Oposição síria vai a Genebra mas acusa regime de preparar reforço dos ataques

Nos últimos dias, as forças de Bashar al-Assad e a aviação russa têm tentado reconquistar a cidade histórica de Palmira, aproveitando um intervalo conturbado nos combates com a oposição mais moderada.

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A guerra na Síria começou há cinco anos e já fez entre 250 mil e 470 mil mortos SAMEER AL-DOUMY/AFP

Os representantes da oposição síria confirmaram esta sexta-feira que vão participar nas negociações da próxima semana, em Genebra, num sinal de que o acordo para abrandar os combates está a aguentar-se o suficiente para não matar à nascença a esperança de diálogo. Apesar deste passo positivo, os grupos anti-Assad mais moderados acusam o regime de estar apenas a aproveitar este tempo para ganhar fôlego e lançar uma ofensiva em larga escala.

O grupo de opositores, que representa várias facções anti-Assad e que se apresenta como Comissão de Negociações de Alto Nível, fez saber que vai estar em Genebra como prova do seu "empenho nos esforços internacionais para estancar o derramamento de sangue sírio e para encontrar uma solução política".

Ainda assim, os opositores já baixaram as expectativas, pela voz do seu coordenador nas negociações, Riad Hijab. "Nós sabemos que eles [o Governo sírio] estão a cometer crimes, e que estão a preparar um reforço dos ataques aéreos e terrestres nos próximos tempos", disse o responsável, citado pela agência Reuters.

Espera-se que o Governo de Bashar al-Assad também esteja representado em Genebra na próxima semana, mas a resposta oficial só será conhecida este sábado.

Esta ronda de conversações, mediada pelas Nações Unidas, vai começar na semana que marca o quinto ano da guerra na Síria – um conflito que já fez entre 250 mil e 470 mil mortos, segundo os números da ONU e do Centro de Investigação de Políticas da Síria.

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Esta abertura ao diálogo foi possível devido a uma frágil trégua de duas semanas, que travou os combates em larga escala entre as forças de Bashar al-Assad e os grupos da oposição mais moderados. De fora desta cessação de hostilidades, com inúmeras excepções e vários mortos, ficaram as forças jihadistas do autodesignado Estado Islâmico e da Frente al-Nusra, o braço sírio da Al-Qaeda.

E é precisamente contra o Estado Islâmico que as forças de Bashar al-Assad e os seus aliados russos têm apontado baterias nos últimos dias, no que parece ser o início de uma tentativa para recuperar a cidade histórica de Palmira aos jihadistas.

Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, a força aérea russa tem bombardeado Palmira várias vezes desde quarta-feira, e as forças do Governo de Bashar al-Assad foram vistas a combater o Estado Islâmico a cerca de sete quilómetros da cidade.

A cidade histórica de Palmira foi capturada pelos jihadistas em Maio do ano passado, num dos golpes mais marcantes infligidos ao regime sírio. Nos meses que se seguiram, os combatentes do Estado Islâmico executaram várias pessoas e destruíram muito do património cultural da cidade, em acções que a UNESCO descreve como crimes de guerra.

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Mas a cessação de hostilidades ainda não convenceu ninguém de que será possível chegar-se a uma solução pacífica para a situação na Síria nos próximos tempos. Um dos mais destacados dissidentes, Haytham Manna, do Conselho Democrático Sírio, já disse que não vai a Genebra e descreveu as conversações como "um projecto falhado".

Esta é a tentativa mais séria em dois anos para pôr fim ao conflito na Síria, mas as condições das duas partes mantêm-se praticamente inalteradas. Tal como em 2014, Bashar al-Assad continua a dizer que o seu objectivo principal é destruir o que descreve como grupos terroristas (uma designação que inclui tanto o Estado Islâmico e a Frente al-Nusra como grupos que começaram por se manifestar pacificamente contra o regime); e os grupos da oposição que aceitam sentar-se à mesa de negociações exigem a saída de cena do ainda Presidente sírio.

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