Presidente pede “o máximo de consenso possível” sobre o sistema financeiro

Em Estrasburgo, onde esta quarta-feira fala ao Parlamento Europeu, Marcelo afirmou-se satisfeito com a solução encontrada para o BPI. E sugeriu que um eurodeputado pode vir a ser chamado a breve prazo para um lugar-chave das relações do sistema financeiro com as instituições europeias.

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Marcelo espicaçou curiosidade de jornalistas e eurodeputados com alusão a mistério que ultrapassa a competência — mas não o conhecimento — do Presidente da República Guilherme Marques

É mais um apelo do Presidente da República ao consenso, mas agora num sector muito sensível e onde a harmonização de vontades é muito mais difícil: o sistema financeiro. “É uma questão importante, que a todos preocupa, sobre a qual há vários pontos de vista, mas o máximo que se puder consensualizar no sistema financeiro é bom, para que não dependa dos governos e de flutuações conjunturais ou realidades orçamentais”, afirmou esta terça-feira Marcelo Rebelo de Sousa, em Estrasburgo.

Falando aos eurodeputados portugueses de todos os partidos na residência do embaixador de Portugal junto do Conselho da Europa — o anunciado ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes —, na véspera de intervir no plenário do Parlamento Europeu, o chefe de Estado sublinhou a importância e delicadeza do tema. “Não há crescimento económico, se não houver financiamento da economia e este passa pelo sistema financeiro português, com o contributo fundamental do investimento externo”, sublinhou, sem escamotear que se trata de “uma matéria muito sensível” e sobre a qual há opiniões muito divergentes.

Ele próprio, que já mudou de posição sobre a natureza pública da Caixa Geral de Depósitos como deixou claro no domingo, a propósito dos 140 anos desta instituição, veio agora enaltecer o acordo alcançado entre o BPI e o Caixabank, embora sem o referir expressamente. “Já o disse e repito: por estranho que pareça, acabei por ficar satisfeito com o facto de uma das peças deste puzzle complexo ter podido resolver-se sem consequências que poderiam ser complexas em termos institucionais e com virtuais incidências públicas globais que assim não existiram”.

Referia-se às multas que o Banco Central Europeu se preparava para aplicar ao banco liderado por Fernando Ulrich, caso não encontrasse uma solução para a exposição ao capital angolano.

O consenso que pediu não se limitava, na verdade, apenas às instituições nacionais: “O máximo que se puder consensualizar no quadro das relações com as instituições europeias é bom, uma vez que vivemos hoje perante uma realidade nova, desde há cerca de dois anos, e que é a realidade de poderes de instituições europeias [Banco Central Europeu] sobre o sistema financeiro”, sublinhou. Assim voltava a justificar o convite que dirigiu ao presidente do BCE, Mario Draghi, para a reunião do Conselho de Estado e o almoço com o primeiro-ministro e o ministro das Finanças, na semana passada.

Marcelo usou, desta vez, uma linguagem mais encriptada do que é hábito e não se referiu expressamente a alguns dos dossiers que, enquanto chefe de Estado, acompanha. Mas não resistiu a deixar algumas pistas. Como quando, a propósito da “coincidência” de estar a falar na residência de um embaixador que está prestes a assumir funções governativas, sugeriu que um dos presentes — um eurodeputado português, homem ou mulher — poderá em breve vir a ser chamado a assumir outro tipo de funções.

“O mundo é pequeno, estava eu a falar de instituições financeiras e acontece, quem sabe, se não haverá aqui perdas, relativas, porque há enriquecimento noutras áreas, de quem em qualquer caso tem uma posição muito útil para continuar a fazer a ponte com as instituições europeias no domínio financeiro. Mas isso é matéria que ultrapassa a competência — mas não o conhecimento — do Presidente da República”, afirmou.

De seguida, prestou homenagem aos eurodeputados, cujo “nível excepcional” enalteceu, lembrando que por este cargo já passaram “um antigo Presidente da República, antigos candidatos presidenciais, antigos candidatos a liderança de partidos e do Governo, antigos ou futuros primeiros-ministros, responsáveis aos cargos mais importantes da sociedade portuguesa”. Por essa altura, Paulo Rangel e Marisa Matias já trocavam murmúrios, enquanto muitos outros — como Elisa Ferreira ou Ana Gomes, Nuno Melo ou Marinho e Pinto sorriam mais ou menos para dentro.

Voltando às inconfidências, estas menos secretas, Marcelo agradeceu mais uma vez a hospitalidade do seu antigo colega de Faculdade e ainda embaixador Castro Mendes e revelou ter convidado os novos ministro e secretário de Estado da Cultura para, na noite da sua tomada de posse, amanhã, assistirem com ele à estreia de uma peça de Moliére, no Teatro Nacional D. Maria II, onde Miguel Honrado tem sido até agora administrador. Trata-se de O Impromptu de Versalhes, uma comédia em que o dramaturgo francês se representa a si próprio, com o desafio de escrever e encenar uma peça para o rei em apenas oito dias. O ainda embaixador revelou logo ali que o convite já foi aceite por ambos.

A jornalista viajou a convite do Parlamento Europeu 

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