António Costa cita Marcelo na apresentação do Programa de Reformas

O debate está lançado e ocupará o Parlamento durante o mês de Abril. Mas Costa quer que o país se envolva no debate do que apresentou como os novos desígnios nacionais.

Foto
Costa defendeu que os problemas do país não se resolvem com choques fiscais, nem com choques de conhecimento ou de empobrecimento MIGUEL MANSO

Durante mais de meia hora, com o cenário de um power-point que lançava os temas que ia referindo e com uma sala do Centro de Congressos de Lisboa, onde estava grande parte do Governo e diversos directores-gerais e altos funcionários da administração pública, sozinho no palco, o primeiro-ministro, António Costa, apresentou as linhas gerais do que pretende que sejam algumas das medidas, metas, objectivos da sua acção governamental durante a legislatura.

Trata-se do Programa Nacional de Reformas que pretende venha a vigorar para lá da actual legislatura. “Não estamos perante um desafio para os próximos 12 meses, mas é seguramente um desafio para os próximos cinco anos, o âmbito deste programa de reformas”, garantiu Costa, referindo-se ao que apresentou como uma espécie de novos desígnios nacionais.

Com um horizonte que ultrapassa o tempo máximo de vida possível do seu Governo - o limite da actual legislatura é 2019 -, António Costa fez questão de chamar em seu apoio o próprio Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que citou por três vezes para explicar a importância das alterações que o Governo do PS quer introduzir no programa Portugal 2020, o documento base que enquadra os financiamentos comunitários a receber até ao fim da década.

António Costa quer que este debate seja participado por todos, por isso, definiu-o como “um programa do conjunto do país" para “discutir com todas as forças políticas, parceiros sociais, agentes económicos e universidades”. É com esse objectivo que levará hoje o assunto ao debate quinzenal na Assembleia da República. Na quinta-feira, será a vez de o colocar também à discussão na Comissão Permanente da Concertação Social. Tudo para dar espaço a uma discussão que o primeiro-ministro quer alargada. Ontem, porém, não houve sequer lugar a mais intervenções, nem a perguntas da comunicação social. A sessão começou com a sala cheia. Primeiro, passou um pequeno filme de dois minutos sobre o Programa, depois o primeiro-ministro foi anunciado por uma voz off, entrou no palco e usou da palavra.

Pretendendo dar um cunho nacional ao debate e frisando que deve envolver todos, até ao momento da sua entrega em Bruxelas, no fim de Abril, António Costa lembrou as palavras do Presidente da República que já na quinta-feira, dia 7 de Abril, leva o Programa Nacional de Reformas ao seu primeiro Conselho de Estado, tendo como convidado especial o governador do Banco Central Europeu, Mario Draghi.

Durante a sua intervenção, António Costa assumiu que a economia do país está estagnada desde 2001, e defendeu que “responder aos problemas estruturais do país não é compatível nem com atalhos nem com choques, porque não há choque fiscal, choque de empobrecimento ou choque de conhecimento que nos resolva os problemas estruturais”. E passou, então, a citar Marcelo Rebelo de Sousa, na comunicação que fez ao país, na segunda-feira, a propósito da promulgação do Orçamento do Estado para 2016: “A resolução dos problemas estruturais requerem, como disse ontem o senhor Presidente da República, estabilidade nas políticas, estabilidade na estratégia e estabilidade nos objectivos e perceber que só investindo ano após ano poderemos melhorar as qualificações da população, melhorar a incorporação de inovação no tecido empresarial e valorizar o nosso território”.

Na sua intervenção detalhou os objectivos dos seis pilares do Programa Nacional de Reformas com que pretende reorientar os 10,5 mil milhões de euros do Portugal 2020 e para onde pretende mobilizar outras fontes de financiamento. É o caso do Fundo Europeu para Investimentos Estratégicos (Plano Juncker) que deverá contribuir com dois mil milhões de euros para a capitalização das empresas portuguesas. Ao PÚBLICO, um membro do gabinete do primeiro-ministro clarificou que este plano inclui uma linha específica para apoiar as empresas e será "uma fonte complementar à estratégia de capitalização das empresas com vista ao fortalecimento das suas capacidades de investimento, à promoção do crescimento económico e do emprego”.

Assim, como o PÚBLICO noticiou a semana passada, as prioridades do PNR são a qualificação dos portugueses - "o maior défice que o país tem”, disse Costa -, a inovação da economia, a valorização do território, a modernização do Estado, a capitalização das empresas e o reforço da coesão e da igualdade social.

Para justificar cada uma destas prioridades, António Costa fez nove citações retiradas do relatório mais recente da Comissão Europeia. E lembrou que ao longo dos últimos 15 anos esses alertas faziam parte dos documentos de Bruxelas, Portugal é que não os leu. “O que temos lido é quando a Comissão chama a atenção para o défice e para a dívida”, disse. “Temos confundido causas com consequências e ao longo de 15 anos temo-nos mantido nesta prolongada estagnação”, acrescentou o primeiro-ministro.

Plano no Parlamento

No âmbito dos debates que se seguem sobre o Programa Nacional de Reformas, a Assembleia marcou já seis debates temáticos em plenário, que irão anteceder a discussão final do documento agendada para 27 de Abril, em conjunto com o Programa de Estabilidade, véspera da aprovação final em Conselho de Ministros. Ontem, o porta-voz da conferência de líderes, Duarte Pacheco, do PSD, anunciou, segundo a Lusa, que estes agendamentos foram pedidos pelo Governo e irão realizar-se em dois formatos diferentes: sob a fórmula de debate de urgência ou, então, nos dias em que já estavam previamente agendadas declarações políticas, o Governo intervirá sobre o tema escolhido, abrindo-se depois um período de debate.

O primeiro debate temático - em formato de declaração política do Governo, seguida de discussão - irá realizar-se a 6 de Abril e terá como tema a “qualificação dos portugueses”. A 7 será debatida a “inovação na economia portuguesa” sob a forma de debate de urgência. A 13 haverá novo debate de urgência sobre “endividamento privado e capitalização de empresas”. A 14, também como debate de urgência, é a vez da “valorização do território”. A 20 de Abril, há uma declaração do Governo sobre “justiça ao serviço da competitividade”. A 21 é a vez de um debate de urgência sobre “coesão e igualdade social”.

Sugerir correcção
Comentar