Europeus têm de confiar uns nos outros

Talvez esteja errado o que pensávamos ser este “novo” terrorismo. Há uma certeza: os europeus têm de se unir.

Não podia ter sido maior o contraste entre o que (não) foi anunciado como resultado da terceira conferência extraordinária de ministros do Interior da União Europeia dos últimos meses — convocada como resposta ao ataque terrorista em Bruxelas — e a admissão de erro pelo Governo da Bélgica, que subavaliou informação secreta passada pela Turquia sobre um suspeito.

Hoje não é possível saber o que teria sido diferente se, no Verão, a Bélgica tivesse levado a sério os alertas turcos sobre Ibrahim el-Bakraoui, um belga preso e deportado da Turquia para a Holanda em Julho, depois de ter sido detido ao pé da fronteira com a Síria. O mesmo Ibrahim el-Bakraoui que esta terça-feira se fez explodir no aeroporto de Bruxelas, matando 11 pessoas. Ancara alertou as autoridades de dois países da União Europeia — Bélgica e Holanda — mas ambos encararam o homem como um criminoso comum.

Agora que se tornou claro que os ataques de Paris e de Bruxelas estão ligados, emerge a possibilidade de estarmos perante organizações terroristas muito mais profissionalizadas e organizadas do que inicialmente pensámos. Apenas um exemplo: há quatro casas na Bélgica por onde passaram três dos terroristas do atentado de Bruxelas e, também, seis dos terroristas do atentado de Paris. É tempo de assumir que o pressuposto de que enfrentávamos um “novo” tipo de terrorismo atomizado, isolado em células autónomas e sem comunicação entre si pode estar errado. E é sobretudo tempo de assumir que está definitivamente errado o modo como a União Europeia está a responder ao terrorismo. Não há uma resposta unida e as decisões são tomadas, mas não são implementadas. Nas últimas 48 horas, o comissário Dimitris Avramopoulos disse talvez 50 vezes a mesma frase: “Os Estados-membros têm de confiar uns nos outros.” Juncker, o último dos federalistas, concorda. Mas à volta o silêncio é ensurdecedor.

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