Substituto de Dilma, Michel Temer já prepara discurso pós-impeachment

Num ensaio gravado, o vice-presidente promete manter os programas sociais emblemáticos dos governos do PT.

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Vice-presidente há cinco anos, Temer incompatibilizou-se com Dilma em Dezembro REUTERS/Ueslei Marcelino

O vice-presidente do Brasil, Michel Temer, já anda a treinar o discurso que fará ao país se o impeachment de Dilma Rousseff for aprovado no próximo final de semana pela Câmara dos Deputados. Como é que se sabe? Uma mensagem áudio de Temer, o substituto natural da Presidente em caso de impeachment (destituição), foi enviada por acidente esta segunda-feira para um grupo de Whatsapp de membros do partido do vice-presidente, o PMDB, e divulgada pela imprensa brasileira.

Na gravação, de 14 minutos, Temer discursa como se o impeachment tivesse sido aprovado na Câmara dos Deputados e apresenta o seu “programa” de Governo, caso venha a assumir o cargo da Presidente. Ele afirma que “é preciso um Governo de salvação nacional e, portanto, de união nacional”, para pacificar e reunificar o país. Ele defende que é necessário “prestigiar a iniciativa privada” para incentivar o investimento e retomar o crescimento da economia e promete manter os programas sociais emblemáticos dos governos do PT (Partido dos Trabalhadores), entre eles o Bolsa Família.

Os assessores de imprensa da vice-presidência confirmaram, depois da divulgação do áudio, que se tratou de um “ensaio” de Temer para o caso de o impeachment da Presidente Dilma Rousseff vir a ser aprovado na Câmara. O próprio vice-presidente deu uma conferência de imprensa mais tarde, admitindo que a sua ideia era enviar a gravação para um amigo mas acabou por enviar para um grupo de Whatsapp “por equívoco”.

A divulgação do áudio contrasta com a postura pública de Temer, que quer passar a imagem discreta de um estadista que não está a disputar o poder nem envolvido directamente no afastamento de Dilma. A imagem, como o próprio diz na gravação, de alguém que “há mais de um mês” se recolheu “exacta e precisamente para não aparentar que estaria cometendo algum acto, praticando algum gesto com vistas a ocupar o lugar da senhora Presidente da República”.

Vice-presidente há cinco anos, Temer incompatibilizou-se com Dilma em Dezembro, assim que o pedido de impeachment foi acolhido na Câmara dos Deputados. A gravação do seu discurso foi divulgada ao mesmo tempo que, no Congresso, uma comissão especial de deputados discutia e se preparava para votar se Dilma devia ser ou não alvo de um processo de impeachment. Vários deputados citaram a gravação de Temer durante a sessão como prova de que existe uma conspiração ilegítima para tirar a Presidente do cargo.

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