, avisa a organização.

O Departamento de Estado norte-americano sublinha que apenas o regime sírio esteve envolvido no bombardeamento ao hospital, e a Casa Branca, através do seu porta-voz, diz estar “particularmente chocada” e pede à Rússia que “influencie” Damasco para evitar estes ataques “repreensíveis”. Moscovo assegura que não foram os seus aviões a bombardear o hospital.

Alepo tem sido o centro de uma escalada militar que levou ao colapso das negociações de paz nas últimas semanas. Os raides aéreos na madrugada de quinta-feira são vistos como o prelúdio para uma grande ofensiva governamental para tomar a cidade. Um dos principais jornais pró-regime, o Al-Watan, defendeu em editorial o lançamento da “batalha pela libertação completa” de Alepo. 

A oposição armada controla o Leste, mas está cercada pelas forças governamentais e a única ligação ao resto da cidade é feita por um corredor estreito, explica o The Guardian

Nervosismo de Damasco

Mas Damasco dá sinais de nervosismo, ao denunciar a chegada de 150 militares norte-americanos ao Nordeste da Síria, uma zona controlada pela milícia curda YPG, que considerou uma “agressão óbvia”.

Para agravar a situação, tem havido grandes combates a Norte de Alepo entre guerrilheiros apoiados pelos Estados Unidos e outros grupos rebeldes avança o Observatório Sírio para os Direitos Humanos. A aliança das Forças Democráticas da Síria, que inclui a milícia curda YPG, a mais eficaz aliada norte-americana, tem lutado contra grupos apoiados que também são apoiados por países estrangeiros através da Turquia.

Nos mais recentes combates, na quarta-feira, nas aldeias de Ain Doqneh e al-Bayluniya, a cerca de 15 km da fronteira com a Turquia, morreram pelo menos 11 guerrilheiros das Forças Democráticas da Síria e 53 de outros grupos, diz a Reuters, citando o observatório.

Estes grupos lançaram um ataque para tentar recuperar território aos combatentes apoiados pelos EUA – com o apoio implícito de Ancara, que não gosta de ver os guerrilheiros curdos a aproximarem-se da sua fronteira, por receio de que o território para todos os efeitos independente que criaram no Nordeste da Síria se alargue até ao seu Sudeste, onde a maioria da população é curda.

Perante este complicado cenário, não é de admirar que a terceira ronda de negociações de paz tenha terminado quarta-feira sem progressos, depois de os principais representantes da oposição se terem afastado, em protesto contra a degradação da situação humanitária e as violações da trégua.

A Rússia propôs ainda que o Conselho de Segurança da ONU ponha na lista negra das organizações terroristas dois grupos rebeldes sírios, o Jaish al-Islam e o Ahrar al-Sham, acusando-os de terem ligações à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico. Se nenhum membro do Conselho de Segurança se opuser até às 19h TMG de 11 de Maio, estas formações serão adicionadas à lista de sanções, disse uma pouco satisfeita fonte diplomática à Reuters. Este passo “não ajuda nada. Está apenas a tentar dividir a oposição”.

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