ONU defende trégua na Síria: "Pode ser frágil, mas existe"

Regime continua a combater aliança de rebeldes e jihadistas no Sul de Alepo, mas assegura que regressa a Genebra sem "pré-condições" para discutir transição política.

Foto
Forças leais ao regime em patrulha nos arredores de Alepo, onde combatem há mais de uma semana uma ofensiva rebelde e jihadista. George Ourfalian/AFP

O enviado especial das Nações Unidas para a Síria discutiu em Damasco o momento de especial fragilidade na trégua em vigor desde o final de Fevereiro, um dia depois de figuras governamentais terem prometido uma grande campanha militar para reconquistar Alepo aos rebeldes e jihadistas que controlam a cidade. “Abordámos e discutimos a importância de proteger e manter a cessação de hostilidades, que pode ser frágil, mas existe”, disse Staffan de Mistura, no final de um encontro com o ministro sírio dos Negócios Estrangeiros.

De Mistura aterrou no domingo na capital síria numa primeira paragem pelo Médio Oriente, onde prepara a nova ronda de negociações de paz em Genebra, agendada para o final desta semana. Forças fiéis ao regime combatem há mais de dez dias uma aliança composta por jihadistas ligados à Al-Qaeda e rebeldes extremistas. Os confrontos dão-se ao longo de uma frente com cerca de 20 quilómetros, no Sul de Alepo, e são até agora a maior ameaça à trégua negociada entre a Rússia e Estados Unidos.

“Devemos assegurar-nos que a [cessação de hostilidades] se preserva mesmo diante incidentes contidos”, disse Staffan de Mistura, citado pela AFP. O embaixador reconhece que não se fizeram grandes avanços na primeira fase de negociações, mas afirma que a partir de agora o processo será mais ambicioso. “A próxima fase das negociações será crucial para nos concentrarmos na transição política, na governação e nos princípios constitucionais.”

O ministro sírio dos Negócios Estrangeiros prometeu que a delegação de Damasco viajará para Genebra sem “pré-condições”. Regime e oposição no exílio — representada como Alto Comité de Negociações, aliança patrocinada pela Arábia Saudita — não se encontraram ainda frente-a-frente por discordarem daquilo que deve ser o processo de transição política: Damasco recusa-se a negociar a saída de Bashar al-Assad e oferece em vez disso cargos ministeriais a dissidentes; já a oposição diz não aceitar um órgão de transição com o Presidente sírio.

Segundo a agência estatal síria, Sana, o ministro Walid Mouallem culpou a aliança de jihadistas e rebeldes pela fragilidade da trégua, alegando estarem a agir sob ordens da Arábia Saudita e Turquia para sabotarem as negociações de paz. “[Mouallem] reafirmou a posição síria sobre a solução política para a actual crise e a implicação [do regime] no diálogo sírio, dirigido por sírios e sem pré-condições”, escreveu a agência no final do encontro desta segunda-feira. 

Sugerir correcção
Ler 2 comentários