A carreira de Nuno Gama deu um filme, que é “um striptease” e “quase um exorcismo”

A ModaLisboa encerrou a noite no CCB com um filme em vez de um desfile. Balanço de "50 anos, 50 colecções, 30 anos de trabalho, 25 anos de ModaLisboa”.

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Nuno Gama na sua loja no Príncipe Real PEDRO CUNHA
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Da colecção apresentada em Outubro de 2006 MIGUEL MADEIRA
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Ricardo Carriço desfila para Nuno Gama em Outubro de 2015 na ModaLisboa BRUNO LISITA
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Desfile no Terreiro do Paço em Março de 2014 MIGUEL MANSO
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Sapatos desenhados por Nuno Gama SANDRA RIBEIRO
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Um desfile de Nuno Gama na ModaLisboa de 1998 DULCE FERNANDES
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Nuno Gama e Claudia Schiffer em Setembro de 1996 no Portugal Fashion FERNANDO VELUDO
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37ª ModaLisboa, em Outubro de 2011 MIGUEL MANSO

Dado adquirido da ModaLisboa: o desfile de Nuno Gama será um acontecimento, uma memória por uma actuação, pelos símbolos de vestuário, pelos animais, encenação ou testosterona que lhes aplica. Na edição do ano em que se cumpre o 25.º aniversário do evento e o 50.º aniversário do designer, Nuno Gama teve uma ausência e uma presença: não fez um desfile, mas apresentou um filme no Centro Cultural de Belém, “um striptease”, “quase um exorcismo”.

Cinquenta minutos para 50 anos, realizados por Gonçalo Paixão e Vasco Sança, “quase um exorcismo meu, mexer na minha própria vida, lavar a roupa, estendê-la e voltar a arrumá-la”, como descreveu aos jornalistas. Quando, no final de uma sessão que quase encheu o Grande Auditório e, apesar de um atraso de cerca de uma hora, foi entusiasticamente aplaudido, estava emocionado. Enumerou, no palco, “50 anos, 50 colecções, 30 anos de trabalho, 25 anos de ModaLisboa”, o motivo pelo qual decidiu mostrar vestuário no ecrã, imagens com grão e produções de moda lustrosas, a criança da Arrábida e o designer com loja, barbearia e alfaiataria no Príncipe Real lisboeta.

Uma história oral de 25 anos de moda (Lisboa) em Portugal

Cumpre 50 anos a 22 de Abril e será então que vai mostrar a colecção Heterónimos, da qual foi apenas feito um teaser no excerto final do filme. Não fazer um desfile foi “um risco”, sim, mas haverá apresentação dentro de um mês. Do Inverno 2017 de Nuno Gama - serão “os meus heterónimos, os heterónimos da cultura portuguesa e até um pouco os heterónimos pessoanos”, numa altura em que está no prelo um livro sobre a sua carreira com textos de Cristina L. Duarte e editado pela Uzina Books, bem como planos para uma exposição e para divulgar o filme que foi mostrado aos seus convidados e aos da 46.ª ModaLisboa.

Rui Pregal da Cunha, Ricardo Carriço, José Fidalgo, Jonathan Sampaio, Pedro Barroso ou Júlio Quaresma são alguns dos seus clientes, amigos ou modelos que ajudam a contar a história de 50 anos de Nuno Gama e 23 anos de marca. O trabalho dos motivos da portugalidade, as imagens dos anos 1980 e 1990 com manequins como Claudia Schiffer ou Mark Vanderloo (1995/1996) no então recém-nascido Portugal Fashion, o incêndio do edifício onde tinha todo o seu trabalho, o trauma de um arquivo em parte irrecuperável. Nesse dia de Outubro de 1998, o fogo na Rua do Almada, na Baixa do Porto, deitou-lhe por terra a empresa, as lojas, e foi o começo, diz no filme, da sua “travessia do deserto”. Depois, colaborou com a Maconde e voltou à ModaLisboa como espectador, só “em 1999, 2000”, e ganha ânimo para regressar à passerelle. “Como sénior”, frisa Eduarda Abbondanza, presidente da Associação ModaLisboa, sobre o até aí “jovem” designer que, no início do filme da sua vida, recorda a persistência de uma das primeiras peças que desenhou, “uma camisa azul de risquinhas brancas”, ou uma versão dela, no seu trabalho ao longo das décadas.

 “O que define o desfile do Nuno Gama é o espectáculo”, postula Tó Romano, ex-modelo e director da agência Central Models. “Junta mais ingredientes do que só a moda, é muito apoteótico no seu pensamento”, acrescenta Abbondanza. Dança, aves, cães, cavalos e a GNR em peso no Terreiro do Paço, actuações na Torre de Belém, homens musculados em ambiente de ginásio, Camões, um filme no CCB. “Não faço isso pelo espectáculo, não tem a ver com o espectáculo”, enfatiza Nuno Gama, “tem a ver com todos, as pessoas que estão a assistir, a ModaLisboa, o país. O espectáculo somos todos nós”.

Já desenhou para mulheres e homens, mas seguiu pelo rumo masculino há muitos anos. Diz não querer “correr o risco de deixar a marca envelhecer” e identifica a sua “fórmula” de “ser português”. Quer fazer perfumes, relógios, voltar aos palcos internacionais. “Criar desejo, curiosidade”.

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