O que aconteceu à ginástica no país de Nadia Comaneci?

Pela primeira vez desde 1968, a Roménia não terá uma equipa feminina nos Jogos Olímpicos.

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Larisa Iordache deverá ser a única representante da Roménia nos Jogos Olímpicos do Rio PHIL NOBLE/REUTERS

Mundial de futebol sem o Brasil? Nunca aconteceu. Mundial de râguebi sem a Nova Zelândia? Não. Mundial de críquete sem as Índias Ocidentais? Também não. É mais ou menos como ver uma competição feminina de ginástica nos Jogos Olímpicos sem a equipa da Roménia, mas será exactamente isso que vai acontecer no Rio de Janeiro. Pela primeira vez desde 1968, o país de Nadia Comaneci não vai apresentar uma equipa feminina nos Jogos, fruto de uma combinação de azares e problemas estruturais. Ainda poderá apresentar uma atleta nas provas individuais, mas já é certo que irá ser quebrada a mais longa série da modalidade em termos de medalhas olímpicas.

No medalheiro total da ginástica artística olímpica (homens e mulheres), a Roménia é a quarta nação com mais medalhas (71), das quais 25 são de ouro, estando apenas atrás da União Soviética (182, 27 de ouro), dos EUA (102, 32) e do Japão (95, 29). A equipa feminina não falhava uns Jogos desde 1968, na Cidade do México, e detinha, desde Montreal 1976, o recorde de longevidade na disciplina em termos de posições de pódio – três títulos olímpicos (1984, 2000 e 2004), quatro medalhas de prata e três de bronze. Esse recorde chegou ao fim porque as romenas falharam a qualificação no evento-teste que se realizou no Rio de Janeiro, e que atribuía as quatro restantes vagas para a prova por equipas – apuraram-se Brasil, Alemanha, Bélgica e França, enquanto a Roménia foi sétima entre oito equipas.

Noutros tempos, a Roménia nem sequer precisaria de estar neste evento de qualificação. Já teria garantido o seu lugar no Mundial, que qualifica as oito primeiras equipas, mas isso esteve bem longe de acontecer nos Mundiais de Glasgow em Outubro do ano passado. A equipa romena classificou-se num incrível 13.º lugar e nem sequer foi à final, sendo que o colectivo feminino romeno já foi sete vezes campeão do mundo (o último título é de 2001), tendo subido ao pódio pela última vez em 2007 (bronze) e com quartos lugares nos três mundiais que se seguiram.

A Roménia ainda terá direito a ter uma ginasta no Rio de Janeiro – que será, provavelmente, Larisa Iordache, medalha de bronze nos Mundiais de 2015 e que falhou a prova carioca devido a uma lesão no dedo -, mas será pouca consolação para o país que deu ao mundo Nadia Comaneci, o primeiro “10” da ginástica olímpica, em Montreal 1976. “Não sei se alguma vez vamos voltar a ver a Roménia como uma das quatro melhores nações na ginástica. O país é pobre e não têm tantas infra-estruturas de topo como os seus rivais. Ainda tem estrelas individuais, mas países como a Grã-Bretanha, o Canadá ou a França já passaram à frente”, analisa o treinador canadiano Rick McCharles citado pelo “Guardian”.

Os defeitos apontados à situação actual da ginástica romena são, para além da falta de condições de treino, a constante mudança na direcção técnica da selecção romena, o que, tudo somado, diminui a “poule” de ginastas no país e que tem obrigado à chamada de atletas que já se tinham retirado – Catalina Ponor, tripla campeã Olimpica em 2004 e que se tinha retirado após os Jogos de Londres 2012, voltou à competição em 2015, com 28 anos. Nadia Comaneci acredita que o seu país vai, em breve, voltar a ser grande na ginástica: “Nós, os romenos, temos a ginástica no sangue. Não podemos andar a chorar, mas arranjar uma estratégia que resulte. Os atletas romenos têm talento. Quando aparecemos, ninguém sabia quem nós éramos, e o segredo era apenas um: trabalhávamos mais que os outros.”

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