O futebol não escapa: Messi, Platini e Real Sociedad sob suspeita

Escândalo provocado pelos Panama Papers envolve actuais e antigas referências do desporto. E pelo menos um clube.

Messi não joga há quase dois meses
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Lionel Messi desmente qualquer irregularidade AFP PHOTO / LLUIS GENE
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Michel Platini mais uma vez sob suspeita
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Darko Kovacevic, em 2003, na Real Sociedad Pablo Sánchez/Reuters
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Iván Zamorano no Inter Milão, em 1998 Henry Romero/Reuters

Lionel Messi e Michel Platini não têm tido vida fácil no que à gestão financeira diz respeito. O jogador argentino e o dirigente francês, recentemente envolvidos em processos baseados em suspeitas de fuga ao fisco e de pagamentos ilícitos por parte da FIFA, respectivamente, vêem agora os seus nomes arrastados para o turbilhão provocado pela divulgação dos Panama Papers. E não são o únicos representantes do mundo do desporto.

No caso do craque do Barcelona, de resto, haverá ligações com o anterior caso em que foi acusado de fraude fiscal. Segundo o canal de televisão espanhol La Sexta, Lionel Messi terá reagido a esse processo que lhe foi movido em Espanha com a compra de uma sociedade no Panamá com o intuito de a utilizar como fachada para ocultação de bens, em concreto os proveitos decorrentes da exploração dos seus direitos de imagem.

A família do jogador veio nesta segunda-feira a público desmentir esta versão, garantindo que são "falsas e injuriosas as acusações de uma nova rede de evasão fiscal e de branqueamento de capitais". "A sociedade do Panamá a que se referem as notícias é uma companhia inactiva, que nunca teve fundos nem contas-correntes abertas e que deriva da antiga sociedade criada pelos anteriores assessores fiscais da família Messi", pode ler-se num comunicado.

Acrescentam os familiares do número 10 do Barcelona que todas as obrigações fiscais "foram regularizadas a seu tempo" e que foram declarados ao Fisco "todos os proveitos que decorrem da exploração dos direitos de imagem".

Platini e a Balney Enterprises Corp.

Ainda a lidar com as consequências de um negócio duvidoso com a FIFA, que lhe valeu a suspensão de funções e o fim da candidatura à liderança do organismo, Michel Platini tem agora de debater-se com mais uma nuvem de poeira. De acordo com o jornal Le Monde, o ex-presidente da UEFA terá utilizado os serviços da Mossack Fonseca para administrar uma sociedade offshore criada em Dezembro de 2007, no Panamá, e denominada Balney Enterprises Corp.

A sociedade em causa estaria ainda activa e deteria uma conta num banco suíço, o Baring Brothers Sturdza SA, tendo Platini já afirmado que a totalidade das suas contas e dos seus bens "é conhecida da administração fiscal suíça".

Em comunicado, o antigo internacional francês - que tem residência fiscal na Suíça desde 2007 - sublinha apenas que se reserva o direito de reagir "a eventuais informações falsas, alegações ou frases difamatórias que sejam publicadas".

As Ilhas Virgens britânicas

Outra antiga glória, mas do futebol chileno, também surge mencionada neste documento. Trata-se de Iván Zamorano, goleador do Real Madrid e do Inter Milão na década de 1990, que é associado à Fut Bam International, sociedade que geria os seus direitos de imagem - uma das principais fontes de receitas do jogador - a partir das Ilhas Virgens britânicas. 

Foi também neste território que foi registada a sociedade offshore Umbelina SA, criada em 2013 para a compra de um iate registado nas Ilhas Caimão com um preço estimado em 2,8 milhões de dólares. A esta operação está associado o nome de Jérôme Valcke, ex-secretário geral da FIFA banido por envolvimento no caso de corrupção que dinamitou o organismo.

"O barco que adquiri na altura estava guardado nas Ilhas Virgens", explicou ao Le Monde o antigo dirigente, garantindo que a sociedade "já não existe" e que "jamais teve actividade comercial". "Este barco é o que existe de mais legal e está declarado na relação de bens que possuo", acrescentou.


Real Sociedad: o hábito de pagar por fora

Não são só titulares em nome individual, porém, os envolvidos nesta rede. A Real Sociedad, clube histórico que alinha na Liga espanhola, usaria este expediente, segundo os documentos divulgados, para pagar salários aos jogadores estrangeiros sem ter de arcar com a respectiva carga fiscal.

Foi no período compreendido entre os anos 2000 e 2008 que sete dos futebolistas não espanhóis em causa receberam o vencimento através de offshores sediadas no Panamá, nas Ilhas Virgens britânicas ou em Jersey. O jornal francês L'Équipe refere, a propósito, o caso do avançado Darko Kovacevic, que na época 2006-07 só teria recebido, "oficialmente", cerca de 2000 dólares mensais, quando, na prática, embolsou 1,4 milhões nessa temporada, com o dinheiro a passar também por uma empresa holandesa.

Mas o atacante sérvio não foi o único a beneficiar deste esquema de pagamentos. 
Nihat Kahveci, Sander Westerveld, Tayfun Korkut, Valeri Karpin, Gabriel Schürrer e Mattias Asper terão recebido "tratamento" idêntico.

Numa reacção a esta notícia, o director de comunicação da Real Sociedad afirmou que o manager do clube, 
Iñaki Otegi, assinalou que esta era uma prática normal. "Utilizar empresas no estrangeiro para remunerar os jogadores estrangeiros era e é uma prática comum em todos os clubes de futebol espanhóis".

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