Trump continua rei entre republicanos, Clinton deixa Sanders à beira do xeque-mate

No Partido Republicano, Marco Rubio desiste após perder no seu estado da Florida e John Kasich recebe uma nova vida ao vencer no seu Ohio. No Partido Democrata, a vantagem de Hillary Clinton começa a ser muito difícil de reverter.

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Hillary Clinton Carlos Barria/Reuters
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Bernie Sanders Nancy Wiechec/Reuters
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Donald Trump Joe Skipper/Reuters
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Ted Cruz Reuters
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John Kasich Aaron Josefczyk/Reuters
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Marco Rubio Carlo Allegri/Reuters

Ainda faltam três meses para o final das primárias nos Estados Unidos, mas só uma contra-revolução no Partido Republicano e pouco menos do que um milagre no Partido Democrata podem evitar que Donald Trump e Hillary Clinton sejam os nomes mais votados para a batalha final pela Casa Branca.

O magnata do imobiliário teve mais um dia demolidor na segunda Super Terça-feira deste ano, com votações em cinco estados: Florida, Illinois, Missuri, Carolina do Norte e Ohio. Em dois deles (na Florida e no Ohio), o candidato mais votado no Partido Republicano levava para casa todos os delegados em jogo, ao contrário do que tinha acontecido até agora, em que os delegados foram sendo distribuídos de forma proporcional.

No lado do Partido Reublicano, Donald Trump venceu em quatro estados, incluindo na Florida, e John Kasich ganhou no Ohio; no lado do Partido Democrata, Hillary Clinton bateu o seu único adversário, o senador Bernie Sanders, em todos os cinco estados.

As votações mais disputadas tiveram lugar no Missuri, onde Trump foi considerado o vencedor com uma diferença de apenas 1726 votos em relação a Ted Cruz, e Clinton bateu Bernie Sanders por uma margem ainda menor: 1531. Em ambos os casos é possível que os responsáveis dos partidos no estado façam uma recontagem, mas 24 horas depois do fecho das urnas ainda ninguém sabia o que vai acontecer.

O Partido Democrata teve primárias nos mesmos cinco estados, mas todos os delegados foram distribuídos pelos dois candidatos de forma proporcional (ao contrário do Partido Republicano, o Partido Democrata não tem nenhuma votação no formato conhecido como winner-takes-all).

Ao todo – e antes da contagem no Missuri –, Hillary Clinton já amealhou 1132 delegados e Bernie Sanders 818, sendo necessários 2383 para garantir a nomeação. O problema para Bernie Sanders é que aos 1132 delegados de Clinton é preciso somar a esmagadora maioria das intenções de voto dos 717 superdelegados – homens e mulheres com cargos no Partido Democrata que podem votar como bem entenderem na convenção do partido, marcada para finais de Julho. Mais de 400 deles já disseram que vão votar em Clinton.

Rubio desiste
Este foi o dia mais importante até agora no calendário das primárias, porque poderia esclarecer algumas dúvidas que ainda subsistiam
por exemplo, se Marco Rubio podia enganar as sondagens e arrancar uma vitória no estado que o elegeu senador, a Florida, e assim continuar mais tempo na corrida; e se Bernie Sanders podia continuar a deixar Hillary Clinton em sentido.

Mas nenhum dos dois cenários se concretizou. O senador da Florida, Marco Rubio, foi atropelado por Donald Trump no seu próprio estado (46% contra 27%) e anunciou o que já todos esperavam: deitou a toalha ao chão e suspendeu a sua campanha, reduzindo a luta a três opositores: Donald Trump; o senador do Texas, Ted Cruz; e o governador do Ohio, John Kasich.

Bernie Sanders, o senador que concorre pelo Partido Democrata com um discurso mais progressista, teve derrotas esperadas nos estados da Florida e da Carolina do Norte, mas perdeu também no Ohio, no Illinois e – se os resultados preliminares o confirmarem – também no Missuri, onde a sua esperança era repetir a surpresa do dia 11 de Março no Michigan.

O problema para Sanders começa a ser a matemática – mesmo que vença todas as primárias e caucus (assembleias) do Partido Democrata a partir de agora, o facto de não haver estados que atribuam todos os seus delegados ao vencedor; a pouca probabilidade de essas possíveis vitórias serem todas por margens muito, muito grandes; e o apoio declarado da esmagadora maioria dos superdelegados faz com que a vantagem de Hillary Clinton seja praticamente impossível de desfazer.

Ainda assim, o senador do Vermont deverá lutar até ao fim – quanto mais não seja, vai manter-se até à convenção, em Julho, para garantir que muitas das suas ideias mais à esquerda sejam adoptadas pelo establishment do Partido Democrata.

Partido Republicano dividido
No lado do Partido Republicano, Donald Trump continua a fazer a sua caminhada para acabar a corrida com mais delegados do que qualquer dos outros adversários (agora já sem Marco Rubio), mas ainda não é certo que consiga os 1237 necessários até ao final – numa situação normal, o candidato que conseguisse esses 1237 delegados acabaria por ser nomeado na convenção, numa espécie de coroação, mas o ambiente de guerra civil no Partido Republicano indica que desta vez as coisas podem funcionar de outra forma.

Mas antes de se chegar a esse ponto, Trump vai continuando a amealhar delegados e a distanciar-se na liderança. Venceu na Florida (ficando com os 99 delegados em jogo), na Carolina do Norte, no Illinois e – se os resultados preliminares o confirmarem – também no Missuri. Antes da contagem final neste estado, o magnata tinha 646 delegados, Ted Cruz tem 397 e John Kasich 142.

Kasich com novo fôlego
Uma das principais notícias da noite foi a vitória do governador John Kasich no seu Ohio, o outro estado (para além da Florida) que deu todos os delegados ao vencedor no Partido Republicano – neste caso, 66. Mais do que a soma de delegados, a vitória de Kasich foi a sua salvação para continuar na corrida, já que uma derrota no seu estado deveria levá-lo até à porta de saída, tal como aconteceu com Marco Rubio na Florida.

Depois desta Super Terça-feira parte II (a primeira Super Terça-feira foi a 1 de Março), a questão fica praticamente resolvida no Partido Democrata, com a confirmação de que Hillary Clinton era mesmo a favorita, mas a luta no Partido Republicano poderá continuar até à convenção, em Julho.

Já sem Marco Rubio na corrida, o governador John Kasich passa a ser o candidato preferido do chamado establishment (a ala mais tradicional) e o senador Ted Cruz continua a ser um farol para os ultraconservadores e evangélicos, e a mostrar bons resultados em muitos estados.

Em último caso, se nenhum dos candidatos alcançar o mínimo de 1237 delegados, a convenção pode vir a ser uma batalha campal, com lutas para convencer delegados a mudarem o sentido de voto para que Donald Trump não seja o nomeado. E, para além de Ted Cruz e John Kasich (que espera receber a maioria dos delegados conquistados por Marco Rubio), pode surgir ainda uma outra figura na convenção, mais consensual, para tentar unir o partido contra o magnata do imobiliário.

Este cenário o de uma convenção disputada pode ser benéfico para o Partido Republicano a longo prazo se o objectivo for voltar a unir o partido para outras eleições, principalmente para o Congresso; mas pode também aumentar as hipóteses de Hillary Clinton, já que Donald Trump e os seus apoiantes sentir-se-iam traídos e, no mínimo, muitos deles ficariam em casa no dia das eleições gerais para não terem de votar no nomeado oficial. 

Como o Partido Republicano abriu a porta ao elefante que tem na sala

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