Os 500 milhões de ajuda da Caixa que não chegaram a tempo

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Jorge Tomé ainda procurou utilizar a hipótese de um crédito de um banco público. Não teve resposta Enric Vives-Rubio

Em pleno terramoto, depois da notícia da TVI que dava conta do fim do Banif, e procurando suster a fuga de depósitos que se verificava, o Banco de Portugal e o Ministério das Finanças ponderaram usar uma linha de crédito da Caixa Geral de Depósitos, com garantia do Estado, até ao valor de 500 milhões de euros.

A solução foi discutida, na terça-feira, 15 de Dezembro, entre o vice-governador do Banco de Portugal, e responsável pelo Fundo de Resolução, José Berberan Ramalho, e o secretário de Estado Adjunto e das Finanças, Ricardo Mourinho Félix, confirmou o PÚBLICO junto de fonte oficial. Aí, os dois responsáveis terão acordado que o Banif poderia recorrer a um empréstimo extraordinário, que não poderia exceder os 500 milhões, para fazer face a uma situação de liquidez dramática.

Nessa terça-feira, Luís Amado, o presidente do conselho de administração (não executivo) do Banif, esteve no Ministério das Finanças. Amado temia um problema de liquidez iminente. O próprio primeiro-ministro considerou que esse era o momento para partilhar a extensão do problema Banif com os partidos representados no Parlamento. António Costa chamou então os líderes das bancadas de PSD, PS, BE, CDS, PCP, PEV e PAN para conversas na residência oficial, em São Bento. 

Na Comissão Parlamentar de Inquérito ao fim do Banif, o antigo responsável pela administração do banco, Jorge Tomé, descreveu assim a semana final: "Depois da notícia da TVI, na semana de 14 a 18 de Dezembro, o Banif perdeu 960 milhões de euros de depósitos, 16% da sua carteira de depósitos." Para Tomé, o impacto da notícia "deixou o banco numa posição muito delicada, obrigando o Banif a recorrer às famosas ELA [linhas de liquidez de emergência]. Nunca o Banif tinha tido que recorrer a estas linhas, nem na pior fase. Este episódio da notícia da TVI dita em definitivo o fenómeno da resolução do Banif.” "Se não tivesse havido o episódio TVI o Banif teria uma situação normal de liquidez tal como sempre teve. O negócio bancário assenta na confiança. O pilar do equilíbrio da liquidez ruiu entre 14 e 18 de Dezembro, por causa da notícia da TVI a 13 de Dezembro", acusou Jorge Tomé.

A hipótese esteve em cima da mesa até quinta-feira, 17 de Dezembro, confirma ao PÚBLICO fonte do Ministério das Finanças. Aí, já depois de anunciada a suspensão do estatuto de contraparte do Banif, pelo Banco Central Europeu, o assunto foi encerrado. Até porque nessa quinta-feira – a última antes da resolução – a sangria de liquidez parecia estancada.

No entanto, como revelou a TSF, esta terça-feira, a administração de Jorge Tomé ainda procurou utilizar a hipótese de um crédito do banco público. Numa carta enviada ao Banco de Portugal, na sexta-feira, 18 de Dezembro, o Banif alegou – segundo cita a TSF - que necessitava de "mitigar o impacto da situação excepcional" que o banco atravessava e a "incerteza em torno do processo de venda" causada por "notícias alarmistas e infundadas difundidas pela comunicação social, e que provocaram forte instabilidade e desconfiança junto dos clientes do banco".

Não chegou a haver resposta. No fim desse dia, depois de uma reunião no Ministério das Finanças com a administração do BdP, o Governo chamou a administração do Banif. Que na segunda-feira seguinte já não voltou a abrir portas. O negócio tinha sido vendido ao Santander.

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