Polícia macedónia usa gás lacrimogéneo contra migrantes

Um grupo de pessoas forçou parte da vedação entre a Grécia e a Macedónia em Idomeni, onde há milhares de pessoas, por causa do encerramento das fronteiras nos Balcãs. "A Grécia não pode mergulhar no caos", avisa Merkel.

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Há muitas crianças entre as pessoas que estão na fronteira da Grécia com a Macedónia, e foram atingidas pelo gás lacrimogéneo LOUISA GOULIAMAKI/AFP
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Entre os refugiados bloqueados em Idomeni, pelo menos 40% são mulheres e crianças^, dizem os Médicos do Mundo LOUISA GOULIAMAKI
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Momento em que alguns migrantes conseguiram derrubar uma vedação LOUISA GOULIAMAKI/AFP
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Migrantes derrubaram uma barreira da fronteira entre a Grécia e a Macedónia Alexandros Avramidis/REUTERS
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A polícia contra-atacou com gás lacrimogéneo LOUISA GOULIAMAKI/AFP
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Refugiados bloqueados na fronteira da Grécia com a Macedónia forçam comboio a parar LOUISA GOULIAMAKI/AFP
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Junto ao posto fronteiriço de Idomeni já nasceu um acampamento de refugiados LOUISA GOULIAMAKI/AFP
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Cerca de 8000 refugiados acumulam-se há vários dias na fronteira da Grécia com a Macedónia em Idomeni, impedidos de seguir caminho, sem saberem bem porquê. Esta manhã, um grupo de homens conseguiu derrubar parte da vedação com arame farpado que cortava o caminho – mas do lado de lá estava a polícia de choque macedónia, que respondeu com grandes quantidades de gás lacrimogéneo.

Pelo menos 40% das pessoas que estão em Idomeni são mulheres e crianças, disse à AFP Viki Markolefa, responsável dos Médicos do Mundo. Muitas foram apanhadas na confusão, ficaram sem respirar por causa do gás lacrimogéneo. As fotos das agências de notícias internacionais mostram crianças pequenas, mulheres idosas que parecem vestir toda a roupa que trazem contra o frio, e um grande lenço na cabeça, prostradas no chão, numa valeta, a chorar, com dificuldades de respiração.

A impaciência com o facto de as autoridades não terem deixado passar ninguém no domingo, e nesta segunda-feira terem aberto as portas para apenas 300 pessoas, causou este incidente. Na origem de tudo isto está a política concertada adoptada pela Áustria com nove outras nações da rota dos Balcãs de deixar entrar apenas um número muito reduzido de refugiados – pessoas que fogem da guerra na Síria e no Iraque – e de cerrar as fronteiras definitivamente para todos os outros, como os que vêm do Afeganistão.

"Ninguém nos explica porque é não podemos atravessar [a fronteira]. É muito difícil ficar aqui, não há sítio para dormir, nem comida e não posso regressar a Alepo", disse à AFP Abdaljalil, um sírio de 22 anos. Quem não tiver documentos em ordem também é barrado na fronteira.

A manter-se esta política – aplicada à revelia da Comissão Europeia e da Grécia – o Governo de Atenas avisou que o número de pessoas bloqueadas na Grécia pode triplicar em Março, para chegar aos 70 mil. Só na última semana, 22 mil refugiados ficaram bloqueados na Grécia, sem poder seguir caminho para a Alemanha ou outros países do Norte da Europa.

Num claro aviso aos seus parceiros europeus que estão a tomar medidas unilaterais, a chanceler alemã avisou que a União Europeia não pode deixar a Grécia “mergulhar no caos”. “Será possível acreditar que os países tenham lutado até ao fim para manter a Grécia no euro (…), para, um ano mais tarde, deixarmos a Grécia mergulhar no caos?”, perguntou Angela Merkel, indignada, numa entrevista à televisão pública ARD.

“O meu dever e a minha obrigação é garantir que esta Europa encontra um caminho conjunto” para enfrentar a crise migratória, lançou Merkel, sublinhando que mantém contactos regulares com o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras. "Não tenho nenhum plano B." Para 7 de Março está marcada uma cimeira UE-Turquia que se prevê de difícil consenso entre os cada vez mais divididos Vinte e Oito.

A situação vai ainda agravar-se, depois de a Eslovénia e a Croácia, membros da União Europeia, mas também a Sérvia e a Macedónia terem anunciado que vão limitar a 580 o número diário de homens, mulheres e crianças que podem transitar para os países do Norte da Europa.

Yiannis Mouzalas, ministro grego da Imigração, disse à televisão Mega Channel esperar que cheguem menos pessoas ao seu país à medida que a informação sobre as novas restrições chegar à Turquia, de onde parte a maioria dos migrantes. “O fluxo vai diminuir quando as notícias do encerramento do posto fronteiriço de Idomeni forem difundidas. Estamos a preparar uma campanha de informação destinada à Turquia.”

O ministro espera que esta iniciativa, juntamente com a chegada prevista de navios da NATO ao mar Egeu, reduza o número de chegadas à Grécia em cerca de 70%.

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