Encerramento da Rota dos Balcãs não resolve nada, critica Merkel

Chanceler defende resposta “a 28” para a crise migratória, apesar da decisão unilateral a favorecer "em casa".

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A situação humanitária em Idomeni, onde começou a chover, é deplorável Stoyan Nenov/Reuters

O encerramento da Rota das Balcãs vai fazer diminuir o fluxo de refugiados que entram na Alemanha, o que favorece politicamente a chanceler Angela Merkel. Esta, porém, voltou a condenar a decisão “unilateral” de alguns países, considerando que fechar as fronteiras não resolve o problema migratório na Europa. Apenas a solução negociada com a Turquia pode ter efeitos duradouros, afirmou.

“A Grécia não suportará durante muito mais tempo o peso [do fluxo migratório] e as decisões unilaterais não resolvem o problema”, disse a chanceler alemã que, numa entrevista à rádio pública MDR, defendeu uma “solução a 28” para o problema.

Na cimeira de segunda-feira - que se prolongou pelas primeiras horas de terça -, a União Europeia aceitou “em princípio” uma proposta da Turquia que visa impedir a chegada às fronteiras europeias de refugiados e imigrantes económicos. Ficou estabelecido - mas não decidido, o tema volta a ser discutido em nova cimeira, a 17 e 18 de Março - que a Turquia está disponível para receber de volta migrantes que cheguem à Grécia mal o acordo seja aprovado, incluindo refugiados sírios.

Citado pela AFP, o ministro turco dos Assuntos Europeus, Volkan Bozkir, esclareceu ontem que o seu país readmitirá “dezenas de milhares” de pessoas, “não centenas de milhares ou milhões”, e que não serão incluídos no acordo os que já estão nas ilhas gregas, apenas os que lá chegarem quando (e se) o acordo - que dará mais dinheiro a Ancara e relançará o processo de negociações para a adesão do país à UE - entrar em vigor.

A possibilidade de expulsão de migrantes considerados ilegais (não registados) já foi considerada ilegal pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para as Migrações. Mas é nesta solução UE/Turquia que a chanceler aposta, e não na fragmentação das decisões, apesar de membros do seu Governo já terem admitido que o encerramento da Rota das Balcãs - que leva os que chegam à Grécia, oriundos da Turquia, ao centro da Europa - será benéfico para a Alemanha.

Angela Merkel, que apostou numa política de portas abertas - no ano passado entraram na Alemanha 1,1 milhões de pessoas -, viu a sua decisão ser criticada e a coligação que lidera teme ser castigada por isso nas urnas. Este domingo há eleições em três dos 16 estados federados alemães, e as sondagens não lhe antecipam bons resultados.

Assim, ao mesmo tempo que Merkel condena decisões unilaterais e o seu ministro do Interior, Thomas de Maizière, também exige decisões “duradouras” e não pontuais como o encerramento de fronteiras, o vice-chanceler, Sigmar Gabriel, disse numa entrevista que os países que fecharam a Rota das Balcãs estão a poupar à Alemanha decisões impopulares. Eslovénia, Croácia, Sérvia e Macedónia estão “a fazer o trabalho sujo em vez da Alemanha”, disse o dirigente do Partido Social Democrata (SPD).

Este encerramento, que deixou na Grécia dezenas de milhares de pessoas que querem prosseguir caminho - a Alemanha é o destino preferido da maioria -, foi também criticado pelo primeiro-ministro de Atenas, Alexis Tsipras. “A União Europeia não tem qualquer futuro se continua assim”, disse Tsipras no Twitter.

No terreno, a situação piora e na Grécia estão já 41.973 pessoas, das quais cerca de 15 mil em Idomeni (fronteira com a Macedónia). Vivem em condições deploráveis, segundo as organizações não-governamentais que lhes prestam apoio, e o número vai aumentar. Só na quarta-feira a rota Turquia-Grécia foi atravessada por mais 2373 pessoas, que chegaram às ilhas de Lesbos e Kos. Uma embarcação virou-se, ainda perto da Turquia, e cinco pessoas afogaram-se, uma delas um bebé, relata a agência turca Dogan.

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